XVI

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Ano 545 — Cemitério das Águas turvas

— Vi pelo reflexo da água, se não parássemos, o navio já teria afundado — Zoe terminou sua explicação.

— Eu sabia que você seria a mais indicada para a missão — They comentou.

— Mas, agora temos que descobrir como atravessar esse campo minado de  pedregulhos marítimos — Fergus declarou esparramado numa cadeira.

— Sentem-se — Zoe ofereceu, também se sentando.

Theirry notou o quanto ela parecia cansada, provavelmente o susto de quase perder a vida de tantas pessoas deve tê-la afetado.

— Existe algum relato de que alguém já tenha passado por esse lugar? — Kai perguntou.

— Nada registrado — Fergus respondeu.

— O que seria o cemitério das águas turvas? — They quis saber. 

— Primeiramente — Nínive se colocou a explicar —, existem as pedras. Essa região é formada por uma cordilheira quase submersa de muitas pedras.

— Qualquer aproximação pode romper o casco do navio — Fergus acrescentou.

— Acrescentado a isso, existe uma substância nessas águas. — Nínive comentou pensativa.

— É uma alga —  Zoe olhava o pôr do sol. — Ela causa uma maré vermelha. Isso impede que vejamos as pedras.

— Interessante — They estava concentradíssimo na explicação. 
— Então, precisamos dar um jeito de passar pelas pedras sem vê-las? — Fergus perguntou.

— Isso é correr riscos demais, Fergus — contrapôs Nínive.

— A questão é que temos mais um problema — Fergus argumentou. — Aqui é muito cheio de pedras, mas não há espumas que as ondas formam.

— Aqui não possui ondas — They comentou confuso.

— Exatamente!  — Fergus suspirou após o desabafo esfuziante.

— Como você viu a pedra que te fez parar? — Kai também perguntou para Zoe.

Nínive tinha começado a ficar surpresa com o fato dele não estar calado, mas foi quando ela lembrou que estavam entre as pessoas mais importantes do navio. Isso a fez revirar os olhos, irritada.  

— O sol — a capitã se colocou a explicar —, ele fez a pedra realçar. Aqui a concentração das algas ainda não é grande, o mar não está turvo, por isso não me preocupei com as pedras.
Theirry sentiu um pouco de culpa na fala da capitã, isso o incomodou, ela tinha sido rápida, nada tinha acontecido; além disso aquele não era um mar mapeado, era como andar no escuro.

— Você foi rápida o bastante, graças ao sangue escorrido no madeiro, nada aconteceu! — Kai a consolou, recebendo um sorriso grato em resposta.

Satisfeito com o consolo que o melhor amigo apresentou a capitã, They se juntou aos outros para tentarem encontrar uma solução para o problema que tinham diante de si.

O silêncio reinou no cômodo, o único som que se ouvia era o leve balançar do mar. O barulho que havia no convés com a preparação da primeira festa a bordo, não alcançava o quarto de Zoe.

Volitar das águasOnde histórias criam vida. Descubra agora