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Na manhã seguinte eu acordei nos braços de Payton, o garoto dormia tranquilamente. Observei seu rosto e não evitei de sorrir, era fofo ver ele dormindo.

— Payton, acorda. — Sentei-me na cama. — Acorda logo.

— Não, me deixa dormir. — Ele virou para o lado e voltou a dormir.

— Eu vou sair, tá bom?

Como não houve respostas, apenas saí da lancha e fui pegar um pouco de ar.
Enquanto eu estava indo para a cachoeira encontrei algumas frutas pelo caminho, fui pegando as mesmas para nós comer depois.

Às vezes eu me pergunto se eu só sinto atração física ou sexual por ele, ou se eu realmente gosto dele. Mas acho que eu estou confusa, até porque ele é o único garoto que eu estou convivendo agora... E eu namoro. Não posso e nem quero gostar de outro homem, mas as vezes me bate essa dúvida.

— Por que tudo tem que ser tão complicado? — Comecei a falar sozinha enquanto caminhava até a cachoeira. — Eu odeio ficar aqui. — Cruzei os braços e chutei um coco que estava no chão. — Ai, tadinho. — Fui até o coco e peguei ele na mão. — Desculpa por ter chutado você, eu não queria. É que tudo está tão complicado. — Sentei-me no chão e coloquei o coco na minha frente. — Sabe, a gente pode ser amigos, não acha? — Fiquei a espera de uma resposta, mas ele me ignorou. — Claro que você ia me dar vácuo, você é um coco! Cocos não falam. — Suspirei. — Mas é bom ter um amigo.

Tenho que dar um nome para ele... Rosnaldo! O nome dele vai ser Rosnaldo.

— Falando sozinha, Julinha? — Payton brotou do além me dando um susto. Coloquei a mão no peito e fechei os olhos.

— Você quer me matar? — Olhei para ele, que estava quase se afogando de tanto rir. — Está rindo do quê?

— De você. — Continuou rindo igual um retardado. — Está falando com um coco.

— Qual é o problema?

— Você tem problemas.

— Eu estava desabafando com ele. Me respeita. — Olhei para o coco de volta. — Não liga para ele, Rosnaldo. Ele é um babaca.

— Rosnaldo? — Começou a rir novamente.

— Sim. — Olhei sério para Payton. — O nome dele é Rosnaldo.

— Você ficou louca de vez. — Ele parou de rir e se sentou ao meu lado.

— Olha. — Entreguei Rosnaldo para ele. — Conversa com ele.

— Eu não vou falar com um coco.

— Conversa, você vai se sentir melhor. — Eu disse me levantando e deixando eles a sós.
Talvez eu esteja ficando louca nessa ilha, mas é bom conversar com alguém ou algo diferente.

Enquanto Payton conversava com Rosnaldo fui até a cachoeira e tirei minha roupa para tomar banho.

[...]

— Onde você colocou o Rosnaldo? — Perguntei enquanto caminhava ao lado de Payton.

— Deixei ele no mesmo lugar.

— Pode ir para a lancha, eu vou lá pegar ele. — Eu disse mudando o caminho e Payton deu os ombros seguindo o caminho.

Eu gostava de ter um coco e poder chamar ele de Rosnaldo, no início foi mais na brincadeira, mas agora eu queria proteger ele de qualquer coisa e cuidar dele como se fosse meu cachorrinho de estimação.

Essa ilha faz a cabeça das pessoas.

Eu estava em busca do Rosnaldinho até que vejo o mesmo sendo devorado por um menino, olhei para os lados e o primeiro galho que vi pela frente peguei na mão.

— Fica longe do Rosnaldo! — Gritei acertando o menino que estava de costas. O mesmo não teve reação na hora e caiu no chão, provavelmente desmaiou. — Rosnaldo... — Fui até ele e peguei em meus braços. — Desculpa por não ter te protegido. — Ele estava repartido ao meio. — Isso tudo é culpa do Payton, né? Ele te deixou aqui sozinho.

Antes de eu sair, olhei para o garoto que aparentava ter a minha idade. Ele era bonito, seus cabelos preto tinham pequenos cachos não definidos e seu maxilar era bem marcado. Usava tênis de marca, um calção preto e longe de mim olhar a cueca dele, mas era branca da Calvin Klein, e ele estava sem camisa.

— Uau. — Digo a mim mesma analisando aquele corpinho. — Bem delicinha você.

Eu não poderia deixar ele ali sozinho jogado no chão, precisava fazer algo até porque eu atingi ele.

Peguei Rosnaldo que estava nas mãos do menino e deixei ele em um cantinho.

O que será que eu vou dizer para Payton? O que garoto vai pensar? O que eu vou fazer agora?

Muitas perguntas estavam surgindo na minha cabeça no momento. Fiquei sentada ao lado do menino esperando ele acordar e nada. Ele não mexeu um músculo e já estava escurecendo.

Será que eu matei ele sem querer?

Se eu não voltar o quanto antes, Payton vai vir atrás de mim e achar o garoto. Sem muita opção tive que sair e deixar o garoto lá jogado, agora é só torcer para Payton não ver ele.

— Demorou. — Ele disse assim que entrei na lancha.

— É, eu estava achando o Rosnaldo. — Inventei uma desculpa.

— E onde ele está?

— Comi ele. Eu estava com fome e comi.

— Ah, entendi. Mas não fica triste. — Ele trouxe um melão até mim. — Esse é o Cleitinho.

— O melão? Oi, Cleitinho. — Peguei ele na mão. — Vamos deixar ele aqui. — Coloquei ele em cima da mesa.

— Está tudo bem?

— Por que não estaria?

— Você está meio estranha.

— Impressão sua.

A noite chegou e com ela os pensamentos. Eu não conseguia dormir. Não parava de pensar naquele menino, estava frio esta noite. Ele provavelmente está passando frio e talvez esteja assustado.

Teve uma hora que eu consegui adormecer, mas acordei no meio da noite ainda um pouco sonolenta. Olhei para Payton e ele estava com toda a coberta. Abusado.

Fui até a cozinha e bebi um pouco de água que estava na garrafa e voltei tremendo de frio até a cama.

— Payton. — Chamei-o e ele fez "hum" quase dormindo de volta. — Você está com toda a coberta.

— Vem aqui. — Ele pegou minha mão e me levou até ele, fazendo conchinha e cobrindo nós dois. — Dorme bem, querida.

— Boa noite. — Eu disse dando um beijinho na palma de sua mão que me abraçava.

Quando eu estava quase dormindo ouvi um barrulho. Na hora pensei que poderia ser aquele menino, mas eu não tinha certeza, e se for ele? Eu até ia lá fora ver, mas a minha preguiça era maior, então eu dormi mesmo.

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