A Ilha

19

Na manhã seguinte acordei pensando no menino, que até agora não sei o nome, então vou chamar ele de Tarzan.

Não seria novidade se eu falasse que sonhei com o Tarzan, aquele menino é muito bonito, eu preciso ir atrás dele.

Será que eu conto para Payton?

Eu ainda estava deitada na cama de olhos fechados eu pretendia dormir de volta, mas Payton começou a suspirar e se mexer na cama.

— Pode parar? — Pedi.

— Chata.

— Você que é, fica toda hora bufando igual um touro emburrado. Eu tenho culpa desse mal humor todo?

— Tem. — Ele disse. — Eu não consegui dormir a noite porque você ficava me dando chutes de madrugada.

— Por que não me acordou? — Me levantei da cama e comecei a colocar roupa.

— Eu tentei, mas recebi um soco.

— Ah, me desculpa, eu não fiz de propósito. — Eu disse indo até ele e depositando um beijinho em seu rosto. — Vai fazer o que agora?

— Se você continuar me olhando desse jeito, vou te comer de quatro em cima dessa mesa.

— E por que não faz isso agora? — Provoquei, mesmo sabendo que não iria fazer nada no final, eu só queria incomodar ele.

— Você quer que eu faça? — Ele se aproximou lentamente, sua mão foi de encontro ao meu cabelo e o puxou de leve, fazendo minha cabeça ir para trás, assim ficando com acesso livre ao meu pescoço. Eu engoli em seco e fiquei nervosa com seu toque, mas o que estava acontecendo comigo? Meu corpo nunca tinha reagido dessa forma com Payton por perto. Eu estava nervosa perto dele?

— Calma. — Eu disse e me afastei. — Agora eu não estou muito afim. — Inventei uma desculpa plausível. — Vou dar uma volta.

— Espera, eu vou junto.

— Não, não precisa.

— Tudo bem, só não vai muito longe.

Claro que eu ia dar uma volta, não foi apenas uma desculpa. Eu queria dar para Payton, queria que ele me comesse até de cabeça para baixo, mas agora parecia que eu estava nervosa, meio que sem jeito perto dele, como se eu fosse dar o meu primeiro beijo. Por que eu estou assim? É só o Payton babaca de sempre.

De repente me lembrei do Tarzan.

— Menino? — Fiquei chamando por ele. — Se você estiver me ouvindo pode aparecer para mim. — Fiquei a espera de uma resposta, mas não recebi nenhuma. Acho que ele nem me ouviu.

Revirei os olhos e segui em frente em busca do Tarzan, eu queria conversar com ele, saber o que ele estava fazendo aqui e como chegou.
Se eu não achar ele, vou falar com Payton e talvez ele me ajude achar o menino.

— Quem é você? — Ouvi uma voz.

— Tarzan? — Me virei para trás vendo o garoto meio escondido atrás de uma árvore. — Quer dizer, menino.

Será que ele ouviu eu chamar ele de Tarzan?

— Não sou o Tarzan. — Ele riu, mas logo ficou sério. — Quem é você? — Perguntou novamente.

— Calma. — Me aproximei dele. — Você pode me chamar de Julia. Qual é seu nome?

— Jaden.

O bonitão tem nome.

— Então, Jaden, me desculpa por ter te machucado, eu não queria ter feito aquilo.

Queria sim, ele atacou o Rosnaldo, mas depois eu vi que o assassino do Rosnaldo era gostoso e me arrependi.

— Ah, tudo bem. — Ele me olhou desconfiado.

— É sério. — Estendi a mão para ele. — Amigos?

— Amigos. — Pegou minha mão e levou até seus braços, me dando um abraço. Nem dei intimidade para ele.

— É... — Me afastei dele. — Quanto tempo você está aqui?

— Dois dias.

— Ah, tem onde ficar? — Perguntei.

— Não, e faz quanto tempo que você está aqui?

— Umas duas semanas por aí.

— Sério? — Arregalou os olhos. — Não passa ninguém aqui?

— Não, mas agora você tem eu e Payton.

— Payton?

— Ah sim, esqueci de falar dele. Ele é meu amigo.

— E onde vocês ficam?

— Na lancha dos meus pais que eu roubei e por isso paramos aqui. — Sorri sem graça. — Agora vem, que eu quero te apresentar o Payton. — Peguei na mão dele. — Ele vai adorar de conhecer.

— Como ele é?

— Chato e gostoso, muito gostoso.

— Você também é. — Ele disse e fiquei sem jeito.

Alguns minutos se passaram e já tínhamos chegado na lancha.

— Fica aqui, deixa eu falar com Payton primeiro e depois você entra, tá legal?

Ele concordou e entrei dentro da lancha, Jaden ficou no lado de fora.

— Payton. — Chamei por ele.

— Julinha. — Sorriu para mim e me abraçou. — Senti saudades.

— Então... Eu preciso que você não surte, ok? — Concordou. — E também que deixe eu falar e não me interrompa.

— Ju, fala logo.

— Tem um garoto aqui na ilha, ele se chama Jaden, chegou à dois dias atrás, foi ele que comeu o Rosnaldo e quando eu vi bati na cabeça dele, e ele desmaiou. Eu esperei o menino acordar, mas ele não acordou e hoje de manhã eu fui atrás dele. Então me desculpa por ter mentido para você desde ontem. — Falei rápido.

— Nossa, e onde ele está?

— Lá fora. — Respondi, Payton sorriu de lado, em um movimento rápido pegou na minha cintura e segurou firme, meu coração acelerava e meus pensamentos iam longe. Fechei os olhos e sorri, enquanto Payton cheirava meu pescoço, ele me abraçou pela cintura e pegou em uma das minhas mãos. Meu coração acelerou e pude sentir sua respiração bater no meu pescoço. Olhei nos olhos dele e senti um arrepio. Meu coração quase saía pela boca e eu não conseguia mais olhar para ele.

Então coloquei minha cabeça no seu peito, o abraçando com mais força. É incrivelmente perfeito o abraço dele.

Minhas pernas ficaram bambas quando ele começou a fazer cafuné no meu cabelo. Achei que teria um infarto ali mesmo.

Ele levantou minha cabeça e roçou o seu nariz na minha bochecha, fechei os olhos e pude o sentir beijando cada parte do meu rosto.

— Sabia que eu te amo? — Sussurrou. Senti meu coração acelerar nessa hora. Abri meus olhos novamente e vi que sua boca estava perigosamente perto da minha.

Nós iríamos nos beijar mas alguém nos impediu:

— Que casal bonitinho. — Ouvi a voz de Jaden.

— Não somos um casal. — Falei.

— Que pena. — Ele pareceu feliz com essa notícia.