Eu, a cafeteria e o desemprego

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"Muito obrigada e volte sempre!"

Eu disse com um sorriso no rosto ao cliente que havia acabado de deixar o café.

— Bom dia, você pode fazer meu pedido?

— É claro! — pegando a caneta presa no coque do meu cabelo eu me aproximei do rapaz ao balcão. — Então, o que senhor deseja?

Essa definitivamente era a pergunta que eu mais fazia no decorrer do dia, junto com muito obrigada e volte sempre. Afinal, trabalhar em uma cafeteria era basicamente perguntar os pedidos, agradecer pela compra, e com sorte os 10%, e fingir que não havia segundas intenções nas piadinhas nada engraçadas de alguns clientes.

Lidar com o público era de longe a parte mais difícil do meu trabalho como garçonete, mas como alguém que pretendia continuar no ramo de atendimento ao público — porém fazendo parte da burguesia e não do proletariado — eu tinha a obrigação e o dever de ser gentil com as pessoas, tentando implicitamente ganhar clientes para a minha futura doceria.

— Esse pão de mel é uma delícia! Com certeza o melhor que eu já comi! — os olhos azuis do rapaz brilharam ao abocanhar mais uma vez o doce. — Devo lhe agradecer pela recomendação.

— Eu sempre recomendo o pão de mel. Ele definitivamente é umas das melhores coisas que há aqui no Jardim Café. — estendendo gentilmente um guardanapo para o rapaz com bochechas sujas de granulado, eu sorri.

Meu ego foi prontamente inflado com o elogio, mas ele nem pareceu notar, já que ninguém sabia que eu era a pessoa que fazia os pães de mel.

Na verdade, não somente ele.

Não lembro exatamente quando eu comecei a amar a confeitaria, mas sei que foi um pouco antes de eu finalmente conseguir alcançar a pia do banheiro sozinha. Fazer bolos, tortas, bombons... doces em geral era a minha maior paixão. E, sem querer ser arrogante, eu era muito boa no que fazia. Além dos clientes do café, que vinham especificamente comer as coisas que eu fazia como cortesia ao estabelecimento, eu tinha alguns clientes fixos que sempre me solicitavam quando havia alguma festa pela frente.

— Faz muito tempo que eu não venho aqui, mas não lembro de venderem isso aqui — o rapaz apontou para o bolo, a torta e o pão de mel perfeitamente arrumados sobre o balcão.

É verdade, o Jardim Café não costumava vender isso aqui, porque o estabelecimento era mais voltado para comidas salgadas como pães e salgados em geral, mas desde que eu comecei a trabalhar eu trazia escondido algumas coisinhas que eu fazia.

— São cortesia da casa... — eu respondi ainda sustentando o sorriso gentil. O rapaz tomava o resto do suco no copo, fazendo aquele barulho irritante com o canudo — Sou eu quem faço para os clientes como forma de divulgação do meu trabalho.

Ele arregalou os olhos – olhos azuis claros e brilhantes – que combinavam perfeitamente com o cabelo longo e loiro.

— Foi você quem fez?! — havia surpresa genuína quando ele perguntou. Eu assenti. — Isso definitivamente é um talento. Não gosto muito de doces, mas esse com certeza é um dos melhores que já provei. Meus parabéns — ele disse, apontando para os outros pães de mel embalados na certinha marrom. — A propósito, será que esse bolo é tão bom quanto o pãozinho que eu acabei de comer?

Seu pedido implícito — totalmente explícito — me fez sorrir de canto.

— Bom, você só vai saber se provar, não é mesmo?

— Você tem toda razão — ele sorriu de canto enquanto eu cortava uma fatia do bolo.

— Ele é de frutas silvestres. Especificamente cereja, morango e framboesa, então se você for alérgico a alguma delas, não coma. — eu alertei ao depositar o prato na frente dele.

Me, him and the Kids - SASUSAKUOnde histórias criam vida. Descubra agora