Me, him and the Kids - SASUSAKU

Eu, o pinguim e o lema

A porta branca encardida rangeu quando eu a empurrei. Tive dificuldades de entrar no meu apartamento, já que o espaço da porta era estreito demais pra passar com a bicicleta amarela que era meu transporte básico.

A cada passo que eu dei, o chão ficou marcado com as minhas pegadas molhadas, porque uma chuva me pegou no meio do caminho. Tudo ficou ainda pior — como se ser encharcada não fosse o suficiente — quando a corrente da bicicleta soltou e eu fiquei parada no meio da avenida com o céu caindo sobre a minha cabeça.

Eu apoiei a bicicleta no canto esquerdo do pequeno cômodo e me sentei na cadeira de plástico ao lado da minha cama. Eu joguei o litro de água que havia em cada par dos all-star surrados do meu pé e em seguida me desfiz daquelas roupas molhadas em meu corpo.

De sutiã e calcinha, eu caminhei até a cômoda velha em frente à cama e retirei as poucas notas de gorjeta que havia ganhado naquele dia do bolso da minha calça e guardei no pequeno cofre da primeira gaveta.

Faltava muito.

Mesmo eu guardando todo o dinheiro extra que eu ganhava, mesmo eu abdicando do conforto mínimo pra um ser humano viver, ainda não era o suficiente. Faltava muito pra eu conseguir dinheiro suficiente pra comprar as coisas necessárias e finalmente vender meus doces.

Porque, primeiro, eu precisava de ao menos um fogão, já que fazer meus bolos e tortas na casa de Ino não poderia ser uma opção no futuro distante. Contudo, um fogão estava uma fortuna. E a botija de gás? Vou nem comentar. Além do mais, ainda que eu conseguisse os dois havia o segundo ponto para ser levado em questão: o tamanho do meu apartamento.

Eu morava no subúrbio dessa linda capital Konoha, numa vila com apartamentos do tamanho de um ovo e que custavam mais da metade do meu salário. Meu apartamento, que na verdade era um quarto, era tão pequeno que mal cabia a cama, a cômoda, a cadeira, a bicicleta e eu.

Não tinha espaço pro fogão, quem dirá o armário que eu teria que comprar futuramente, e provavelmente eu teria que cozinhar em cima da cama. Assim, na lista de prioridades eu precisava, urgentemente, mudar de apartamento.

Porém, como faria isso? Apartamentos maiores eram mais caros e eu havia acabado de ser demitida. Assim, me restava ficar aqui e dar meus pulos pra conseguir dinheiro.

Suspirando pesadamente, eu fiz uma lista mental de possíveis locais onde eu poderia conseguir um emprego novamente. O fato de Konoha ter milhões de habitantes ajudava muito, porque era realmente rápido encontrar um emprego e garantir a sobrevivência.

Contudo, devido ao meu objetivo, um emprego que me garantisse comida, aluguel, água e luz não era o suficiente, porque eu precisava de um pouco mais. Entretanto, o fato de eu não ter as qualificações exigidas na maioria dos lugares — como cursos técnicos, ensino superior e um dinossauro — eu não conseguia empregos com salários decentes pra que não precisasse ficar no limite antes de ser considerada "abaixo do peso".

Embora eu tivesse muita experiência, já que desde os dezesseis anos eu trabalhava, meus quase seis anos no mercado de trabalho não valiam muita coisa quando algum parente ou conhecido do dono disputava a mesma vaga que eu. Eles ganhavam por merecimento e eu voltava à estaca zero.

Eu não tinha problemas quando se tratava de trabalho. Eu trabalhava com qualquer coisa que eu não envolvesse cafetões e desonestidades. Eu já havia sido vendedora, panfleteira, garçonete, fiscal de prova, zeladora, caixa de supermercado, vendedora de churros e muito mais. Porém, como eu disse, eles só me garantiam a sobrevivência — e bem mal.

Com um resmungo na garganta, eu enrolei uma toalha no corpo e fui tomar banho. Depois de praticamente ser congelada com a água do chuveiro eu voltei pro quarto e vesti um short preto e uma blusa verde limão tão grande que cabia duas de mim. De dentro da cesta da minha bicicleta, eu peguei as bandejas e a sacola do supermercado, onde eu havia guardado minha carteira, celular e o pão de mel pra que não molhassem.