Eu, o paradoxo e a empatia

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Havia risadinhas atrás de mim. E eu estava tentando não ficar chateada com elas. Se fosse numa situação ao contrário, eu certamente também estaria rindo — porque sou hipócrita — mas como eu era a razão das risadas a situação não tinha a menor graça.

Quando Sebastian, que agora estava calmo enquanto guiado por Ryo ao meu lado, começou a correr, a minha primeira reação foi tentar impedir. Contudo, força não era uma das minhas melhores características físicas, então eu fui praticamente arrastada até a praia.

Empanada, era como eu estava. Porque no momento que minhas pernas colapsaram devido ao súbito exercício, eu fui ao chão e Sebastian deduziu que meu sedentarismo era uma forma de brincadeira. Ele pulou em mim e me fez rolar, e agora meu corpo inteiro estava coberto por uma camada de areia grudada com baba de cachorro.

Quando Ryo e Naruto tiraram Sebastian de cima de mim, a primeira coisa que eu fiz foi caminhar. Caminhar pra longe daquela praia, daquela praça, de volta pra mansão. Embora eu não tivesse dito uma só palavra, ou sequer olhado pra eles, as crianças, Ryo e Naruto decidiram me acompanhar.

Assim, as risadinhas e o sermões foram a trilha sonora que me acompanhou de volta para o condomínio. Naruto tentou conversar comigo, mas eu o ignorei. Porque, definitivamente, eu não queria sua simpatia e provavelmente empatia não era algo que ele poderia me dar, já que duvido que ele tenha vivido algo semelhante à minha expiação.

Empanada, eu fiquei em silêncio, sendo o motivo dos cochichos e risadas e sermões. Meu pulso queimava. Provavelmente estava marcado com a guia de Sebastian.

— Sakura...

Naruto chamou, cauteloso, quando finalmente paramos a porta de entrada da mansão. Eu apertei os lábios numa linha fina e coloquei a mão sobre a maçaneta ao encara-lo. Não havia o mínimo de recepção e gentileza no meu rosto. Naruto forçou um sorriso.

— Nada... — ele percebeu que eu ainda não queria qualquer tipo de comunicação enquanto tivesse areia em lugares onde nem mesmo o sol ousava entrar. As crianças ainda riam baixo atrás de mim. Naruto as repreendeu.

Eu finalmente abri a porta e as risadas cessaram no momento que os olhares recaíram sobre a pessoa diante de nós. Aquilo só podia ser um castigo, eu pensei. Definitivamente, depois da tempestade, vinha um vendaval e não a bonança.

— P-Pai... o s-senhor já está em casa? — Yuki foi o primeiro a ousar dizer alguma coisa, tentando não demonstrar nervosismo. Em vão.

Sasuke estava parado com os braços cruzados sobre o peito e o rosto estava muito sério... não, assustador seria a melhor palavra. Havia um vinco notório entre as sobrancelhas, sem contar com tensão em sua mandíbula.

Arfares ecoaram atrás de mim ao mesmo tempo que um frio percorreu minha espinha a medida que Sasuke me olhava de cima a baixo e depois de volta. Quando seus olhos fixaram nos meus e eu desviei o olhar pro lado, sem coragem e dignidade para encara-lo, ele disse:

— Então... quem vai ser o primeiro a contar o que houve?

O tom foi severo e eu ouvi respirações se tornarem pesadas.

— Bom... eu vou embora — Naruto disse atrás de mim. — Vamos Ryo.

— Não, por favor, tio Naruto fica. — Yuri disse ao segurar o braço de Naruto. — Por favorzinho.

Naruto sorriu, se desvencilhando do agarro.

— Boa sorte, espero que fiquem vivos.

— Não, não, não tio Naruto — o tom de Yuri era de pura súplica. Eu encarei os quatro por cima do ombro, percebendo que todos mantinham o mesmo sentimento em suas expressões. Até mesmo Mahina. Desespero puro e genuíno.

Me, him and the Kids - SASUSAKUOnde histórias criam vida. Descubra agora