Eu, a rotina e o talvez

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De todas as dificuldades que eu poderia enfrentar na minha nova rotina, que são muitas, a pior era definitivamente o fato de eu ser uma pessoa de personalidade independente, cuidando de quatro crianças totalmente dependentes. Embora Naoki, Yuki, Yuri e Mahina não precisassem de ajuda para as questões mais básicas — o que era reconfortante —, eu ainda tinha que supervisionar cada coisa, assim como assegurar que eles estavam fazendo cada uma dessas coisas de forma correta.

Desde os sete ou oito anos, eu já era independente — não no requisito financeiro, óbvio —, mas quase todo o resto eu já conseguia fazer sozinha. Acordar sem despertador, me vestir sem confundir o lado avesso da roupa ou par dos sapatos, caminhar até a escola e sempre checar antes de atravessar a rua, fazer minhas lições de casa sem precisar de ajuda e principalmente fazer ao menos um nescau com pão quando estivesse com fome.

Pra mim, isso tudo já era considerado o básico, o mínimo. Porém, convivendo com as crianças eu percebi que eu era a diferente ali e se eu não os supervisionasse, eles não faziam nada e morreriam de fome. Chiyo era responsável pela comida e organização da casa, mas servir as crianças ou fazer os lanches no meio da tarde eram de total responsabilidade minha, porque ninguém sabia usar o liquidificador ou a sanduicheira.

Além disso, ajudar Naoki a fazer as lições de casa era a expiação que eu tinha que passar todas as tardes, porque ele simplesmente não conseguia fazer sozinho — eu não estou falando que ele tinha dificuldades pra fazer as tarefas e sim que ele não queria fazer sozinho, ou seja, eu tinha que ficar ao lado, respondendo dúvidas como: qual a diferença da letra "a", na cursiva e na bastão?

Enquanto Naoki era minha expiação pela tarde, Yuri era pela manhã. Era incrível a total incapacidade dela de acordar. Eu passava bons minutos procurando ela por debaixo de toda a pelúcia, que Yuri insista em dormir junto, e depois muitos outros tentando convencer e forçar ela a sair da cama. Uma vez eu a carreguei até o banheiro e pedi pra ela tomar banho enquanto auxiliava Naoki, de novo, a vestir a blusa que ele insista em não desabotoar primeiro. Vinte minutos depois eu voltei e encontrei Yuri dormindo sobre o tapete do banheiro, o que resultou no meu desespero e no atraso para a escola.

Eu estava certa quando pensei que Yuki seria o menos pior de todos, porque o único problema era o fato dele dar a salada dele para o Mister Sabino, alegando que patos eram os que precisavam de alface e tomate. Por outro lado, Mister Sabino me odiava. Ele corria mais de uma vez atrás de mim durante o dia, obsecado pelo meu calcanhar, e rejeitava qualquer tentativa de aproximação. E, bom, digamos que Yuki era conivente com a frase "se meu animal de estimação não gosta de você, eu também não gosto."

E por fim, havia Mahina Uchiha. A garota era a típica adolescente daqueles seriados da Disney. Ela sempre estava com maquigem no rosto e os sons das pulseiras eram basicamente um sino pela casa. Os fones faziam praticamente parte do seu corpo e ela revirava tanto os olhos na minha direção, que chegava a ser irritante. Apesar dela não me dar trabalho, já que Mahina era bem disciplinada, a sua personalidade adolescente sabe-tudo era algo que eu tinha muita dificuldade pra lidar. Porque eu não gostava de adolescentes sabe-tudo nem na época que eu era adolescente sabe-tudo.

Entretanto, ainda que Mahina fosse meio arrogante, eu percebi que a única pessoa que, de fato, se incomodava com isso era eu. Os irmãos haviam se acostumado, Chiyo ignorava completamente e Sasuke se limitava com um olhar de desaprovação, o que não era algo que eu esperava.

Sai me disse que Sasuke era conhecido como frio, e eu o idealizei como alguém com a personalidade parecida com a daqueles vilões presentes nos livros de fantasia, onde qualquer palavra ríspida direcionada pra ele era uma sentença de morte. Contudo, com a pouquíssima convivência — já que ele era bem ocupado com o trabalho — eu percebi que Sasuke não era frio. Na verdade, ele exalava um ar de, como posso dizer.... indiferença?

Me, him and the Kids - SASUSAKUOnde histórias criam vida. Descubra agora