Capítulo 1 - O Caminho do Meio

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   696, Bandalask, Era Corrupta - 18:23 da tarde.

   Em um entardecer como qualquer outro, Gautar se sentou no muro do castelo em posição borboleta, fechou os olhos e respirou fundo. O sol iluminou seu rosto e ele sorriu ao sentir o brilho adentrando sua pele. Por ter dezoito anos, o príncipe era permitido a ficar em cima dos muros que protegiam o reino, observando o pôr do sol todos os dias.

  A brisa das árvores, junto a esse brilho...
  Sempre perfeito...

  Pensou, respirando cada vez mais fundo. Abriu os olhos e eles brilharam no tom de amarelo ardente. Sereno e sorridente, a vida, por um breve instante, teve mais cor para ele. Mesmo só tendo árvores ao redor, o príncipe sempre aproveitou uma abertura na floresta que o permitia ver o sol morrendo ao oeste.

   Infelizmente, seu momento de paz foi interrompido por um servo do rei que chegou ao seu encontro, avisando que o rei queria vê-lo.
                           
                                                                        🔆🔆🔆

    Dentro do castelo, na sala do trono, Gautar passou pela entrada, pisando no grande carpete vermelho que estava estendido da porta até o trono do rei. A coloração amarelada de cada pilastra e parede era de extrema beleza. Estátuas de mármore pintadas de amarelo eram vistas nas laterais da sala, próximas das janelas.

   Gautar IV estava sentado no trono, aguardando a chegada de seu filho. A rainha também estava ao seu lado, impaciente, com uma expressão nada agradável.

   - Oi, pai, o meu horário de descanso não acabou ainda - disse Gautar, bocejando - me tirar de lá me deu até sono.

   - Gautar! - gritou o rei.

   - O que foi? - assustou-se. - Tá gritando comigo por quê? Eu já gravei a papelada de hoje, não posso ter um segundo de descanso?

   - Gautar, você se esqueceu do seu compromisso de hoje? - exclamou a rainha.

   - Compromisso? - questionou.

   - É, o seu compromisso! Você tinha que fazer propaganda em nome do nosso reino! - gritou o rei, gerando eco na sala.

   - Aqueles moradores perdidos estão indo para Yullow porque alguém lá sabe fazer propaganda - disse a rainha, debochando - sabe, Gautar?

   - Não é querendo falar nada, mas - passou a mão na nuca - Yullow é uma vila ainda, nós somos um reino. Aquelas pessoas são pobres e não possuem dinheiro para pagar moradia aqui. O que adianta chamá-las pra cá?

   - Oh, meu filho, quando você entender como um reino funciona, eu poderei morrer em paz - respirou, acalmando-se.

   - Uma parte da população daqui também é pobre; eles poderiam ter se juntado a ela - disse a rainha.

   - Isso é desnecessário - afirmou Gautar com convicção.

   - Desnecessário é você ficar mais de meia hora em frente aquele sol, sem fazer nada de útil para esse reino! - levantou-se do trono, batendo com o punho sobre o apoiador do trono e gritando novamente, explodindo em fúria.

   Gautar, mesmo não gostando da atitude de seus pais muitas vezes, precisava manter a cabeça fria e obedecê-los, pois, sem eles, não conseguia ver a si no topo.

   O jovem abaixou a cabeça e saiu da sala com o rabo entre as pernas.
  
   Gautar não gostava da pobreza que Bandalask estava absorvendo; para ele, aquilo não fazia sentido. Por qual motivo nem todos podiam ficar com riquezas, ele pensou. Mas mesmo vendo o estado deplorável que as pessoas mais pobres estavam, as observava muitas das vezes rindo e brincando; mesmo que suas situações fossem precárias, por algum motivo aquelas pessoas estavam felizes com tão pouco. Ele não compreendia isso e gostaria de entender, mas seu pai não deixava que se aproximasse mais de dois metros dos pobres; por serem sujos; por não possuírem bons modos e muitas das vezes por serem brigões.

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