Capítulo 17 - Reconstrução

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   O mar batia com suas águas sobre a costa enquanto gaivotas azuis, verdes e roxas mergulhavam, de raspão, nas águas, caçando peixes de pequeno, médio e, dependendo do tamanho da gaivota, grande porte. O sol nascia no horizonte. Eram quase seis e meia da manhã. Galos, em pequenos cercados, cantarolaram com intensidade com o amanhecer. 

   Um grande porto, próximo da costa, servia como cais e como dormitório para quem trabalhava por lá. Os funcionários conversavam pela manhã, não sabendo que rumo tomariam após a destruição que se deu em Dogfall na noite passada. Quem os pagaria? Quem os guiaria agora que Dogfall estava em ruínas? Onde estaria o líder? Onde estaria Daria? Eram muitas perguntas, mas que poucos presentes conseguiam responder com fatos. Alguns apenas retornaram às tarefas que sabiam que deveriam concluir, enquanto outros ficavam a conversar, temendo pelo que o futuro aguardaria para eles. 

   Ao lado direito daquele porto, localizava-se uma média casa de madeira. Trancafiada e escura por dentro. Um funcionário, a assobiar, saiu do porto e andou até tal residência. Estava com um balde de minhocas na mão e cantarolava músicas de marinheiro, caminhando com animação pela grama capinada do solo. Quando virou a maçaneta da porta, ela se quebrou sem o uso de muita força. O homem encarou a maçaneta quebrada e observou a porta se abrindo em uma pequena frecha. Em silêncio, adentrou em passos leves, vendo, nas camas espalhadas por todo lugar, forasteiros dormindo sobre elas.

   O homem percebeu que se tratava de um grupo grande, com mais de cinco pessoas, e tentou sair com sutileza da casa. Entretanto, ao passar por aquela pequena brecha, seu balde engatou na porta e chocou-se com o chão, fazendo um estrondoso barulho naquele lugar tão emudecido e pouco iluminado - somente havia velas das lamparinas acesas em cima de cada mesinha ao lado de cada cama. O homem tremeu-se ao ver suas iscas despejando-se sobre todo o solo, em conjunto da água que estava dentro do balde. O ranger de uma cama, na escuridão daquele lugar, fora ouvido e alguém estava a se levantar. A figura apareceu trevas afora, massageando os olhos e bocejando profundamente. Era uma mulher pálida de cabelos pretos, manto negro, portando um grimório preso em sua cintura.

   - Socorro! Socorrooo! - o homem rasgava a própria garganta, gritando tanto por de fora da casa.

   A mulher, enquanto massageava o olho direito, arregalou o esquerdo, percebendo que acabaram sendo descobertos. 

   - Merda... - resmungou. - Fortunato, temos problemas! Levantem-se todos, agora!

   O grito fora escutado pelos funcionários daquele porto, que correram desesperados até a casa. O homem amedrontado agarrou as vestes do primeiro que apareceu em sua frente, mas logo fora levado ao chão pela ignorante brutalidade daquele que no qual se buscou proteção. Como soldados a marchar, a multidão aproximou-se em pisos fortes, erguendo seus arpões aos céus. Eles gritavam para que os de dentro dessem as caras para o inevitável confronto. 

   A porta semi fechada fora aberta, de repente. De mãos ao alto, Fortunato saiu da casa sem dizer nada. Seus olhos estavam inchados e cerrados; a faceta amassada e o cabelo desfiado. 

   - Me... chamaram? - disse, sonolento.

   - Fortunato? - eles recuaram um pouco suas armas e seus olhares tornaram-se perdidos.

   - Por que estão com essas caras surpresas? Eu disse que viria para cá depois da batalha em Dogfall.

   - Oh... - o homem amedrontado engoliu tanto a própria saliva, quanto seu medo vergonhoso. Ele, rapidamente, se levantou, adotando uma postura mais séria e preparada. - Fortunato, claro... - virou-se para todos atrás. - Peço desculpas, pessoal.

   Seus colegas, com vergonha do homem, suspiraram e deram as costas para o mesmo. O homem, irritado consigo, virou sua contraída expressão descontente para Fortunato.

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