Capítulo 9 - Justiça e Vingança

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✨️✨️✨️

   Estendeu suas mãos sobre uma mesa alquímica. Pegou alguns livros e os folheou. Abriu gavetas e sacou: olhos de filhote de dragão e pó de fênix. Retornou ao quarto, pegou o garoto em seus braços e o carregou para a ala - Malkiur, atento, observava cada movimento dela.

   Pusera o garoto sobre uma maca próxima da mesa. Os ingredientes foram colocados em um tubo de ensaio feito de mármore, com a boca maior do que os tradicionais. Os olhos precisavam ser esmagados e misturados com o pó de fênix, formando uma mistura alaranjada. A feiticeira precisava ficar girando a colher mais de doze vezes para a mistura ficar perfeita.

   Sofia, ainda com o capacete de sangue, observava-os entre o vão da porta que dava entrada à ala.

   - Então... - quebrou o silêncio - como escapou das chamas? Parece que não sofre tanto com os ferimentos que causei em ti. Seu peito - observou - está cicatrizado... Por acaso, utilizou das chamas para curar seus ferimentos? Nossa, deve ser por isso que está todo arrebentado assim - riu.

   - Calada.

   - Só estava tentando conversar, ora. Sabe... diminuir a tensão.

   - Por que tentou me matar? - perguntou Malkiur, encostado na parede com os braços cruzados e o cenho firmado. A agoniante ausência de Jenny em relação a pergunta, o irritava. - O que eu fiz pra você?

   - E eu preciso te dizer?

   - Diga, agora, sua maldita! - exclamou.

   - É por que você ignora o sofrimento! - gritou, batendo a colher com força dentro do tubo. - Malkiur, você não sabe, mas... somos bem mais próximos do que imagina.

   - Eu não tenho nada próximo a você! - exclamou. - Eu!...

   - Deixe-me - fechou os olhos, erguendo a mão, pedindo silêncio - explicar, príncipe - respirou. - Quando eu morava na vila Dogfall, aos meus oito anos, tive o desprazer de ser... abandonada pela minha nobre família. Pelo meu sobrenome, deve imaginar a posição social que eu estava. A situação em casa era... complicada em relação aos meus pais, principalmente a mãe. Minha mãe gostava mais da minha irmãzinha do que a mim. Por ela ser mais forte e mais habilidosa do que eu. Eu gostava mais de brincar e me divertir. Ser uma criança, sabe? Mas ela queria que eu seguisse o legado da família e me jogou na rua durante uma noite fria para um teste. Como uma criança, não sabia o que estava acontecendo; por que tive que ser atirada à miséria, fome, dor e rejeição assim tão cedo? Papai dizia que era para eu aprender a ser um ser humano forte. Viver na violência me faria até melhor que a minha irmã. Eu confiei... Eu genuinamente confiei nisso - pegou o tubo de mármore e o chacoalhou, atiçando a mistura. - Vi e passei todo o tipo de mal que se pode imaginar. Sendo uma criança abandonada, as ruas só te veem como um objeto, ou melhor, como alguém a ser explorado. Você não é humano pra eles. Eu perdi amigos. Perdi parte de mim - melancólica, refletiu.

   Ergueu o frasco e o posicionou acima de em uma fogueirinha ao lado da mesa, feita para purificar e esquentar as misturas alquímicas.

   - Onde você quer chegar com isso, feiticeira?

   - Escute... Quando eu estava sem ninguém, vagando na floresta em busca de alguém que cuidasse de mim de verdade, eu encontrei uma pequena vila ao oeste do continente. Eu me aproximei do local como uma sem-teto. Fui trazida para dentro por alguns moradores. Não conseguia ficar... confortável em suas presenças, mas não resistia às suas vontades de cuidar de mim, afinal, pensava que se eu resistisse a vontade deles seria pior. Assim como era com os habitantes de Dogfall, eu não imaginava ter escolha a não ser me submeter a... - respirou - Enfim - virou-se, encarando o príncipe com um olhar vazio. - A multidão me ajudando, chamou a atenção do líder dessa vila. Seu nome era... Gautar IV.

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