Capítulo 12 - O Mal Imutável

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   O príncipe Malkiur vagava pelas sombras do reino de Klank, sempre ocultado por um pano sujo que cobria seus olhos e parte de seu corpo. Desviava de tropas militares que o caçava incessantemente. Vivia e sobrevivia por meio de esmolas e migalhas de comida. Fizera amizade com outros moradores de rua, em prol de sua sobrevivência. Porém, nem neles poderia confiar, já que, alguns eram facilmente subordinados pelas autoridades. Ao ver isso com os próprios olhos, o príncipe correu para a outra parte do reino. Parte anteriormente dominada pelo Deus da Guerra, Mildtroth. Ao encontrar uma região, praticamente, abandonada, estabeleceu-se ali por um tempo.

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   Uma semana depois...

   Pela manhã, foi acordado com o som de um coral de choros vindos em meio a algumas casas à direita de onde residia. Havia construído um pequeno forte escondido em uma casa abandonada. O pano em que dormia localizava-se abaixo de uma janela, onde era fácil ouvir passos caso guardas se aproximassem e se manter discreto caso olhassem adentro. Entretanto, o som de choros não era exatamente o que imaginava-se ouvir.

   Levantou-se com fome e dores de cabeça. Mal conseguia ficar em pé. Esgueirou-se pela parede e apoiou-se na janela com os braços. Observou cinco pessoas chorando em frente a uma casa. Três mulheres e dois homens. Havia flores e cartas amontoadas espalhadas ao redor da porta. Olhou pelos cantos e não localizou nenhuma autoridade. Pegando seu pano, o príncipe saiu da casa e andou, lentamente, até as pessoas.

   Atrás delas, com a voz falha, questionou-as o que havia acontecido. Sem olhar para ele, aos prantos, disseram que uma tragédia ocorrera há uma semana atrás.

   - Oh, céus - lamentou-se - o menino... ele era tão doce...

   - Nós... nós ajudávamos essa família tanto... - tampava os olhos com a mão enquanto derramava suas lágrimas.

   Os dois homens, que também choravam, viraram seus rostos para Malkiur.

   - Eles... eram muito bem vistos por aqui - o primeiro homem possuía uma aparência degradada, parecia ser mais um mendigo como Malkiur. - Me ajudaram quando mais precisei de ajuda. Eram almas que tinham seu papel nessa vila.

   - Agora - o outro, um pouco mais sombrio em seu modo de falar, virou o rosto para frente e encarou as cartas amontoadas -, por conta daquela rainha estúpida, estão mortos...

   - Rainha? - a revelação ativou o cérebro de Malkiur cansado pela fome, o fazendo pensar em voz alta.

   - Maldita seja! - exclamou o primeiro. - A mãe foi encontrada com um corte na garganta - dramatizava. - O pai com um buraco enorme no corpo! Que trágico, oh, deuses! E a criança, nem se fala, foi quebrada em vários pedaços de vidro!...

   - Ei - com um olhar sombrio, virou-se para Malkiur -, você é novo por aqui? Não sabia disso tudo? Você... não me parece muito bem. Precisa de uma água ou?...

   - Eu... - tonto pela fome, Malkiur não conseguia formular uma frase. - sou...

   O príncipe parecia em estado catatônico. Nada em sua visão fazia sentido. Começou a tontear para trás e ter sua vista embaçada, pronto para desmaiar.

   - Oh? - disse o segundo homem, surpreso, ao perceber que o príncipe não estava raciocinando. Balançou a mão em frente ao rosto dele, mas nenhuma reação foi tirada. - Fortunato, você o pega braço direito e eu o esquerdo.

   Fortunato, que fingia choro, logo que ouviu o homem o chamar, olhou para trás com a sobrancelha esquerda arqueada, não acreditando.

   - Foi tão fácil assim?

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