Capítulo 18 - Dança Cósmica

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Pelo lado direito daquela estátua, um homem sujo, encapuzado e com vestes estripadas, estava misteriosamente calado, de braços cruzados, enquanto as duas andarilhas suspeitavam da estátua do grande deus. O homem as espiava de canto. Tentou entender o que elas falavam; como eram seus rostos e seus objetivos ali, pois não pareciam ser do reino.

Civis passavam de um lado ao outro e, com o passar dessas pessoas, o homem sumiu entre elas, deixando um vazio onde estava encostado. As duas andarilhas encararam o local em que estava; perceberam que algo repousava ali, mas já sumira. Sofia, que estava com a mão no cabo de sua katana, prestes a embainha-la, recuou a postura. Ela deu uma leve cotovelada em Permuda, a dizendo para saírem dali.

Andaram por estradas de mármore, cobertas de lama e dejetos dos diversos tipos. O cheiro mortífero se intensificava; elas se aproximavam de algo grotesco. As casas escondidas pela escuridão daquele abismo, eram apenas iluminadas por fora, pelas lamparinas penduradas em postes e nos tetos das telhas. Difícil era enxergar o além da estrada. As sombras cobriam tudo. Não havia mais ninguém além delas ali.

O reino, que antes era nojento e desprezível, agora causava ansiedade nas andarilhas. O que aquela estátua havia feito?

Calmamente, Sofia pusera a mão sobre o cabo de sua katana; uma intuição digna de uma assassina, a fez desembainhar a arma e desferir um golpe por detrás de si. O ataque fatiou o solo enlameado, fincando a katana na terracota molhada por debaixo. A lama ao redor da espada rastejou e se agrupou, formando um montinho gosmento que se seguiu para pouco longe das duas andarilhas.

- Sabia! - exclamou Sofia.

Permuda encarava a maldita gosma seguindo ao redor delas, cada vez aumentando seu tamanho com o consumo da lama do solo. Na mão da imperatriz, um arco de vidro formou-se em três segundos. Colocando-o na posição de ataque, passou sua palma da armação até o fio, materializando uma flecha afiada e cristalina.

Sua mira tentava acompanhar a velocidade daquele espécime, mas quase todas as suas flechas lançadas eram desviadas pela gosma, ou ultrapassadas pela viscosidade que ela possuía - e seu tamanho só aumentou com o passar do tempo, chegando na altura das andarilhas. Enquanto ela transmutava-se em algo parecido a estrutura humana, Permuda canalizava outra flecha. Quando lançou, a criatura segurou o objeto com cinco tentáculos enlameados, revestiu a flecha com a lama do corpo e consumiu-a por inteiro. como se nada fosse.

Com uma estrutura humanoide quase completa, a gosma mudou o material de seu braço recém-formado - um vidro cristalino envolveu o membro. O lamaçal viscoso de sua face abriu-se, revelando uma pele branca por de baixo; lábios finos e um olho castanho-esverdeado - de estilo atômico. Com metade de seu rosto revelado, o monstro ergueu a mão envidraçada e parecia que iria falar algo. Porém, ao seu lado, Sofia surgiu - como se tivesse se teletransportado - e com a katana firmada nas mãos, tentou o decapitar a criatura. Entretanto, em um espaço de milissegundos, o monstro transmutou sua mão de vidro em uma lâmina de mesmo material e bloqueou o ataque direcionado a seu pescoço.

- Estamos do mesmo lado, espadachim! - exclamou a criatura com uma voz distorcida.

- Não confio em bestas vindas de um abismo como esse! - gritou Sofia.

- "Besta"? - resmungou com desprezo. O orgulho ferido daquela criatura, impulsionou um de seus tentáculos de lama para dentro do ouvido da espadachim.

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