Capítulo 23 - A Desonrada

14 1 18
                                    

Uma semana antes...

No cás de Dogfall, na pequena cabana onde os Treinados repousavam, Ravi discursava para os Treinados, os dando esperança e fé em Malkiur. Passando a palavra do príncipe como lei para que eles não falhassem. O plano de Malkiur nunca foi absoluto, todos poderiam recusar se quisessem, mas, mesmo com tamanha frieza no que o príncipe havia pensado para os problemas do plano mundano, eles não desistiram de apoiá-lo, pois sabiam que era o melhor para que Thern vivesse. Lenna e Fortunato escutavam tudo encostados próximo à porta de entrada da cabana. Royrren chegou atrasado e se sentou junto dos Treinados - em posição de borboleta no meio de um tapete com o desenho enorme de uma Mandala. Lenna aproximou-se com os braços por trás das costas, abaixou-se e questionou-o, aos sussurros, sobre suas vestes e avisou-o - como se ele não soubesse - no que estava se metendo, como ela já havia dito a ele. O pescador, que agora se via como um monge, dirigiu poucas palavras à assassina, que se frustrou por tamanha ignorância e displicência em sua faceta. Lenna, com o orgulho ferido e desconfiança, levantou-se e se aproximou de Fortunato dizendo:

- Esse plano... - sussurrava - essas pessoas... O Malkiur formou um exército de monges frios. Olhem todos eles, Fortunato, seus olhares são cerrados e encaram o Ravi sem, se quer, olharem para o lado. Estão alienados. Aquele pescador, o Royrren, está igual a eles.

- Sabe, eu andei pensando... Esse plano do príncipe, não passa de genocídio puro - afirmou Fortunato. - Ele vai massacrar Klank. E todos os inocentes de lá? Sou um assassino, mas... eu não sou obrigado a engolir certas coisas mesmo vindo da nossa única esperança. E mesmo que em nome da paz: no que o Malkiur estava pensando quando bolou esse plano?

- Ele é o tipo de pessoa que abominaria esse tipo de coisa - ela disse, encarando Ravi, a pensar. - Mas todos esses monges acreditam nele. 

Após vinte minutos de discurso, os Treinados se dissiparam para seus aposentos e afazeres, como: meditação, agricultura ou até mesmo pesca. Ravi desceu do palco em que estava enquanto uma fila de monges passava em sua frente, indo na direção da saída. De longe, ele chamou por Lenna, a pedindo para conversarem um instante. A assassina olhou para Fortunato e ele assentiu, como se dissesse que seria importante que ela conversasse com Ravi, para então entender esse maldito plano. Então, a comandante deu passos em direção do monge. Ele pediu, então, para que ela o acompanhasse em uma caminhada na floresta afora.

Do lado um do outro, o monge caminhava com as mãos entrelaçadas na altura da bexiga e Lenna com as mãos no bolso. Ambos observavam as árvores escuras de Dogfall, apreciando ou percebendo o quão sinistras eram suas folhas mortas. Não havia pássaros ou alguma beleza. Na tarde, o céu já se anoitecia, num tom azul-escuro arroxado - assombroso.

- Não pude deixar de notar você cochichando com Fortunato durante meu discurso - disse, olhando para o céu, com os braços atrás das costas.

- Estava apenas comentando com meu subordinado - passivamente, disse ela, olhando para ele.

- Lenna, você já fez coisas horríveis para Dogfall.

- E eu me arrependo de cada parte, pode apostar, monge.

- Se arrepende mesmo?

- Já me chamam de monstro, mesmo eu tentando consertar as coisas ao meu máximo - cabisbaixa, observava a grama negra a dançar. - Então, o mínimo que posso fazer é me arrepender e me punir.

- Você pensa muito dentro da caixa, comandante.

- Tá aí a diferença entre eu e vocês. Sou pé no chão demais pra ter ideias de como posso... me desculpar com todas as almas que dilacerei um dia. Tive todas elas na palma da minha mão. E de nada serviu; esmaguei todas elas. 

O Mais HonradoOnde histórias criam vida. Descubra agora