UM

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Juan

A vida é cruel e a realidade é esmagadora, machucaram tanto a Martina que a garota tentou tirar a própria vida. Valentim está no mesmo lugar há quase uma hora, ele não move um músculo se quer, não tem raiva nem  ódio, não tem nada. Ele tá numa bolha dele, num mundo frio e distante, sem uma palavra se quer, isso é assustador.

A forma como ele chegou e a dor quando eu disse que o coração dela tinha parado, nunca vou esquecer. Por mais idiota e babaca que o Valentim tenha sido, ele é o único que a ama de verdade.

- Juan, preciso falar com você- uma amiga minha ficou encarregada de cuidar da Martina e tem quase uma hora que ela está lá dentro.

- Boas ou más notícias?

- Em partes boas, conseguiram tirar uma parte da droga, foram sete comprimidos, ela deve ter ingerido no máximo uns doze, mas como ela estava fraca e não tem costume de usar o corpo reagiu agressivamente.

- Graças a Deus, menos um problema.

- Não se alegre tanto, ela ainda não acordou, às quarenta e oito horas são cruciais para saber como o cérebro reagiu a tudo, por sorte o coração dela parou por poucos segundos.

Ouvir isso é um alívio imenso, pelo menos poderei dar ao Valentim uma boa notícia.

- Não se alegre, tem inúmeros problemas nisso. Ela foi abusada e sofreu um aborto Juan? Você tem noção disso? Espero de coração que vocês não tenham feito isso com ela.

- Relaxa Mirabel, tá vendo aquele cara sentado ali? Ele está calado a quase uma hora, tenho certeza que está arquitetando como matar um por um que fez isso com ela.

- Não me admira que o Valentim tenha sido um grande filho da puta com a garota.

- Foi, mas olha pra ele- o Valentim tá dando pena- Esse cara tá sem dormir e sem comer há dias, está com duas costelas quebradas e uma perfuração de faca na coxa, então dá um desconto pra ele- ela revira os olhos. Os dois nunca se bicaram.

- Avisa que vamos acorda- lá em vinte minutos.

- Timtim, vão acordar a Martina em vinte minutos.

- Pela primeira vez na vida você me trouxe uma boa notícia- a dor é evidente nos olhos dele, parece que mataram o Valentim.

- Vamos comer? Nem que seja um pouco.

- Estou sem fome.

- Caralho Valentim, você vai desmaiar assim.

- Foda- se, eu quero sentar e comer com minha garota, enquanto ela estiver inconsciente eu não vou fazer nada- o tom de voz dele é assustadoramente calmo.

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Valentim

Minha cabeça parece que vai sair andando sozinha, estou com uma dor insuportável em várias partes do corpo, inclusive estou com uma fraqueza tremenda. Estou ansioso para ver a Martina, eles vão acorda- lá em dois minutos, eu estou contando cada segundo

- Valentim?- a amiga do Juan me chama- Ela acordou sozinha, isso é ótimo, mas tenha cuidado, daqui a pouco vamos levar comida, ela precisa se alimentar.

Minhas mãos estão suadas, meu coração tá na garganta, a sensação de perder a Martina pra sempre me fez ir ao inferno e voltar em segundos. Ela não merece sofrer a ponto de querer morrer, eu prometo que vou pegar aquele desgraçado do Pablo e a mãe dela, eles vão sofrer mil vezes mais que a Martina.

- Oi, estou entrando- ela está abatida e triste.

- Oi- a voz dela sai entrecortada- Desculpa... eu não deveria ter feito isso, ainda mais na sua casa, eu sinto muito- meu Deus cada vez ela se culpa mais, mesmo sendo inocente.

- Martina- eu pego as mãos dela, estão frias e trêmulas- A culpa não é sua, nada é culpa sua, por favor não pense assim.

- Eu sinto muito pelo Júnior, ele já passou por tanta coisa.

- Para Martina!- sou um pouco firme com as palavras- Você não tem culpa nenhuma, nada do que aconteceu, você tem culpa, nada.

- Eles mataram a Regina Valentim... ela não tinha culpa de nada- como eu queria arrancar esse sofrimento dela, cada lágrima que ela derrama, aumenta mais meu ódio e minha sede de vingança.

- Boa noite, licença- uma moça diz entrando com uma bandeja de comida.

- Obrigado. Vamos comer um pouco?

- Não estou com fome.

- Está sim, tem dias que você não come- me sento de frente pra ela na cama- Abre a boca, aaaaa.

Ela sorri um pouco e abre a boca e faz uma careta.

- Tá ruim assim?

- Um pouco, não tem muito tempero- eu provo só pra ter certeza que ela não está me enrolando.

- Misericórdia, que comida sem gosto- ela ri mais uma vez- A Jimena tá em casa, acho que compensa pedir ela pra trazer alguma coisa, porque isso aqui não levanta ninguém.

Ver a Martina sorrindo é um grande passo, mesmo que a mente dela esteja um turbilhão,  aos poucos vamos lutando contra esses fantasmas e voltando tudo pro lugar.

A Jimena veio e trouxe comida de verdade, a Martina comeu quase tudo e agora está dormindo, já é bem tarde e se tudo der certo amanhã a tarde ela pode ir pra casa.

- Valentim?- ela chama, estou sentado de frente pra cama, estou mais tranquilo, apesar de estar um caco- Vem deitar, a cama é enorme- assim que deito ela se aninha em mim, o Juan trouxe ela de volta pra mim e devo o Júnior essa.

- Não apertaaaaa- ela me abraça com um pouco de força- A minha costela está quebrada, então vai devagar.

- Sério?

- Sim, mas já está voltando ao normal, segundo o secretário do diabo.

- Quem?

- O Juan, eu apelidei assim. Ele só estava trazendo péssimas notícias.

- Tadinho, eu gosto dele, espero que não me decepcione.

- Não acho que ele vá fazer isso, mas se fizer eu dou um jeito nele. Agora para de pensar nisso e dorme, você precisa descansar.

- Quando eu dormir...- ela faz uma pausa- Você vai embora?

- Não, nunca mais Tina.

Eu pensei mesmo que tinha a perdido, das outras vezes eu sabia que não, mas dessa vez eu vi com meus olhos ela caída e pra mim foi uma tortura, arrancaram e colocaram meu coração no lugar e agora eu vou pegar cada um que teve o mínimo de envolvimento no que aconteceu com ela, nem que eu precise me aliar por um tempo com meu pai.

- Valentim?

- Diga!

- Eu gosto de você, não sei se te amo como um caso amoroso, mas como amigo eu sempre te amei- meu coração da uma cambalhota enorme no peito, não esperava por isso. Podem rir, pois estou com um sorriso enorme estampado na cara.

A PROTEGIDA- UMA HISTÓRIA DE VINGANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora