CINQUENTA E TRÊS

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Valentim

O Juan esta entrando em choque por causa de um estilhaço de bala, dei a ele um comprimido de emergência na tentativa de coagular o sangue, mas não tá funcionando e a burra da Maribel resolveu que chorar é a melhor saída, mas pelo menos ela fez um torniquete

— Juanito, vou te levar para o hospital— não dá pra esperar o resgate, vão demorar demais. Jogo ele atravessado nos ombros— Você vai ficar bem

— Valentim, me desculpe... eu não sabia— não tô com um pingo de paciência para ela, nenhuma

— Cala a boca, não quero saber— o carro dele tá bem proximo a estrada, vi quando cheguei aqui. A Jimena não sabe o que aconteceu, deixe ela conversando com o Alonso, espero que tenha um assunto que o prenda

Foram uns dez minutos caminhando e ele reclamou um pouco de dor, graças a Deus ele não apagou. Quando coloco ele no carro, a blusa esta encharcada de sangue e os labios dele estão quase roxos, se o Juan morrer eu vou matar a Maribel com minhas próprias mãos, o torniquete tá minando sangue, que merda

— Valentim...— ele agarra meu braço, o aperto é fraco, nem parece a mesma pessoa— Eu não te...— ele não pode falar porque essa merda não é um despedida

—Cala boca Juan, não quero ouvir— desvencilho do aperto dele e caminho até o outro lado, para pegar meu lugar— Não quero sab...— minha voz falha no final. Entro no carro e dou partida e vou repetindo na minha cabeça: Isso não é um despedida, não é!

O relógio no painel do carro marca exatamente vinte e uma horas e três minutos, furei todos os sinais e peguei TODOS os atalhos que consegui, mas tudo parece devagar demais, evitei olhar para trás. De relance vejo os olhos perdidos da Maribel... não teve um minuto que ela não se mostrou arrependida, ela intercala entre chorar e pedir desculpas pra ele

— Valentim... mais rapido, ele não tá respirando— não, não. Acelero mais que posso e vejo pelo retrovisor ela tentando reanimá-lo. Por favor Juan... não morre— Me dá essa bolsa, rapido— jogo pra ela a bolsa e ela revira tudo até achar uma ampola e dar a ele— Vamos lá Juanito... estamos... estamos quase lá

— FAZ MAIS RAPIDO MARIBEL— grito desesperado, eu sei que ela esta fazendo o máximo, mas ele não responde

— Vamos... você tá quase lá. Por favor Juan— o soluço da Maribel toma conta do espaço e quando me dou conta estou chorando com uma criança e tudo começa a passar em câmera lenta

Tudo muito esta muito devagar. Os sons de sirenes distantes. Vozes longe da minha percepção.

Paciente com ferimento de arma de fogo, hemofílico, 28 anos. Uma parada cardíaca no caminho, voltou depois da noradrenalina e RCP e tomou coagulante via oral. 

— Ok, vamos leva- ló para sutura

— Valentim?— sinto as mãos de alguém no meu peito e desperto

Oi... o que?— encontro os olhos aliviados e cansados da Maribel— Ele tá bem?— pisco algumas vezes, para afastar as lagrimas

— Sim... Na verdade não sei a gravidade, mas ele voltou de uma parada, já é alguma coisa— respiro aliviado— Vou tomar água e respirar um pouco e ligar pro meu pai...

Desço do carro, ainda com a adrenalina um pouco alta. Por um segundo eu achei que tinha perdido meu amigo pra sempre, mas por misericórdia de Deus ele voltou

Quando entro sinto os olhos das pessoas em mim, a maioria tem medo dos "boatos" e hoje devem ter a certeza que não são boatos, minhas roupas estão complemente encharcadas de sangue, assim como minhas mãos

A PROTEGIDA- UMA HISTÓRIA DE VINGANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora