II

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- então você quer um atestado? - perguntei pro recruta que tinha acabado de se voluntariar para o serviço militar. 

Ele parecia desesperado por uma desculpa pra não ter que comparecer aos treinos.

- por favor, eu pago o quanto você quiser - ele dizia quase se debruçando na mesa. De todos os pacientes que eu havia atendido aqui, ele aparenteva ser o mais jovem de todos - meu pai que me obrigou a servir, vou morrer se me colocarem na frente de ataque.

- olha, eu realmente sinto muito - eu ajustei meu jaleco e tirei o estetoscópio do pescoço - mas não posso te dar um atestado falso. Acabei de começar nesse emprego, não posso ser demitida.

- nós dois somos novatos - ele continuava - você me entende mais do que qualquer um.

- não entendo. Sou enfermeira, não militar.

- qual é, você entendeu o que eu quis dizer.

Eu me levantei, já o guiando pra fora da sala.

- eu tenho outros pacientes pra atender, se me dá licença.

- e se eu quebrar o braço? Consigo um atestado? - ele agarrou meus ombros - posso fazer isso agora mesmo.

- ei, não! - me desfiz de seu toque - nem pense nisso. 

- por que não? Você disse que é enfermeira. Iria cuidar do meu braço e eu conseguiria um atestado.

- sugiro que você fale a verdade para seus superiores. Assim, ninguém fica com o braço quebrado - peguei o rapazinho pelo pulso e abri a porta, vendo a fila de pessoas sentadas me aguardando. Uma quantidade considerável de homens fardados, alguns estavam sentados no chão ajustando armas e outros de braços cruzados, impacientes - até mais.

- não! Você tem que me ajudar nisso! - ele voltou a me agarrar nos ombros - não posso voltar pra casa, meu pai me mataria.

- desculpa mesmo, mas isso não é problema meu. Quando estiver doente de verdade, pode voltar aqui.

- o que? Você é paga pra isso, eu exijo meu atestado! - ele estava visivelmente fora de si e prestes a me golpear numa tentativa de me fazer obedecer as suas exigências.

Entretanto, uma mão segurou o braço do rapaz antes que atingisse minha face. O homem era ridicularmente mais alto que o garoto, o fazendo se recolher como um cachorro com o rabo entre as pernas. Na verdade, ele era mais alto que todos ali. Facilmente teria uns 2 metros.

- não atrase a fila - o soldado disse para o rapaz num sotaque alemão carregado.

O rapazinho xingou e foi embora contrariado. 

O rosto do homem a minha frente era coberto por uma espécie de máscara que deixava somente seus olhos verdes à mostra. Ele estava fardado, munições e equipamentos pendurados por seu uniforme. Não via arma porém não estranharia se estivesse com alguma escondida. O uniforme era repleto de alças, que apertavam as pernas e os braços dele, ressaltando o volume de músculos escondidos por debaixo do tecido. 

- sinto muito - eu disse, me referindo à pequena confusão - entre.

Ele não me respondeu, apenas entrou na sala de atendimento se inclinando pra passar pela porta. Definitivamente ele tem no mínimo 2 metros de altura, pensei ainda o decifrando. 

A Major Kiera havia me dito que nem todos os militares revelam seus verdadeiros nomes ou rostos. A maioria usa pseudonimos e máscaras para manter o anonimato. Não me permitir peguntar o motivo disso, mas imagino que tenha alguma relação com os grupos e facções que eles se filiam. 

Konig • COD [+18]Onde histórias criam vida. Descubra agora