XXIX

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A noite estava calma, estava deitada no peito de Konig enquanto observava o anel brilhando no meu dedo.

Sorri ao relembrar os últimos anos ao seu lado, sabendo que fiz a escolha certa ao dizer sim para esse homem. Lembrei da primeira vez que o vi, da primeira vez que o beijei, da primeira vez que o toquei e da primeira vez que me deixei ser tocada por ele. Nunca imaginaria que seria a noiva desse homem assustador. E ridiculamente lindo.

- ainda acordada? - escutei sua voz de sono acima de mim.

Meu coração se aqueceu instantaneamente.

- é tão lindo - falei enquanto girava o anel no meu dedo - não consigo parar de olhar.

Senti ele sorrir e seus braços logo se acomodaram ao meu redor, me apertando contra seu corpo nu.

- é o que acontece comigo. - ele respondeu.

- como assim?

- não consigo parar de te olhar, também. Você é linda.

Algo frio percorreu meu corpo bem atrás do umbigo. Ele percebeu que havia ficado sem resposta e se aproximou do meu ouvido, mordiscando a ponta da minha orelha.

- vou passar o resto das nossas vidas dizendo isso para você... - sua voz rouca roçava minha pele, me arrepiando - ao acordar, direi que é linda enquanto trago seu café... - ele desceu seus lábios para o meu pescoço - depois, direi que a amo... - senti beijos molhados na região me fazendo ficar ofegante - e depois vou te relembrar que é minha enquanto entro lentamente em você.

- Konig...

- shh - ele segurou minha mão para que eu parasse de girar o anel, prendendo meu pulsos - ainda não disse que a amo. Posso fazer isso de uma forma diferente hoje.

Ele se virou por cima de mim, puxando meus braços acima da minha cabeça e me prendendo. Com a mão livre, ele segurou na base do meu pescoço e se aproximou da minha face.

- abra as pernas pra mim, meu amor.

De repente me senti estranha. Paralizada, mas ele continuava a me provocar.

- Mia.

Não conseguia responder a seu chamado.

- Mia... - ele dizia de modo urgente - Mia!

Konig me carregava nos ombros enquanto corria. Só quando vi o sangue que jorrava de seu braço me dei conta do que estava acontecendo e desejei que tudo fosse um grande pesadelo. Queria voltar ao sonho e esquecer da vida real.

- Mia! - ele disse mais uma vez.

Grunhi confusa, retomando os últimos acontecimentos. Ele me carregava em um só braço, o outro estava ferido e segurava a arma gigantesca. Não fazia ideia de como ele conseguia correr e me carregar após ter sido baleado.

Congelei. Era isso.

Ele tinha sido baleado. Não uma, mas várias vezes.

- Konig. Para.

Escutei ele respirar aliviado.

- você está bem? - ele perguntou ainda correndo e olhando para os lados. Sua voz estava fraca, o músculo de seu braço tremia sob o tecido abaixo de mim.

- para, agora! - tentei sair de seu ombro mas ele me ignorou - Konig, você corre risco de vida. Tem que parar e me deixar cuidar de você.

Sinceramente, não havia muita coisa que eu poderia fazer por ele naquele momento. Estava sem meus equipamentos e ele estava com balas alojadas no braço.

Escutei uma porta ser arrombada e quando fui arremessada na cama, soube que era o nosso quarto. Konig travou a porta e se ajoelhou no chão, tentando juntar suas forças e estocar o sangue.

Corri até ele e me lancei ao seu lado, analisando seu braço sem me importar com a bagunça que seu sangue fazia em minhas mãos.

- aí meu... - disse completamente assustada. Não queria pensar em consequências ruins, mas aquilo estava verdadeiramente feio. O medo só aumentava ao pensar que não poderia fazer nada ali - Konig...

- não irei morrer, Mia - ele falava pausadamente, grunhindo de dor - porra...

Não queria chorar ali. Deveria ser forte, mas uma ardência desnecessária começou em meus olhos. A única coisa que me veio a cabeça foi fazer um torniquete.

Rasguei a barra do meu vestido e começei a prender em seu braço, sentindo meu coração apertar a cada som que Konig fazia. Minhas mãos tremiam a medida que eu tentava enrolar firme o tecido.

- Mia, preciso que me escute.

- antes, me prometa que não vai morrer.

Ele gemeu de dor quando apertei pela última vez, torcendo pra que o sangue parasse.

- eu prometo - ele disse.

- vou chamar uma ambulância.

Quando ia me levantar, ele me puxou para o chão. Fiz menção de sair dali mas ele me segurou ainda mais firme, me fazendo olhá-lo nos olhos.

- não sei quando a verei de novo.

- o quê? - achei ter escutado errado.

Ele tossiu ao segurar mais um grunhido de dor.

- eu os matei.

Senti o ar sumir dos meus pulmões. Estava muda. Eu deveria me levantar e chamar a porra da ambulância, mas não sabia se conseguiria me levantar depois dessas palavras.

- Rod e a mulher de óculos - ele completou - haverá consequências para mim. Na melhor das situações, perco o meu cargo e sou mandado para outra base, me alio a outros grupos e começo tudo de novo.

- Konig.

Podia sentir meus olhos marejados.

- na pior das situações, eu...

- pare com isso, por favor - minha voz falhou e finalmente cedi ao medo e às lágrimas que tentava segurar - por favor.

Fechei os olhos completamente envergonhada por ter causado essa situação e principalmente por não saber como resolvê-la. Não queria que ele me visse chorar, até porquê não era eu que precisava de consolo ali.

- vou chamar a ambulância e depois que você melhorar, podemos falar sobre isso.

Senti sua mão acariciar minha bochecha e limpar as lágrimas que escorriam por minha pele. Esse gesto fez com que eu desabasse mais ainda. Segurei em sua mão, quase numa prece pra que ele não desaparecesse.

- Konig, por favor.

- quero que continue em seu cargo. Irei dar um jeito com o meu, mas até lá nós não...

- eu disse que ficaria com você.

- não é o nosso fim, Mia. É apenas o início - ele se aproximou com dificuldade pra se equilibrar. Konig pegou meu rosto com as duas mãos e me forçou a olhá-lo mais uma vez - quando eu disse que queria que você fosse minha, eu realmente desejei isso. Ainda desejo e honestamente é isso que me move. Não estou falando que vou abandoná-la, não há nenhuma parte de mim que poderia sequer pensar nisso. Por isso, preciso que continue viva e em seu cargo. Saberei onde você está e farei o máximo pra reencontrá-la. Sou seu até que a porra do meu coração pare de bater. Vivo por você, mato por você e morro por você. Irei te reencontrar, tem a minha palavra.

Ele começou a se levantar.

- espera - me levantei também - eu...

- abra a porta! - alguém bateu do outro lado - sabemos que está aí, Konig!

- vá para o banheiro e tranque a porta. Só saia de lá quando me levarem daqui - ele disse para mim, tossindo mais uma vez - por favor, Mia.

Queria ao menos ter uma despedida descente ou estar em condições de hesitar e enfrentar seja lá quem for. Mas o olhar de Konig também era de medo, era nítido que ele falava a verdade e temia me perder.

Sem pensar duas vezes, entrei no banheiro e travei a porta.

Konig • COD [+18]Onde histórias criam vida. Descubra agora