XII

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As gotinhas de chuva escorregavam pelo tecido da máscara. O rosto dele estava levemente inclinado para o meu, a respiração tranquila e os verdes que agora eram tão familiares me olhavam descaradamente.

Ele percorria cada centímetro da minha face, como se quisesse decorar a localização de cada poro da minha pele. A pupila dele estava dilatada e, a julgar pela penumbra que nos envolvia, tive a impressão que a minha também estava.

Era isso que tanto me intrigava nele. Esse anonimato me matava. Queria saber a face do dono desses olhos tão viciantes, dessa postura tão impecavel, desse sotaque tão pesado que as vezes me confundia. Queria saber mais sobre ele. Sobre meu aliado.

- você já sabe quem eu sou, Mia.

- não é isso - neguei, minha voz saindo quase num sussurro e abaixei meu olhar por um instante, tomando coragem pra justificar essa confusão que comecei - preciso saber mais que a cor dos seus olhos, Konig - disse quase num monólogo.

Ele ficou calado por um instante. Senti um dos seus dedos limpar a gotinha de chuva que ameaçava cair do meu queixo, numa tentativa de me fazer erguer o olhar pra ele.

- não gosta da cor dos meus olhos?

Senti meu rosto queimar ridiculamente que quase cogitei fingir uma emergência pra sair dali. Mia você já uma mulher adulta, aja como tal, ouvi minha voz interior gritar.

Tirei a mão dele do meu queixo e ergui a cabeça, encontrando um Konig sorridente por debaixo da máscara. Me senti ameaçada com suas gracinhas, no entanto minha voz não saía da garganta. Tinha tantas respostas prontas das quais certamente faria qualquer homem desejar nunca ter esbarrado comigo mas algo naquele olhar me deixava inacreditavelmente muda.

- gosto dos seus - ele disse com o sotaque alemão, completando - e se eu só pudesse olhar pra eles, não me seria um dilema.

- mas os seus pra mim são - rebati, minha voz voltando de repente - anda logo. Quem é você?

Ele não desfez o sorriso, apenas ajeitou a coluna cruzando os braços a minha frente. Era ridículo a proporção desse homem. O antebraço praticamente ficava na altura da minha face quando ele o cruzava.

- Mia, já disse. Você me conhece.

Não aguentava mais esse joguinho. Num movimento sem pensar, tentei puxar a máscara dele rapidamente mas ele segurou meus pulsos, os prendendo acima da minha cabeça. Konig se abaixou pra conversar à altura dos meus olhos.

- vou perguntar mais uma vez - a voz dele tomou um tom possessivo e introspectivo - não gosta da cor dos meus olhos?

- odeio você.

- posso ficar nessa posição por horas até você me responder.

- por quê tá fazendo isso?

- acha mesmo que não sei que você vai tentar tirar minha máscara a força? - o sotaque grave se aproximava do meu ouvido - te conheço bem, te ensinei isso mas não pra que usasse contra mim.

- como quer que eu continue sendo sua aliada se nem mesmo você cumpre o que diz? Só estou retornando o que você faz.

- como assim?

- você me prometeu que me mostraria seu rosto.

- aquilo não foi uma promessa. Foi uma hipótese - ele explicou, convencido demais pra que me irritasse.

Algo dentro de mim se sentiu traído. Ele havia prometido, me lembro exatamente das palavras.

- precisamos um do outro - ele disse repentinamente.

Konig • COD [+18]Onde histórias criam vida. Descubra agora