Os olhos de Konig tentavam se manter fixos nos meus, senti o braço dele tensionar e se pudesse ver sua face teria absoluta certeza de que encontraria o maxilar contraído.
Eu deveria me sentir feliz ou grata de certa forma. Kade finalmente tinha parado com as ameaças, porém não sabia que o motivo disso vinha de Konig. Não estava brava, apenas intrigada o suficiente pra deixar as gentilezas de lado.
- Konig - o chamei, ainda alternando o olhar entre a mão machucada e os olhos verdes.
Pra hematomas ainda estarem visiveis mesmo usando uma luva de proteção, a surra definitivamente foi bem intencionada. Ou talvez Konig só fosse forte mesmo.
Konig não me respondeu, tentou recuar a mão mas eu a segurei.
- por que?
- somos aliados. Já disse.
- sim, mas como soube de Kade? Não tinha dito nada sobre isso.
- você me disse que ele tinha feito algo com você - a voz dele saía grave e carregada.
- mesmo assim, não disse sobre as ameaças.
- não precisa dizer, Mia - seus olhos permaneceram firmes nos meus pela primeira vez desde que eu entrei naquele lugar.
Algo no jeito autoritário que ele me olhava, me fez calar imediatamente. Era como se minhas tentativas de questioná-lo fossem inúteis. Nós dois, de certa forma, já sabíamos a resposta pra tudo isso.
- vou te levar pra enfermaria.
- isso não é nada. Não preciso dos seus cuidados.
- não é o que parece - apontei para os buracos de bala perdida deixada por ele há pouco.
- sei me virar.
- vamos - ignorei e o puxei, mesmo não conseguindo mover um músculo dele se quer.
Konig suspirou e aceitou em silêncio, colocou a arma no colete e me seguiu feito uma grande assombração atrás de mim.
O caminho foi silencioso, apenas o barulho do cano da arma batendo na cintura dele ecoava. Tive a sensação de sentir o olhar dele queimar em mim, fazendo algo no meu joelho fraquejar momentaneamente.
Chegando lá, Matt estava no meio do atendimento e me comuniquei apenas com alguns gestos de cabeça. Assim que ele nos deixou entrar, fui silenciosamente com Konig até uma pequena sala ao lado que era usada pra internações. Agradeci mentalmente por estar vazia.
- senta aí - disse pra muralha mascarada que apenas observa tudo em silêncio.
Konig sentou, fazendo a maca ranger. Peguei os curativos e os remédios que iria usar. Puxei uma cadeira e me sentei diante dele, e mais uma vez me sentia
ridicularmente minúscula. Comecei a limpar o sangue que já havia secado, me perguntando se era de Kade ou de Konig.Konig me observa de cima, não recuando a mão em nenhum momento. Observei que próximo da região do pulso, havia parte de uma tatuagem da qual não consegui identifcar, mas que provavelmente subia pelo antebraço. A minha teoria sobre ele ser completamente tatuado ainda estava de pé. Definitivamente ele é o estereótipo militar completo, pensei.
- achei que você e Kade fossem amigos próximos - disse quase num sussurro, querendo quebrar o silêncio.
- ninguém tem amigos aqui. Somos colegas de esquadrão.
Outro silêncio. Troquei o algodão que já estava ensanguentado por outro.
- aliados?
- em algumas situações - o sotaque estava pesado mais uma vez.
Coloquei os curativos e sondagens, embora não conseguisse conter a vermelhidão e as regiões roxas nos nós dos dedos.
Quando terminei, fiquei um tempo olhando pra mão dele, tentando controlar a vontade de perguntar o motivo dele ter me defendido dessa forma. Sim, somos aliados mas Kade também é um aliado de Konig há muito mais tempo que eu. E mesmo assim ele arrebentou a cara dele. Konig era um mistério em forma de pessoa. Eu tinha tantas perguntas que tinha certeza de que ele não me responderia. Mesmo após ter socado a face de um aliado próximo por minha causa, pensava sozinha, me sentindo perdida nesse imenso paradoxo chamado Konig.
- Mia.
Se não fosse pela mão dele no meu queixo, me puxando pra cima, não teria saído desse transe.
Ele parecia saber que eu queria perguntar mais, contudo continuava resistindo, apenas me olhando sério.
Tirei a mão dele da minha face e endireitei a coluna, me levantando com os curativos.
Porém antes que eu saísse daquela sala, fui tomada por uma coragem do além pra falar com ele sobre minhas dúvidas. As verdadeiras duvidas. Aquelas que quimavam minha garganta todas as vezes que via a face mascarada.
- Konig.
Assim que me virei dei de cara com seu peitoral bem na minha frente. Ele estava a centímetros de mim, semelhante a uma parede de concreto me olhando com o mesmo olhar de autoridade de minutos atrás. A arma presa em seu colete roçava contra meu corpo e mais uma vez senti meus joelhos fraquejarem.
A mão dele voltou pro meu queixo, erguendo minha face pra que ele pudesse me ver do melhor ângulo possível. Me senti vulnerável com seu toque, embora apenas alguns dedos tocassem minha pele.
- o que disse pro Kade? - perguntei baixinho, e só depois que as palavras falharam senti que estava ficando ofegante devido nossa proximidade.
Konig pareceu gostar de me ver assim e pude jurar que ele sorria por baixo da máscara. O polegar começou a circular meu queixo de forma gentil.
- disse o que ele precisava ouvir - a voz dele também saía baixinho.
- o que disse pra ele, Konig? - tentei falar com mais autoridade mas a cada toque ficava um pouco mais ofegante.
Senti ele se aproximar mais, o metal da arma roçando na minha roupa e o polegar passeando por meu queixo. Meu rosto continuava inclinado pro dele, do jeito que ele queria.
- eu disse que ele deveria pensar melhor antes de dizer esse tipo de coisa pra um aliado meu.
Ele estava mentindo. Os olhos dele mostravam isso.
Tirei a mão dele do meu queixo.
- Konig.
Ele revirou os olhos e cruzou os braços, pensando se deveria falar a verdade. Após alguns segundos de silêncio, os olhos verdes voltaram a me olhar num tom possessivo porém verdadeiro.
- se ele abrir a boca pra falar com você, ou até mesmo chegar perto, esbarrar e tocar em você, ele morre.
Eu estava ofegante, mas após ele dizer isso fiquei completamente sem ar.
Isso explica o fato de Kade estar mais quieto que o normal, evitando até mesmo me olhar.
Konig se inclinou na minha direção, a máscara próxima do meu rosto. Os olhos dele eram incrivelmente lindos quando vistos de perto.
- isso também vale pra qualquer pensamento que ele tiver em relação a você. Fiz questão de deixar isso bem claro pra ele.
Engoli seco. Eu sabia que Konig não era idiota, muito menos fraco, porém nunca havia conhecido esse lado autoritário dele. Ele conseguia ser perigoso quando quisesse.
Eu queria perguntar mais, queria saber porque todo esse zelo comigo mas palavras me faltaram.
- eu estou de olho nele, Mia. Se ele fizer alguma coisa, vou saber. Eu e você somos aliados, deveria saber que levo isso muito a sério.
Konig se endireitou e distanciou de mim, virando-se pra ir embora. Senti o ar finalmente voltar.
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Konig • COD [+18]
Fiksi PenggemarMia havia sido aceita para trabalhar na enfermaria de uma base militar de alta patente. Ela só não esperava estar cercada por soldados atraentes, principalmente por Konig, um atirador austríaco de 2 metros e que por algum motivo sempre a evitava. ❗️...