XXI

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Já era bem tarde da noite quando Konig disse que estava me esperando no galpão de treinamento. Como já esperado, meus horários livres se reduziram a medida em que minha carga horária aumentou, não me dando outra escolha senão treinar a noite.

Retirei meu jaleco e fui apressada em direção ao local. Chegando lá, se não fosse pela pequena fresta de luz que entrava, não teria enxergado Konig que estava de costas trocando a munição.

Me aproximei, um pouco nervosa após todos os rumores e toquei levemente em suas costas, anunciando minha chegada mesmo sabendo que ele provavelmente já havia me notado ali.

O uniforme estava frio, os músculos tensionados, a respiração pesada. Fazia tempo que o via tão de perto, minha mão logo começou a deslizar por suas costas num gesto involuntário, querendo ter a certeza de que ele era real. Queria tocá-lo, senti-lo, mas também interrogá-lo.

- você demorou - ele disse, o sotaque pesando.

- meus horários mudaram. Estou me acostumando ainda.

Ele ficou em silêncio, como se aceitasse minha justificativa mesmo não demonstrando empatia.

- pegue a arma - ele disse baixinho.

Mesmo sabendo a intenção do nosso encontro, me recusava a me contentar que fosse apenas um treinamento. Eu precisava de respotas, queria saber sobre seu passado, sobre os rumores e principalmente o motivo de tanta inquietação.

Se não fosse pelo barulho das munições caindo, não teria despertado do meu transe. Permaneci parada, olhando para as costas do soldado mascarado.

Ele terminou de trocar os cartuchos e se virou pra mim, colocando o rifle à frente do corpo. Com a máscara, ele ficava ainda mais imperceptível naquela penumbra. Senti seus olhos queimarem de cima a baixo.

- Mia.

Fiz um ruído, indicando que o ouvia embora não o obedecesse. Criava coragem pra começar a perguntar.

- a arma. Pegue. - ele repetiu mas não o fiz. Me perdia nas suas íris lindas demais pra serem de um militar. Porra, Konig.

Não demorou muito pra que ele me puxasse pela cintura, colando meu corpo no rifle. Meu objetivo de longe era provocá-lo, o rifle nunca me pareceu amigável o suficiente pra que nós iniciássemos uma discussão. Mas, era difícil pensar em estratégias de persuasão amigável com ele tão perto assim.

Um espasmo percorreu minha coluna ao sentir o peso que sua mão fazia na base do meu quadril. Não sabia que estava tão necessitada por seu toque, inconscientemente desfiz o roteiro de perguntas que tinha pensado horas atrás. A mão dele era muito familiar e me causava nostalgia. Konig me olhava de um jeito possessivo que fazia meus joelhos fraquejarem, contudo seus olhos continuavam ausentes, vazios e preocupados. O semblante introspectivo tomava forma a medida que ele me pressionava contra o rifle e puxava meu queixo pra cima. Interpretei isso como um sinal de alerta desferido a mim. Ótimo, pensei irônica.

- não estou no clima pra brincar de gato e rato, Mia - ele sussurrou, me estudando e apertou propositalmente meu quadril - pegue a arma.

Ele me hipnotizava injustamente que não percebi quando começei a falar.

- em que você tanto pensa? - perguntei num sussurro.

Ele hesitou por um momento. A mão se afrouxou na minha cintura e ele pareceu avaliar a pergunta mentalmente. Os olhos cravaram em mim, os músculos ficaram ainda mais firmes e a nossa proximidade reduziu. Sua sombra imensa me cobria.

- temos coisas a fazer.

- não foi isso que perguntei.

- não pense que não a ouvi.

Konig • COD [+18]Onde histórias criam vida. Descubra agora