Herdeiros do comando

Capítulo 1

Cidade de Deus - 07:02

Raul (Mendes)

Acordei com o despertador tocando.
Peguei o celular de baixo do meu travesseiro e desliguei, me sentei na cama tentando processar.

Levantei da cama e fui direto para o banheiro.
Tomei um banho bem demorado, sai enrolado na toalha, fui até o guarda-roupa, peguei uma bermuda tactel preta, uma camisa preta da Lacoste e uma cueca box, me vesti.

Passei creme no corpo, perfume, coloquei minhas correntes de ouro e o meu relógio.

Ser herdeiro do comando não é um fardo leve para se carregar.

Tive uma infância muito boa, repleta de felicidade e amor.
Não tenho o que reclamar da minha família ou da minha criação.

Obvio que as vezes meus pais pecavam em algumas coisas, mas eu entendo, quatro crianças para criar não é fácil.

Minha mãe sempre deu a vida por nós, parou a vida dela para cuidar da gente e da casa.
Meu pai não fica muito atrás, mas o que diferencia os dois é que ele nunca saiu do crime, mas sempre foi um pai presente.

Peguei meu celular, coloquei no suporte na cintura, calcei minha havaiana branca e sai do meu quarto.

Esbarrei com a Lara saindo do quarto dela.

Mendes: Bom dia, fiona. - falei, ela me olhou e mostrou a língua - Tá atrasada em.

Lara: Bom dia, sherekinho. - sorriu - Vou entrar na segunda aula hoje. - coloquei o braço em volta do pescoço dela - To cansada dessa vida de universitária. - fez careta

Mendes: Tá quase se formando, não desiste. - ela assentiu

Descemos as escadas e fomos para a cozinha.

Mendes: Bom dia, mãe. - dei um beijo na testa dela - Tá acordada essa hora porque?

Lara: Bom dia, mamis. - sorriu e se sentou na mesa

Íris: Bom dia, meus amores. - sorriu com o semblante cansado - Mal dormi essa noite, teu pai me preocupando como sempre. - revirou os olhos

Mendes: É...ele me falou dessa missão aí. - me sentei ao lado da Lara - Mas Deus tá com ele, fica tranquila que já já ele está em casa.

Íris: Se Deus quiser, meu filho. - suspirou

Tomamos café conversando sobre algumas coisas.
Logo a Clara e o Caio apareceram.

Clara: Mãe, o Caio já começou com as palhaçadas dele. - deu um tapa no braço do Caio

CM: Quem começou foi tu, maluca. - empurrou ela - Parece criança.

Mendes: Vamo parar com essa palhaçada, a mãe não tá boa. - falei alto e os dois ficaram quietos

CM: Foi mal aí. - sentou na cadeira na ponta da mesa - Tá indo pra boca? - assenti - Posso ir contigo?

Íris: Não, eu já falei que não quero tu lá! - falou séria e rígida

CM: Porque o Raul pode e eu não? - cruzou os braços - Sou homem também, pô!

Íris: Eu nunca permiti que o Raul entrasse nessa vida, entrou porque ele quis e quando fez vinte anos, tu tem dezessete. - colocou o bule com café na mesa - Eu mando em você e eu já disse que não quero tu lá.

CM: Hipocrisia. - bufou

Mendes: Vai ficar passando por cima do que a mãe fala até quando, Caio? - cruzei os braços - Eu na sua idade respeitava e abaixava a cabeça, nunca bati de frente.

CM: Eu respeito, só não concordo.

Mendes: Tu é de menor, moleque! - falei alto - Só ouve as paradas e abaixa a cabeça. - apontei o dedo pra ele - Se eu te pegar fazendo qualquer bagulho errado, vou quebrar a tuas perna. - ele ficou quieto

Eu entrei nessa vida por escolha, não foi influencia do meu pai e muito menos dificuldades.
Desde menor tenho admiração pelo crime e pela forma que eles ajudam a comunidade, queria fazer parte disso!

Minha mãe me criou da mesma forma que está criando o Caio, me manteve longe dessa vida por muito tempo, ou pelo menos tentava.

Perigo sempre teve o mesmo pensamento que ela, nunca me influenciou de nada.
Na verdade ele nem comentava sobre os correr que fazia.

Ele é criminoso da porta para fora, dentro de casa é o Pierre.
Eu admiro muito isso nele, não sei como ele consegue separar as coisas, mesmo sendo um dos chefões do comando vermelho.

(...)

Íris

Minha maior dificuldade como mãe, é manter meus filhos fora de perigo e da criminalidade.
Permanecemos na CDD por escolha, por amar aqui e ser o nosso lar, mas confesso que hoje em dia eu me arrependo muito dessa escolha.

Raul sempre foi muito obediente e me escutava, mas chega uma hora que não podemos mais escolher pelos nossos filhos.

Ele fez a escolha de seguir como "herdeiro do comando", eu como mãe fiquei decepcionada, mas já não podia fazer mais nada em relação a isso.
Minha parte eu fiz, eduquei, ensinei o que é certo e errado.

Caio é diferente do Raul, bate de frente e discute sempre.
Só é mais tranquilo quando o pai está, Pierre é super rígido com tudo.

Só não foi pra cima do Raul quando soube que ele estava trabalhando para o J2, porque eu não deixei.

Foi uma confusão danada.

Lara: Mãe, estou indo pra faculdade, mas assim que eu chegar te ajudo com os negócios da ong. - deu um beijo no meu rosto, pegou a bolsa e saiu correndo

Lara é um amor, me ajuda com tudo o que eu preciso e faz faculdade de Serviço Social.
Clara é bem rebelde, da um pouco de trabalho, mas nada comprado ao Caio. É bem estudiosa também e me ajuda bastante na ONG.

As vezes temos que puxar as rédeas.

Clara: Vamos, Caio. - se levantou e terminou de tomar o suco - Já estamos atrasados e a diretora não vai deixar a gente entrar na segunda aula de novo.

Caio se levantou e saiu sem se despedir.
Clara me deu um beijo e saiu correndo atrás dele.

Raul: Tu tem que ser mais pulso firme com o Caio, mãe. - me olhou - Sei que no momento eu não sou exemplo, mas não quero ele nessa vida.

Íris: E nem eu queria tu nessa vida né, Raul. - suspirei - Vou conversar com o seu pai sobre isso.

Raul: Ele volta quando? - se levantou e começou a pegar os pratos

Íris: Na segunda. - ele assentiu

Pegou as coisas e colocou na pia.

Raul: To indo no corre, fica com Deus. - falou e saiu

Terminei de comer, guardei as coisas e comecei arrumar a cozinha.

Criei uma ONG para ajudar todas as famílias.
Hoje em dia á algo grande, estamos em todas as favelas do comando vermelho.

O nome é "Amor pelas vielas".
Ajudamos com roupas, comidas e moradia.
O comando que custeia todo o nosso projeto.

Tenho orgulho de dizer que eu sou a criadora desse projeto lindo!