Capítulo 8

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Jacarezinho - 04:12

Lara

Caminhei até o beco mais próximo, fui até o final, abaixei meu shorts e fiz xixi. 
Sacodi, e arrumei a minha roupa. 

Ouvi passos e me assustei, tentei enxergar quem era, mas ainda estava escuro. 
Ouvi mais passos e fui andando na direção. 

Acredito que seja alguém que veio usar o banheiro também. 
O baile todo vem aqui. 

Passei pelo homem sem nem olhar. 

- Ou. - puxou meu braço - Aonde tu vai, garota? - visualizei o rosto dele 

Era branco, cheio de tatuagens, cabelo bem curto, quase careca. 

Lara: Me solta! - bati na mão dele - Tá maluco? - gritei - Sabe de quem eu sou filha, seu arrombado? 

- Claro que sei...- sorriu - Filha do Perigo e da puta da Íris. - riu e eu dei um tapa na cara dele, o mesmo me olhou furioso 

Lara: Não fala da minha mãe dessa forma, desgraçado! - gritei - Se tu conhece ele, sabe muito bem que se encostar em mim, amanhã tu tá morto. - me virei e fui andando, senti um aperto no meu braço e um impulso para trás 

- Vem aqui, garota. - me enforcou e foi me arrastando para o fim do beco 

Fiquei desesperada, dei vários tapas e socos nele. 
Ele é bem maior que eu e mais forte. 

Meu coração acelerado e estava suando frio. 

Lara: Me solta! - falei quase sem ar 

- Tu vai dar uma voltinha comigo, mas vai ficar quieta, se não eu te mato. - tirou a faca da cintura e pressionou na minha barriga - Caladinha, ouviu? - assenti com medo 

Algumas lágrimas escorreram e ele passou a mão no meu rosto secando. 
Ele tirou a outra mão do meu pescoço e eu respirei fundo, tentando me acalmar.

- Vamos, princesa do tio. - colocou o braço em volta do meu pescoço e me puxou para andar - Tu parece com a sua mãe, sabia? - me olhou sorrindo e pressionou a faca na minha barriga  

Fiquei em silencio. 
Eu estava em estado de choque, não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo. 

Minha mãe me avisou tantas vezes, para tomar cuidado. 

O carro dele estava estacionado em frente ao beco, escondendo a passagem. 
Ele abriu a porta e me jogou lá dentro, colocou o cinto em mim, bateu a porta do carro e trancou. 

Deu a volta, destrancou, abriu a porta e entrou. 
Ele colocou o cinto, ligou o carro e deu partida. 

Eu olhava tudo atentamente e em pânico.

Lara: Porque tu tá fazendo isso? - implorei - Me deixa ir...eu não tenho nada a ver com a rivalidade sua com o meu pai. 

- Cala a boca, garota! - disse sério 

O cara que estava na entrada da favela acenou pra ele, me viu e mesmo assim liberou a passagem. 

Lara: Cara, por favor....me deixa em paz...eu te imploro! - pedi desesperada 

- Cala a porra dessa boca. - me deu um tapa forte na boca - Vou te matar, desgraçada! - gritou 

Senti um gosto amargo na boca, coloquei a mão e vi que estava sangrando. 
Ele se inclinou, abriu o porta-luvas e pegou uma máscara. 

- Coloca isso aqui. - me entregou e eu neguei - Eu to mandando! - gritou - Coloca essa porra no rosto agora, garota! - me deu um soco na coxa - Filha da puta! 

Coloquei a máscara chorando. 
Em alguns segundos senti a minha visão ficar turva e fui perdendo os sentidos aos poucos.  

(...)

Íris

Mendes: Não achei ela em lugar nenhum, mãe. - chegou suspirando - Se essa menina tiver enfiada na casa de alguém, quem vai bater nela sou eu! 

Íris: Deixa tua irmã, Raul. - falei olhando a mensagem da Clara - Tua irmã disse que o Caio sumiu e a casa está toda revirada. - olhei pra ele preocupado - Vamos indo, depois a Lara vai. 

Ele assentiu sério e foi até o carro, fui atrás dele. 
Entramos no carro, colocamos o cinto e ele deu partida. 

Meu coração estava quase saindo do peito. 
Caio quando está com raiva, faz as coisas sem pensar. 

Tenho até medo do que ele possa ter feito hoje. 

Eu faço de tudo pelos meus filhos, do a alma pra cuidar, dei a minha cara a tapa muitas vezes para proteger e educar.

Mas mesmo assim, parece que não valeu de nada. 
Sei que os filhos nunca serão iguais, mas o fato dos meninos quererem ir para a vida errada, não cabe na minha cabeça. 

Eles passam na pele o medo do pai sair de casa e não voltar mais, eles sabem bem o que é viver escondido, o que é ter que viver em uma favela pra ter proteção. 

Porque eles querem essa vida?
Eu lutei tanto para que isso não acontecesse, mas parece que nunca valeu de nada. 

Mendes: Vai ficar tudo bem, mãe. - olhei pra ele e assenti - Caio deve estar fumando maconha na praça. 

Fiquei em silencio o caminho todo, estava apreensiva. 
Continuava ligando para a Lara, ela nunca saiu sem avisar. 

Mas pelo fato de ter brigado com o pai, deve estar com raiva. 

Raul estacionou o carro em frente a nossa casa, vi a Clara no chão chorando e dois caras de contenção. 

Desci do carro e fui até ela. 

Íris: Filha, o que está acontecendo? - me sentei ao lado dela - Para de chorar, meu amor. - abracei a mesma 

Clara: Mamãe, o caio sumiu. - gritou ainda chorando - Eu não posso perder ele...e se le fizer alguma besteira? - me olhou - Mãe...eu não posso perder ele. 

Íris: Calma, meu amor. - abracei ela novamente - Seu irmão deve estar bem, se acalma...vamos encontra-lo. 

Mendes: Vou atrás dele. - disse olhando para o celular - Qualquer parada me liga. - assenti - Se ele aparecer principalmente. 

Íris: Tá bom, filho. - engoli o choro - Se cuida. - ele assentiu, entrou na garagem e saiu com a moto 

Fiquei mais alguns minutos ali no chão com ela. 
Algumas véias fofoqueiras começaram a sair de casa, para ver o que estava acontecendo. 

Íris: Podemos entrar na casa? - perguntei para um dos meninos 

- Pode sim, patroa. - me levantei e puxei a Clara - Vamos ficar aqui fora na contenção. 

Íris: Não...acho melhor ficar lá dentro. - ele assentiu - Vamos tomar um café, preciso acalmar ela. - entrei na garagem abraçada com a Clara, passei pelos carros e entrei em casa 

Levei ela até a cozinha e os meninos foram atrás.

Íris: Senta aí, amor. - ela se sentou ainda chorando - Para de chorar, Clara. - falei séria - Teu irmão está com birra  quer fazer graça, mas seu pai já foi atrás. - ela assentiu limpando as lágrimas - Meninos, podem se sentar. 


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