Herdeiros do comando

Capítulo 23

Caio

Abri os olhos e fechei rapidamente com a claridade.

Abri novamente ao poucos, estava escutando apenas um zumbido e sentindo muita dor pelo corpo todo.

Vi que estou com os dois braços e as duas pernas engessadas.

Olhei para o lado e vi a minha mãe no celular.

Caio:Mãe...-chamei com a voz falha e a mesma me olhou

Se levantou da poltrona e se aproximou da cama.

Íris: Tá sentindo alguma coisa? - perguntou séria e eu assenti - Vou chamar o médico. - saiu da sala

Ouvi os fogos e logo em seguidas os tiros.

Minha mãe voltou desesperada.

Íris: Aí meu Deus...- respirou fundo - Deus, guarde o meu marido e o meu filho, eu te suplico! - seus olhos se encheram de lágrimas

Caio: Deus, o Perigo tu pode levar, ele é um peso aqui na terra. - falei e a minha mãe me olhou com fúria

Se aproximou da cama e senti um impacto na boca e logo em seguida o gosto do sangue.

Íris: Se tu falar mais alguma merda, eu vou te encaminhar daqui direto para a UTI! - falou apontando  o dedo na minha cara

Caio: Depois do que ele fez comigo e tu está do lado dele? - meus olhos se encheram de lágrimas

Íris: Chega, Caio! - gritou - Eu estou cansada de toda essa palhaçada!

Caio: Eu não pedi pra tu ficar ao meu lado. - ouvi um estralo e senti meu rosto arder - Se tu colocar a mão em mim de...- senti mais uma vez a ardência no rosto

Íris: Eu sou tua mãe, me respeita! - continuou gritando com o dedo apontado para o me rosto - Tu não pediu pra mim ficar ao seu lado, deitou aos meus pés e implorou!

Caminhou até a porta e bateu a mesma.

Íris: Fiquei ao seu lado a vida inteira, Caio. - se aproximou novamente - Desde quando tu completou dez anos é um peso pra mim e sabe porque? Sempre me deu trabalho, sempre fez as coisas para chamar a atenção e eu tive que deixar tudo de lado...minha vida, seus irmãos e o meu casamento, por sua causa! - neguei - Mesmo cometendo o maior erro da sua vida, eu estive ao seu lado, mais uma vez deixando tudo para trás e é assim que você me retribui? Dessa maneira? Isso não está certo! 

Caio: Eu sempre fui um peso pra você? - ergui as sobrancelhas - Íris, desde quando eu era pequeno, tu tratou a gente como se fôssemos desconhecidos que você cuidava. - ela fez uma cara de surpresa - Nunca parou para pensar? A sua raiva pelo Perigo interferiu no seu papel de mãe. - ela negou com algumas lágrimas escorrendo - Nunca te dissemos isso né? - ri de canto - Pois pode perguntar para qualquer um deles, todos vão dizer a mesma coisa.

Íris: Não ousa falar dessa maneira, eu parei a minha vida por vocês! - gritou

Caio: É claro que tu tinha que parar a sua vida pra cuidar de quatro crianças, quem teve os filhos foi você! - gritei - Ninguém pediu pra nascer e o meu pai não obrigou tu gerar nenhum de nós! - uma lágrima escorreu pelo meu rosto - Tu nunca serviu para ser mãe, só pensa em si mesma...

Íris: Tu não sabe nem a metade do que eu passei, Caio. - se sentou na poltrona e apoiou a cabeça nas mãos - A minha vida inteira foi de sofrimento e eu achei que quando casasse ia ser tudo perfeito, que a minha família ia ser perfeita... Mas não foi como eu pensava. - ouvi ela chorando baixio - Meu maior medo era errar como mãe e hoje eu vejo que eu fui a pior mãe que vocês poderiam ter. - se levantou

Caio: Eu não falei isso pra te machucar! - ela se virou e caminhou até a porta - Mãe....fica! - implorei

Íris: Tu vai ficar melhor sem mim. - disse sem me olhar

Ela abriu a porta, saiu e fechou com força.

Senti o peso de todas as minhas palavras.

Eu não falei aquilo para machucar ela, disse apenas o que ela precisava saber.

Na cabeça dela, ela sempre foi a melhor mãe do mundo.
Mas desde que eu me entendo por gente, eu lembro dela jogando na nossa cara que teve que parar a vida dela para cuidar de nós.

Isso não é justo!
Quem quis ter filhos foram eles, nenhum momento pedimos para nascer.

E se ela já sabia como o meu pai era, porque não parou no primeiro filho?
Acredito que daria menos trabalho.

A porta se abriu e o médico entrou.

Doutor: Sua mãe disse que acordou sentindo muitas dores. - assenti e ele se aproximou - Vou pedir para a enfermeira te medicar, tudo bem? - assenti novamente

(...)
Perigo

Corri entre os becos para chegar na boca.
Raul levou dois tiros e levaram ele para lá.

É por esse motivo que eu não queria os meus filhos nessa vida.

Não sei do que seria capaz de fazer se soubesse que um deles morreu em confronto.

De uma coisa eu tenho certeza, eu vou até o inferno para encontrar o filha da puta!

Arrumei o fuzil nas costas e peguei a pistola na cintura.

Logo menos eu tô metendo o pé dessa vida!

Virei outro beco e dei de cara com dois alemão.

Ali eu vi que era o meu fim.
Meu coração acelerou e tentei recuar.

Ouvi o barulho dos tiros e senti minhas costas queimar.

Senti o impacto do meu corpo cair no chão.
Ouvi mais dois tiros e minha visão foi ficando preta.

- Esse aí já era. - gargalhou alto e passou por cima do meu corpo - Mais uma pra nossa lista.

Minha visão escureceu de vez e fui perdendo a audição aos poucos.