Conseguimos segui-los, sem os perder de vista, durante boa parte do percurso, mas quando chegamos ao que parecia ser uma grande feira de abastecimento, acabamos perdendo a visão do carro deles. Pond estava bastante ansioso ao meu lado, pois aquele era um lado da cidade totalmente desconhecido para nós e, principalmente, pelo fato de ele não entender o que estávamos fazendo ali.
Resolvi dar uma volta com o carro no local para tentar achar os dois novamente, e naquele momento, sinceramente, eu já tinha perdido a noção total do que eu queria ali ou do porque eu estava os seguindo. Depois de umas duas voltas e sem sucesso em encontrá-los, percebi que Pond estava com a sua ansiedade no limite e conhecendo o meu amigo, resolvi que era a hora de irmos embora. A minha adrenalina também já tinha diminuído e com todo o álcool que eu havia consumido até ali, o sono começou a bater.
"Pond, vamos voltar.. Mas antes, você não quer tomar um café ou algo comigo ali?!", perguntei ao meu amigo apontando para um vendedor de rua que era bem movimentado, "Preciso tomar algo pra despertar e dirigir o caminho de volta.."
"Uma água e um café seriam bom mesmo, D.", ele respondeu e hesitou a fazer outra pergunta.
"Vou lá comprar pra gente, espera aqui..", eu disse saindo do carro e indo em direção a barraca. O lugar ao meu redor tinha tudo para parecer uma feira normal, mas as pessoas que se encontravam ali tornava tudo muito estranho. Olhando ao meu redor conseguia ver que muitos ali não tinham nada a ver com a venda e distribuição de alimentos, já que apesar de tentarem disfarçar, a maioria dos homens ali andavam armados, então, com toda a certeza, aquilo ali era fachada para alguma coisa.. O que estariam Boto e Phuwin fazendo ali?!
Talvez por ser uma das poucas barracas que vendiam comida e bebidas naquele horário, acabou demorando bastante para chegar a minha vez e, enquanto aguardava o meu pedido ficar pronto, comecei a perceber uma movimentação estranha das pessoas no local. Eles começaram a ficar bastante agitados e aquilo me deixou com medo, afinal, os caras tinham armas. Comecei a observar eles com mais atenção, mas ao mesmo tempo tentando ser o mais discreto possível, quando percebi que eles olhavam fixamente para um galpão que se encontrava do outro lado da rua. Claramente, do lado que estávamos, só podíamos ver a parte de trás do lugar, mas a movimentação ali também era estranha. Alguns homens começaram a sair de tempos em tempos de lá e isso só aumentava a agitação das pessoas na barraca.
"... Tenho certeza que é o Boto chefe, são os homens deles saindo.." eu ouvi um deles falando no celular e isso levou a minha atenção total a saída do galpão. Peguei as nossas bebidas e corri em direção ao carro. Pond tinha mudado para a posição de motorista quando cheguei e por isso me sentei no carona.
"Você demorou Dunk, carai...", meu amigo disse assim que entrei no carro, "Eu bebi menos que você, então eu dirijo..", ele continuou falando pegando a bebida da minha mão, mas a minha atenção estava no galpão.
"Aparentemente, eles estão ali Pond", eu respondi ao meu amigo enquanto apontava para o galpão, "Eu ouvi um dos homens falando isso lá na barraca", continuei falando. A atenção dele foi para o galpão também e tudo o que passava na minha cabeça era que os dois deveriam estar metidos em algo bastante perigoso, pois aqueles homens não pareciam simples. Resolvi então que era melhor irmos embora dali sem nos envolvermos. Eu queria uma distração, não um problema.
"Dunk, acho melhor a gente ir embora..", Pond disse e eu concordei. Ele começou a sair com o carro quando a cena a nossa frente começou a se passar como se estivéssemos no cinema: 3 homens saíram do dito galpão e foram recebidos com tiros dos homens que estavam na barraca de comida. Eu pude reconhecer dois deles como sendo o tal do Boto e o Phuwin. Assim que os tiros começaram, as pessoas começaram a correr e a gritar, e eu empurrei e gritei para o Pond se abaixar. Quando eu finalmente consegui ver o que estava acontecendo, percebi que tiros começaram a vir da direção de Boto também, e como nós estávamos bem perto de onde tudo estava acontecendo, vi que os três homens estavam encurralados e que um deles parecia ferido.
"POND, dirige! A gente precisa ajudar eles.." eu falei e Pond me olhou indignado, "Levanta um pouco a cabeça que você vai ver do que eu tô falando, RÁPIDO", continuei apressando o meu amigo que hesitava a levantar a cabeça de trás do guidom do carro. Parece que passaram horas para ele criar coragem, mas na verdade foi bem rápido, e assim que ele viu, ele entendeu o que eu estava falando. Os homens, realmente, precisavam da nossa ajuda. Eu pulei para o banco de trás quando ouvi:
"AAAAAAAAAAAAAH", Pond gritou enquanto saiu com o carro em disparada na direção deles.

Phuwin me olhou e eu sabia que não tínhamos outra chance. Acenei com a cabeça para o meu amigo entrar no carro, levantei e dei mais dois tiros em direção aos homens que agora corriam com pressa em nossa direção e devolviam mais tiros. Dunk ajudou Phuwin a arrastar o corpo de Luiz para dentro do carro e o motorista agora gritava em minha direção.
"VAMOS BOTO, ENTRA LOGO! AI MEU DEUS, ELES ESTÃO ATIRANDO NA GENTE.. D A GENTE VAI MORRER", o motorista gritava desesperado.
"PULA DE BANCO", eu gritei para ele enquanto trocava mais tiros com os homens.
Ele fez o que eu mandei e eu, finalmente, entrei no carro e assumi o volante. Saí dali desesperado e pude ouvir, além de mais tiros, o barulho de sirenes da polícia se aproximando do lugar. O homem ao meu lado não parava de gritar, e os homens no banco de trás pareciam estar no mesmo nível de desespero que ele. A CEASA ficava em um bairro do centro, mas era um bairro mais comercial e, por esse motivo, naquele momento, tirando o local da feira, tudo ao redor estava soturno e escuro. Eu precisava de um lugar para esconder o carro antes de que a polícia nos encontrasse.
Eu queria pensar em outra solução, mas naquele momento eu sabia que não teríamos tempo e que nada sairia da minha cabeça com toda aquela gritaria ao meu redor. Vi que logo a frente tinha um daqueles estacionamentos que cobram por hora e resolvi que seria a solução: para a minha sorte tinham alguns carros estacionados lá, então entrei, desliguei o carro e apaguei todas as luzes. Assim que estacionei, me dei conta do que estava acontecendo dentro do carro e do motivo da gritaria: Luiz estava morrendo.
O homem ao meu lado tinha parado de gritar e agora só chorava. Phuwin e o outro homem tentavam estancar o sangue, mas era claro para mim que já era tarde demais. Eles gritavam um com o outro.
"SILÊNCIO!", falei pela primeira vez desde quando entrei naquele carro. "Vocês precisam fazer silêncio! PHU, a polícia..", eu continuei e todos ficaram em um silêncio absoluto ao perceberem que tinham várias viaturas e lanternas da polícia próximas de nós. Não se escutava nada no carro, e até o homem ao meu lado parecia ter engolido o choro.
"Boto..", Luiz começou a falar e levantou a mão em minha direção. Eu olhei para o homem que estava com a cabeça no colo do riquinho e o resto do corpo esparramado em cima de Phuwin. "Cuida..do.. gen..te.. gran..de..", ele tentava falar no meio de suspiros de dor. Parecia que tudo ao nosso redor tira parado e todos no carro tinham a sua atenção fixa nele. "Le..On.. LEON".
Notas da autora:
Esse foi o capítulo mais difícil de escrever até agora e, confesso, não estou satisfeita com ele. Mas eu preciso encerrar esse arco e começar o outro, então por enquanto ele vai ficar como está 🥲. Assim que possível eu volto pra editar ele. Obrigada desde sempre e comentários são sempre bem vindos.
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Midgnight City
RomanceDois mundos, dois homens, uma sexta-feira, um golpe. Archen, aka Boto, é um subchefe do tráfico, responsável por uma das áreas mais ricas e violentas. Ele vê na descoberta que o braço direito do seu líder está trabalhando para a polícia a oportunida...