O momento em que o Phuwin e os homens dele conseguiram imobilizar os seguranças da porta traseira e entraram no galpão, minha adrenalina começou a disparar e eu sabia que era a hora de começar. Eu, Podd e o resto dos homens invadimos a porta da frente e, logo demos de cara com cerca de 12 pessoas que pareciam estar assustadas e sem entender o que estava acontecendo. Nem todos ali pareciam fazer, realmente, parte dos homens do Tawan. Alguns pareciam ser somente funcionários do galpão e isso provou que até agora o meu plano tinha dado certo: o grupo de homens do Tawan tinha se dispersado.
"Boto, não posso dizer que é uma surpresa ver você aqui..", disse um deles que segurava um walk-talkie, e logo o reconheci como o Mochila, um dos homens mais próximos do Tawan. "Esse Luiz é um boca mole mesmo.. Falou com a polícia e falou com você..."
"Parece que hoje é a noite deles, não concordas?!", respondi.
"Sim, sim.." disse ele caminhando para frente do grupo de homens que agora faziam questão de mostrar suas facas, pedaços de pau, ou seja, qualquer coisa que machucasse e que não fizesse tanto barulho como armas de fogo.
"Confesso que fiquei surpreso quando cheguei lá e encontrei o casalzinho com o Luiz.. Sabíamos que alguém tinha tirado o Luiz da cadeia, mas não sabíamos quem era..." ele continuou e eu sorri mentalmente, "O chefe não está nada feliz com a sua brincadeirinha Boto.. e acho que ele vai gostar menos ainda quando descobrir que você fechou parceria com esse lixinho aí.." concluiu apontando a mão para o Podd.
"Que culpa eu tenho se ela preferiu o meu pau ao dele?!", respondeu Podd com voz de deboche e dando risadinhas, "Negócios são negócios, mulheres a parte. Se ele não entende isso, então a hora dele chegou.. Né não, Boto?!"
Eu tirei a mão do bolso, posicionei a minha faca para que todos pudessem ver e falei: "Negócios são negócios, e o Tawan perdeu a linha nos últimos tempos Mochila. O que vocês esperavam?! Todo mundo precisa ganhar, senão a máquina não funciona..."
Mochila não conseguia tirar os olhos da faca em minha mão. Ele sabia o que aquilo significava. Eu não tinha crescido tanto na organização nos últimos anos só pela maneira que eu liderava e cuidava da área do The Ferrys, e Mochila era um dos homens que sabia disso. Tawan tinha conhecido e reconhecido um dos meus talentos anos atrás: eu não conhecia ninguém tão rápido e certeiro com uma faca quanto eu. Os meus anos nas ruas e nesse mundo haviam me ensinado muitas coisas, e uma das principais era que para sobreviver você tem que aprender a depender só de você. Brigas de rua era algo comum na minha vida, algo que corria no meu sangue, mas era algo muito inconstante. Então eu busquei a constância e aprendi novas habilidades: facas, armas brancas e algumas lutas marciais era o que eu gostava de aprender no meu "tempo livre". Tawan reconhecia as minhas habilidades e, não era incomum, ele me mandar resolver imprevistos ou pedir favores. O olhar fixo na faca que estava na minha mão me dizia que Mochila teve a certeza que eu não estava ali de brincadeira.
Virei a faca na minha mão e continuei a falar: "No momento em que ele começou a nos roubar, ele nos deu o direito de fazermos o que quisermos.."
"Roubar?! COMO VOCÊ OUSA BOTO?!", ele me respondeu gritando, "Ele está fazendo o que acha ser melhor para a nossa organização..."
"Isso não importa.. Ele não pode cortar os nossos lucros para fazer o que acha que deve fazer. TODO MUNDO PRECISA GANHAR, Mochila", fui incisivo. "Vou dar uma oportunidade para vocês: ou vocês saem da frente e não atrapalham, ou vamos passar por cima.."
Podd começou a assoviar uma música aleatória e os homens atrás de mim começaram a se preparar para a briga. Diferente do que muita gente pensa, armas de fogo não são muito utilizadas dentro dos nossos meios, principalmente em lugares como esse, onde ninguém quer chamar muita atenção. Quando temos conflitos externos, aí sim, as usamos.
"Garoto, você acha mesmo que vai conseguir sair vivo daqui hoje?!", Mochila indagou e mais uma vez eu vi alguém duvidando da minha capacidade essa noite.
"Então é passar por cima..", conclui e dei o sinal para que avançássemos.
Fixei como objetivo chegar no Mochila, que assim que percebeu o que estava acontecendo, mandou os homens na frente e começou a chamar por reforço pelo walkie-talkie. Eu sabia que tinha muitos mais homens aqui do que os que estavam na minha frente, mas era mais interessante ir os eliminando aos poucos. Um dos caras tentou me acertar com um pedaço de pau, mas eu desviei e o acertei um soco no pescoço e furei uma das pernas dele com minha faca. Eu não podia perder tempo. Mochila conseguiu e outros homens começaram a entrar aquela área de entrada. Percebi que ele estava focado em entrar por uma outra porta que ficava mais ao fundo, então olhei para Podd e perguntei: "Você dá conta?!"
"SIM, PODE IR, PEGA ESSE FILHO DA PUTA", ele respondeu se preparando para a chegada desse novo grupo de homens.
"Podd, ninguém pode sair.." eu conclui e sai em direção a Mochila. Percebi que somente 3 dos meus homens me seguiam e fomos limpando o caminho até a porta. O homem parecia desesperado para chegar ao lugar e quando chegamos lá percebi o motivo: a porta levava a um corredor fino e que estava lotado de mais seguranças. Eu sabia que, com certeza, o CD principal do Tawan ia ser bem assegurado, mas não imaginava que seriam tantos homens assim. Por um momento pensei e desejei que Phuwin estivesse bem e voltei a focar na situação a minha frente. Peguei uma outra faca que tinha e comecei a marchar em direção ao final do corredor..
"QUERO VER VOCÊ SAIR VIVO DESSA BOTO.. TU NÃO É NENHUM SUPER HOMEM NÃO CARALHO..", Mochila gritava do fim do corredor, escondido atrás de cerca de 11 homens.
O que ele não sabia era que a disposição do corredor me ajudava, afinal, como o lugar era pequeno o máximo que podia acontecer era 2 me atacarem ao mesmo tempo. Fui avançando e avançando, na minha frente eu só via vermelho e a minha adrenalina estava a mil. Em algum momento, eu senti uma dor no meu braço esquerdo, em um outro momento eu senti uma pontada na lateral da minha barriga e no final senti alguém tentando agarrar a minha perna. Mas continuei seguindo e quando percebi e olhei para trás, vi um caminho de corpos e no final desse caminho vi os rostos assustados dos 3 homens que me acompanhavam.
"
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Midgnight City
RomansaDois mundos, dois homens, uma sexta-feira, um golpe. Archen, aka Boto, é um subchefe do tráfico, responsável por uma das áreas mais ricas e violentas. Ele vê na descoberta que o braço direito do seu líder está trabalhando para a polícia a oportunida...