Depois de me recompor no banheiro, cheguei a conclusão de que poderia usar do amigo de Forth para tentar descobrir algumas coisas sobre Phuwin, e o tal do Boto. Já tinha um tempo que eu estava interessado no primeiro e, normalmente, quando eu queria, eu conseguia. Mas mesmo frequentando aquele lugar quase todas as semanas, era difícil interagir com ele. Ele dificilmente descia de seu escritório e, quando o fazia, eram passagens rápidas. Se eu fosse ser sincero, o que tinha me interessado no começo era o fato dele parecer bastante, fisicamente, com o meu ex Gemini e, depois, o fato dele parecer inalcançável. Eu gostava de um desafio e, principalmente, naquele momento eu precisava de um.
Quando voltei a mesa, percebi que todos conversavam animadamente, menos Force que parecia estar mais preocupado com as coisas que estavam acontecendo no lugar. Aquele homem me incomodava de uma maneira que eu não conseguia explicar.
"Dunk! Você tá bem?!", perguntou Pond preocupado enquanto eu sentava ao seu lado.
"Claro que sim, P", respondi sorrindo, "Eu só precisava me refrescar, têm bastante gente aqui hoje e está muito quente."
Peguei o meu copo e me servi uma dose, mas resolvi que iria diminuir a velocidade. Percebi que agora a atenção de Force estava em mim, e era como se ele quisesse me perguntar alguma coisa.
"Dunk, o seu sobrenome é Leon, certo?!", ele começou e eu acenei confirmando com a cabeça. "Então, você é o que: primo, irmão, do Mix?!"
"Irmão..", respondi e ele abriu um sorriso que me deixou intrigado e desconfiado.
"Você conhece o P'Mix?!", Pond perguntou a ele e eu agradeci mentalmente ao meu amigo, pois também queria saber essa informação, mas ao mesmo tempo não queria parecer muito interessado. Como disse antes, a presença do Force era algo que me incomodava e, claramente, ele não era alguém que realmente fazia parte do nosso meio.
Forth, entre nós três, era o que tinha a "responsabilidade" mais estranha com a família dele. O pai dele o obrigava, várias vezes, a servir de acompanhante para os filhos, amigos, parentes, ou qualquer coisa, dos parceiros de negócios dele. A família do Forth era dona de um dos portos mais importantes da cidade e, por isso, a maioria dos negócios deles eram na base dessas conexões pessoais. Não era incomum para mim e para o Pond ter que receber os "amigos" dele em nossas saídas, mas as vezes era, simplesmente, desconfortável. E essa noite era uma dessas situações.
"Conhecer, conheceeer.. Eu não conheço." Force começou, "Eu o vi umas duas ou três vezes na casa do meu tio.."
"Wow, o seu tio parece ser alguém importante..", divagou Pond, "Você já falou dele várias vezes essa noite.", ele concluiu e eu entendi o que o meu amigo estava fazendo. Pond parecia bobo e medroso, mas ele estava longe de ser isso.
"Ele trabalha com o que?!", perguntou, "Vai ver nós o conhecemos também.."
"Acho difícil..", Force respondeu desviando o olhar, "Ele é só um líder comunitário e gerencia alguns negócios pequenos.. Não é ninguém tão importante assim."
"Deixa de humildade Force..", disse Forth se metendo em nossa conversa, "Ele e meu pai tem feito grandes negócios nos últimos tempos.. Eu ouvi que ele tem uns 3 barcos grandes."
"Então, definitivamente, não são negócios pequenos..", Pond concluiu e continuou tentando trazer o foco da conversa para Force: "E ele conhece muita gente, né?! Além do P'Mix, do pai do Forth.. ele também trabalha com o dono do The Ferrys.."
"O seu tio faz vários tipos de negócios, eu diria...", finalmente voltei a falar, pois Pond havia deixado o assunto onde eu queria. Todos ali sabiam que para alguém estar negociando com portos, bares e política, coisa totalmente lícita não era. Isso era o mais comum no nosso meio. Praticamente todos os nossos negócios familiares tinham um lado que beirava a lei.
Force começou a parecer realmente desconfortável com toda a atenção que tinha em cima dos negócios do seu tio, e eu sabia, que mesmo ele usando isso para querer se enturmar, era algo que ele não podia estar discutindo em uma mesa de bar.
"O seu tio e Phuwin são próximos, então você o conhece bem..", continuei.
"Você pode dizer que sim, eu o conheço bem. Book, baby, você quer comer alguma coisa?! Vou chamar o garçom para você", ele me respondeu e tentou mudar de assunto.
"O que você quis dizer com: 'o Boto costuma ser bastante possessivo com as coisas dele'. Eles tem alguma coisa rolando entre eles, são tipo um casal?!", perguntei trazendo ele de volta para a conversa, e percebi que ele gostou do meu interesse ter mudado de assunto.
"Tem muitas conversas por aí que dizem que eles tem alguma coisa. Mas ninguém sabe dizer se é real ou só papo furado..", ele me respondeu e sorriu antes de dizer, "Você viu como ele agiu com você, Dunk."
"Hm..", respondi e dei um gole em minha dose.
"Pelo o que eu já escutei dos dois: o Boto é o único capaz de lidar com o Phuwin..", Force continuou, "E Phuwin só dá ouvidos a ele... Quer que eu te prove isso?!", ele concluiu sinalizando para o garçom se aproximar.
Enquanto o homem caminhava em direção a mesa, ele me perguntou: "Você já deve ter convidado ele algumas vezes para a sua mesa, certo?! Ele já veio alguma vez?!"
"Nunca, ele sempre fecha a cara e vai embora..", respondeu Forth rindo, "Coitado do meu amigo D.."
Force sorriu ainda mais com essa informação e a minha vontade foi a de estrangular o meu amigo. O garçom chegou: "Os senhores desejam mais alguma coisa?!"
"Force, baby, eu vou querer isso e esse aqui também..", disse Book apontando para as opções no cardápio. O garçom anotou os pedidos de Book e Force lhe direcionou uma pergunta: "Boto e Phuwin ainda estão aqui, certo?! Você poderia chamá-los para nós?! A companhia deles seria muito agradável.."
O homem pareceu meio desconfortável com o pedido ao responder: "Eles estão sim, mas pediram para não serem incomodados pelo resto da noite."
Force continuou: "Ah, mas fazer companhia para alguns amigos não seria um incômodo, seria?! Ainda mais amigos que estão sempre por aqui..."
"O senhor Boto foi bastante claro ao pedir para não ser incomodado..", o garçom continuou negando o pedido.
"Como eu lhe disse, eu tenho CERTEZA que não seria um incômodo para ele", disse Force levantando um pouco a voz. "Afinal, hoje é a minha primeira vez aqui e eu faço QUESTÃO da companhia deles..."
"Eu vou levar os seus pedidos e repassar o recado, senhor?!", respondeu o garçom que parecia bastante perturbado com a informação.
"Force, é o meu nome. Diga a eles que eu e o senhor Dunk gostaríamos muito da presença deles aqui.", ele concluiu e me olhou sorrindo enquanto o homem ia embora.
Eu não gostei nada dele ter usado o meu nome, e gostei menos ainda do sorriso de satisfação que ornava o rosto dele. Mas, querendo ou não, aquela era mais uma oportunidade de interagir com o Phuwin aquela noite. Então retribui o sorriso e dei um gole na minha bebida.
NOTAS DA AUTORA:
Oi gente, tudo bom?! Até esse momento, eu estava escrevendo usando travessões, mas acredito que com aspas as narração fica mais fluida. Então vou mudar para isso a partir daqui, certo?! Obrigada por lerem.
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Midgnight City
RomanceDois mundos, dois homens, uma sexta-feira, um golpe. Archen, aka Boto, é um subchefe do tráfico, responsável por uma das áreas mais ricas e violentas. Ele vê na descoberta que o braço direito do seu líder está trabalhando para a polícia a oportunida...