A risada debochada de Phuwin fez o homem que terminava de limpar o meu ferimento parar por um momento e me encarar. A pergunta no olhar dele era clara: Quem estava vindo para cá?
O olhar intenso dele me levou de volta a algumas horas atrás quando, dentro do carro, uma das últimas palavras de Luiz foram o sobrenome dele e eu soube que, de alguma maneira, ou de outra, eu e ele estaríamos ligados a partir dali. Eu sempre suspeitei que o Tawan não estava naquilo sozinho e que tinha alguns parceiros, mas uma família tão influente como os Leons era algo que, definitivamente, não tinha passado pela minha cabeça. Políticos, normalmente, andavam de mão dadas com a criminalidade, mas o que Tawan fazia era algo além disso. O tráfico de drogas era só uma das partes do negócio e, com certeza, não era só o que eu estava pretendendo me livrar ao me virar contra Tawan. Eu precisava saber onde eu estava pisando a partir dali e, nada melhor, do que um trunfo, uma moeda de troca, ou, um parceiro para isso.
Encarei de volta o homem que ainda me olhava intensamente, com toda a certeza, aguardando uma resposta. Ao lidar com ele eu só tinha duas opções: medo ou confiança. E ao pesar em uma balança os dois, a confiança era muito melhor. O homem a minha frente, com certeza, tinha algo parecido comigo: desde o nosso encontro no início da noite, ele tinha me mostrado várias versões dele. Camadas e versões poderiam, com certeza, ser algo a favor ao ter ele do meu lado nessa guerra. Afinal, só se cria essas coisas quem precisa delas. Isso o tornava muito interessante, e, no final das contas, ele era um Leon e tinha salvado a minha vida.
"Ele é alguém de confiança, você não precisa de preocupar..", comecei me direcionando a ele e me levantando do sofá. "Venha aqui comigo.", disse apontando com a cabeça para a porta do meu quarto, "Você precisa também cuidar do seu próprio estado", conclui apontando para as roupas dele que estavam completamente ensanguentadas. Ele pareceu notar isso também e me seguiu em silêncio. Quando estávamos sozinhos no quarto, lhe dei 2 mudas de roupas, e falei: "Esse apartamento é seguro, poucas pessoas sabem da localização dele, por isso estamos aqui. Pelo seu olhar, eu posso dizer que você tem muitas perguntas e depois eu vou tentar respondê-las.. No momento, você precisa descansar e esperar."
"Você sabe que já são quase 5h da manhã, certo?!", foi por onde ele começou a responder enquanto olhava as roupas em suas mãos, "Você disse que eu e Pond vamos precisar ficar alguns dias com vocês.. E eu até entendo isso depois de..", ele pausou um pouco antes de continuar, "Depois de tudo que acabou de acontecer, mas eu preciso comparecer a um evento com minha irmã mais tarde, e eu não posso, simplesmente, desaparecer sem dar explicações. Então, é o seguinte: eu vou tomar um banho, ver como o Pond está e nós vamos conversar antes de 'descansar e esperar'.", ele concluiu me encarando nos olhos antes de sair do quarto e ir em direção ao espaço aonde o amigo dele dormia.
Eu não sei o motivo, mas me peguei querendo dar um sorriso para aquilo: ele era, definitivamente, interessante. Coloquei uma blusa e voltei para sala, onde encontrei Phuwin com um cigarro aceso me encarando. Ele olhou na direção da porta do quarto onde Dunk tinha entrado momentos atrás e me perguntou: "O que você está fazendo, Boto?"
"Você também já fez a ligação dos nomes Phuwin, então você sabe o porque eles estão aqui..", foi o que disse antes de me sentar e buscar o meu próprio maço.
"Eu nunca consigo acompanhar o que passa na tua cabeça brother.. Mas, isso pode complicar as coisas, ainda mais, para a gente..", meu braço direito me respondeu e eu entendi o que ele estava pensando. Realmente, aquela era uma aposta que poderia dar muito errado. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que teria que apostar todas as minhas cartas para conseguir sair, no mínimo vivo, de tudo aquilo.
"O mais importante agora é continuarmos a mover e a esconder tudo o que está no caminhão. A essa hora, Tawan já deve estar movendo os pauzinhos dele para vir contra a gente. Então precisamos seguir o plano. Mochila caiu antes do que eu esperava, então, agora só falta o Mateo. Precisamos da localização dele antes das 17h Phu", falei ao meu amigo que me observava e confirmava com a cabeça.
"Você realmente acha que o Tawan não vai fazer nada hoje?! Durante o dia?!", ele me perguntou.
"Acho. Ele está de mãos atadas. A partir do momento que tiramos Luiz da prisão, ele sabe que a situação dele com a justiça ficou mais complicada. Escolhemos essa data, justamente, por isso. Ele vai precisar depor e, provavelmente, vai passar o dia todo com os caras. Ele tá estremecido: perdeu 2 das 3 pessoas que mais confiava, perdeu o CD e ainda tá com o risco de perder a 'carreira' dele. Durante o dia ele não vai agir, mas de noite, mesmo que por impulso, ele vai. Por isso, precisamos quebrar a terceira perna dele ainda hoje.", conclui quando ouvimos o barulho do celular de Phuwin tocar. Era Carlinhos.
"Vou buscá-lo", Phuwin disse atendendo o celular e se movendo em direção a porta.
Carlinhos era um menino que tinha entrado no nosso grupo há uns 4 anos atrás, quando tinha apenas 17 anos. Ele tinha uma história parecida com a minha e também tinha crescido naquela vida. O conheci enquanto fazia um trabalho para Tawan e acabei salvando a sua vida, por um acaso. Ele, então, resolveu que me devia algo e passou a me seguir. Não demorou muito para ele crescer no grupo, pois assim como eu, ele ficou conhecido como um solucionador de problemas. Mas era ai que o que tínhamos de parecidos terminava. Carlinhos poderia ser a melhor e a pior pessoa para se ter ao lado, e se eu pudesse escolher duas palavras para defini-lo seria: intensidade e brutalidade. Tudo para ele, dos sentimentos as ações, eram intensos e brutais. Eu confiava e desconfiava da lealdade que ele tinha a mim, justamente, por saber que ele confundia aquele sentimento com amor. Então tudo com ele precisava ser com cautela. Por exemplo, ele sabia da localização desse lugar, mas não tinha nenhuma das senhas de acesso.
Saí de meus pensamentos quando senti alguém se acomodar ao meu lado no sofá. Dunk, recém saído do banho, vestia uma das minhas camisetas de banda e uma calça jeans que eu o havia emprestado. O cheiro que vinha do homem, deveria ser comum para mim, já que era o produto que eu usava, mas o que exalava dele era bastante tentador. Virei em sua direção e, por alguns segundos, não consegui tirar os meus olhos dele.
Ele respirou, tipo um suspiro e falou alguma coisa, que eu não consegui ou fingir não ouvir. A única coisa que passava na minha cabeça era a beleza daquele homem a minha frente: Os cabelos ainda molhados caíam sobre seus olhos e os lábios dele pareciam mais rosados do que o normal. Minha mão se moveu automaticamente e alcançou os cabelos que, naquele momento, pareciam um obstáculo para que eu pudesse encontrar os olhos dele. Aquele movimento pareceu assustá-lo, mas ele não fez nenhuma menção de mover ou retirar a minha mão que agora se encontrava em seu rosto. Eu não sei o porque eu estava fazendo aquilo, mas algo, desde cedo, me puxava em direção àqueles olhos.
Olhos esses, que agora, me encaravam com curiosidade e bastante intensidade. Quanto mais eu me perdia naquele olhar, mais uma vontade desconhecida surgia dentro de mim. Não sei quanto tempo ficamos nos encarando, mas sei que não demorou muito para sentir a mão dele em meu pescoço, e eu soube, que talvez, ele também estivesse desejando algo de mim. Comecei a aproximar o meu rosto do dele e, sinceramente, não esperava que fosse ele que terminasse o espaço entre nossos lábios. O beijo, diferente do olhar, foi intenso e experiente. A mão em meu pescoço guiava o meu rosto do jeito que ele queria. Não demorou muito para que o beijo se intensificasse e nossas línguas se encontrassem.
Minha outra mão, que antes descansava, buscou a cintura dele e o puxou para mais perto de mim. Eu não pensava em outra coisa, além do fato de querer ele mais perto. Ele pareceu entender o que eu queria, e começou a vir ao meu encontro , quando o barulho da tranca da porta nos tirou daquela transe. Ele suspirou novamente, sorriu em minha direção, encostou a cabeça em meu ombro e disse: "Parece que a resposta da minha pergunta acabou de voltar".
E foi assim que Phuwin e Carlinhos nos encontraram ao entrar no apartamento.
Notas da Autora: Oi gente, tudo bem? Demorou um pouco esse update, mas veio. Eu já estou com mais 4 capítulos para postar, então essa semana vai ser agitada. O enredo também vai andar, já que chegamos ao 2° arco. Comentários são sempre bem vindos.
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Midgnight City
عاطفيةDois mundos, dois homens, uma sexta-feira, um golpe. Archen, aka Boto, é um subchefe do tráfico, responsável por uma das áreas mais ricas e violentas. Ele vê na descoberta que o braço direito do seu líder está trabalhando para a polícia a oportunida...