Capítulo 20

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Ao chegarmos na sala encontramos somente Boto sentado em um dos sofás

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Ao chegarmos na sala encontramos somente Boto sentado em um dos sofás. Ele mexia em seu celular, mas nos apontou o balcão que dividia aquela área e ali enxerguei uma garrafa térmica e algumas canecas. Eu estava morrendo de sono e um café cairia, com toda a certeza, muito bem naquele momento.

"Cadê o outro?!", perguntou Pond enquanto se sentava.

"Banho..", ele respondeu ainda focado no aparelho. Servi duas canecas e o primeiro gole foi divino mesmo estando um pouco fraco demais para o meu paladar. Enfim, serviria ao seu propósito. Entreguei a outra caneca a Pond e fiz questão de sentar bem próximo de Boto e de, principalmente, encostar a minha cabeça em sem ombro. Ele ficou rígido por um momento, mas não me afastou. Eu, definitivamente, não sou uma pessoa emocionada e carinhosa e, talvez por isso, a minha ação fez o meu amigo se engasgar com o café. Mas eu precisava tentar ver o que o homem fazia no celular e aquela era a melhor posição para isso.

Eu tenho quase certeza que ele percebeu as minhas intenções, mas seguiu trocando mensagens com alguém salvo como C. Pelo foco dele a conversa parecia importante, porém ao ler eu não consegui entender o por quê: parecia uma conversa normal entre amigos. Ele, então, finalmente colocou o aparelho de lado e direcionou sua atenção ao Pond.

"Obrigado por ontem e eu sinto muito pelo o seu carro. Assim que o Phu voltar ele irá te deixar em casa.. Tenho certeza que o Dunk já conversou com você a respeito", Boto disse.

"Eu não concordo com o fato dele ficar aqui, mas respeito as decisões dele.", Pond respondeu friamente quando: "O que aconteceu com o meu carro?!"

Boto não falou nada e, de repente, um silêncio ensurdecedor pairou no local. Resolvi, então, quebrar isso e colocar o meu plano em andamento: "Vou acompanhar o Phuwin e o Pond, já que preciso passar em meu apartamento para buscar algumas coisas."

"Não.", foi o que ele respondeu antes de levantar.

"Eu pareço estar pedindo a sua opinião aqui, Archen?!", continuei. "Eu vou e pronto. Preciso de roupas e das minhas coisas para viver, além de precisar das coisas para poder ir ao evento hoje.."

"Dunk..", ele começou a falar, mas antes que ele pudesse continuar eu levantei e me retirei em direção ao quarto. Percebi que ele me seguiu, mas eu não ia dar pra trás. Eu iria ao meu apartamento. Comecei a busca pelo meu celular que era o objetivo da minha ida ao quarto.

"Você não pode ir, Dunk.", ele recomeçou a falar.

"Eu já disse que não estou te pedindo permissão.."

Ele segurou um dos meus braços e levou minha atenção toda a ele: "O Phuwin vai deixar o seu amigo e depois ele tem algo pra fazer. Eu também não posso te acompanhar agora, eu preciso resolver umas coisas. Você não pode ir, é muito perigoso."

Eu respirei fundo e disse: "É o meu apartamento, o que tem de perigoso nisso?! Se a gente tá perto do The Ferrys, ele fica no caminho da casa do Pond. Phuwin não vai precisar fazer nenhum desvio.."

"É perigoso Dunk..", ele reforçou.

"É a minha casa, BOTO! Se você tá preocupado, eu posso te prometer que não vou sair de lá até você me buscar.. Eu não sei qual problema você precisa resolver, mas eu preciso estar no evento às 17h. E eu não posso ficar aqui desse jeito.." eu disse gesticulando para o fato de o quarto não ter mais do que os móveis necessários e de que essa casa parecia inabitada.

Ele soltou meu braço e tirou meu celular debaixo do travesseiro onde eu tinha dormido. "Desbloqueia..", ele disse me passando o aparelho. Eu fiz o que ele pediu e ele inseriu um número e iniciou uma chamada. O aparelho no bolso dele chamou e ele me devolveu o meu celular. 

"Cumpra sua promessa e qualquer coisa me ligue. Não mande mensagens, ligue. Entendeu?!", ele perguntou me olhando seriamente. Eu confirmei com a cabeça e antes de voltarmos a sala, ele falou: "Os homens de ontem já sabem quem é você e, por isso, mais uma vez, eu te peço pra não ir. A situação, no momento, está muito... Como posso dizer... Delicada."

"Eu sei me cuidar Archen.."

Ele me olhou mais uma vez e preferiu não falar mais nada. Voltamos a sala onde os outros dois já nos aguardavam. Boto e Phuwin trocaram algumas palavras em um canto e não demorou muito para que saíssemos. O homem nem sequer me olhou. No percurso da porta do apartamento até o carro, mil possibilidades passaram pela minha cabeça e, mais uma vez, cheguei a conclusão de que ir ao evento era a melhor ideia do momento. Eu não sabia quem eram os inimigos do Boto, mas naquele momento, pelo menos, eles também eram meus e, por esse motivo, estar no foco do público parecia ainda mais seguro para mim. 

Quando chegamos no carro, que definitivamente não era o do Pond, percebi que Phuwin parecia incomodado. Ele havia resmungado algumas vezes, o que fez Pond ficar ainda mais irritado com o homem, que antes, havia dito ao meu amigo que o carro dele "Já era. Esquece".  Ele pediu as direções, sem deixar de reclamar o fato de que agora ele também servia de motorista, e Pond as deu. No banco de trás eu ainda tentava organizar os meus pensamentos. Não demorou muito para que chegássemos ao meu prédio, já que ele não ficava tão longe e, antes que eu descesse do carro, o meu amigo que estava sentado ao meu lado no banco de trás me puxou para um abraço, me fez prometer contato frequente e disse que me encontrava mais tarde.

Desci do carro e entrei em meu condomínio ainda perdido em meus pensamentos. Passei pela portaria, estranhei a ausência de Seu Marcos, o porteiro que costumava ficar ali naquele horário, mas segui em direção ao elevador.  Apertei o número do meu andar e, de repente, a porta do elevador foi impedida de fechar por um homem que se juntou a mim no pequeno espaço.

"Você pode apertar o 8°, por favor?!", o estranho falou e assim o fiz. O elevador começou a se mover quando o homem continuou a falar, "Dunk Leon... Certo?!"

A pergunta, com tom de afirmação, levou a minha atenção ao homem que me encarava. Aquele não era, definitivamente, um morador do meu prédio. Uma sensação estranha invadiu a minha espinha e as palavras de Boto ecoaram em minha mente. 

"Eu mesmo..", respondi tentando passar firmeza, quando na verdade, estava contando os segundos para a porta se abrir.

"Alguém tão conhecido e influente como você deveria escolher melhor as suas companhias...", o homem continuou vindo em minha direção. O encarei e me encostei próximo ao painel do elevador, onde busquei apertar o próximo andar mais próximo. 

"Com quem eu ando não é da conta de ninguém, você não acha?!", eu o respondi quando fui surpreendido com um ataque com algum tipo de faca. Eu consegui desviar um pouco, mas a minha posição não era muito favorável e aquele espaço era muito pequeno. Eu e o homem começamos uma briga de força, e ele tentava me acertar com o objeto. Consegui acertar um soco no rosto do indigente e ele perdeu um pouco os sentidos e, por sorte, a porta se abriu naquele momento. O empurrei em direção ao chão e saí correndo em direção a escada de emergência. Percebi que estava no 5° andar ainda e senti uma ardência horrível na minha cintura, e foi quando percebi que estava sangrando e que o filho da puta tinha me acertado. Pressionei a ferida com uma das minhas mãos e  comecei a descer em direção ao estacionamento do prédio. 

Quando me aproximei do 2° andar, escutei um barulho nas escadas abaixo e percebi que o homem, definitivamente, não estava sozinho. Saí então das escadas naquele andar, tentando fazer a menor quantidade de barulho possível, e resolvi me esconder por ali mesmo. Todos os andares tinham um local com as lixeiras e foi lá mesmo que eu me meti. A minha ferida passou a doer mais e, por um momento, eu me desesperei.

"Não manda mensagem.. Liga", as palavras de Boto me trouxeram de volta e foi isso o que eu fiz. Peguei meu celular e liguei para o homem. Ele não atendeu na primeira chamada e aquilo me deixou mais desesperado ainda. Liguei novamente e ele, finalmente, atendeu:

"Eles tão aqui e eu tô ferido.."



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