Durante todo o caminho para aquele depósito, Boto se manteve inquieto. A viagem de moto durou cerca de 20 minutos e ele me perguntava a todo momento sobre a ferida em meu torso. Assim que chegamos, fomos recebidos por um Phuwin nada receptivo. Como sempre, o seu olhar mostrava o quão infeliz ele estava com minha presença ali. Boto me arrastou para dentro e passamos por alguns homens e, mesmo que olhando rápido, pude reconhecer o homem que nos acompanhara no apartamento na noite anterior. Todos pareciam muito tensos e a minha presença não parecia ajudar.
Archen fez eu me sentar em uma mesa que tinha por ali e inspecionou o meu ferimento. Eu sabia primeiros socorros, então já imaginava que precisaria de alguns pontos, mesmo a ferida não sendo tão profunda. Ele percebeu isso também e mandou o Phuwin chamar alguém, que pela conversa entre eles parecia ser a pessoa responsável por tratar ferimentos.
Eu não sabia o que pensar ou como agir durante toda aquela situação. Claramente, eu não era bem vindo ali e todos ao meu redor pareciam muito tensos. O motivo pelo qual eles estavam reunidos ali era, com toda a certeza, decisivo. Diante dessa observação, preferi não falar nada e deixar Boto fazer as coisas do jeito que ele queria. Afinal, ele tinha salvado a minha vida, e, aparentemente, eu não tinha medido o tamanho da confusão que eu tinha me enfiado.
O homem tratou minha ferida e Archen ficou o tempo todo ao meu lado. Phuwin parecia irritado com isso e o outro homem também. Eles não trocaram nenhuma palavra, só esperaram o 'médico' terminar. Eu tentava pensar em outras coisas e não na dor, pois o homem me deu 4 pontos sem nenhum tipo de anestesia.
Assim que ele terminou, Archen se aproximou do meu ouvido e disse: "Espere aqui, por favor." O olhar que ele me lançou e a maneira que ele se aproximou me transmitiram uma mensagem bem clara: ele estava tentando passar uma mensagem para os seus subordinados e eu não deveria desobedecê-lo. Ser passivo nas decisões não era algo que eu tinha em mim, mas ao mesmo tempo, eu também sabia quando deveria ficar na minha, e esse era um desses momentos.
Eu fiquei naquela sala acompanhado de um outro homem por cerca de 40 minutos, tempo que pareceu se arrastar. Quando Boto voltou, o olhar que ele tinha era um que eu nunca tinha visto. Algo tinha acontecido e o homem estava completamente irritado. Ele se aproximou de mim e me ofereceu a mão: "Vamos.", foi a única coisa que ele disse e eu o acompanhei. Os olhares continuavam nos seguindo e pude perceber que a quantidade de homens havia diminuído. Entramos no carro de Phuwin, onde ele tomou o volante e o outro homem, Carlinhos, o acompanhou na parte da frente. Archen e eu entramos no banco de trás e mesmo percebendo o cuidado do mesmo comigo, eu podia sentir que alguma coisa não estava certa.
Assim que saímos do depósito, ele falou para os outros dois: "Vamos ter que recalcular o nosso próximo passo."
O loiro que sentava no carona me encarou feio, mas mesmo assim respondeu Boto: "Não precisamos conversar isso agora, mas eu concordo que precisamos mudar o plano."
"Tawan é só uma capa.. filho da puta.", Phuwin resmungou.
"Phu, nos deixe no The Ferrys e leve o Dunk para onde combinamos. Eu e Carlinhos vamos dar o próximo passo..", Boto continuou e o fato dele me deixar sozinho não caiu nada bem para mim. Eu não sei o que passou pela minha cabeça, mas na hora busquei sua mão e a segurei. Ele pareceu entender, claramente, a minha mensagem e direcionou a voz para mim.
"Não se preocupe, é um lugar seguro. Daqui a pouco estarei de volta, afinal, temos um evento para irmos hoje, não temos?!".
O homem que antes estava sendo completamente contra a minha ida ao evento havia mudado de opinião, e eu precisava saber o que estava acontecendo e o que tinha levado a essa mudança.
"Como assim?! Você vai comigo, por livre e espontânea vontade?!", questionei o olhando desconfiado.
"Não era isso que você queria?!", ele falou me mandando um sorriso nada verdadeiro.
"Ar...", comecei a falar, mas ele apertou minha mão, que ainda estava na sua, como se sinalizando para eu não continuar. Percebi que estávamos sendo observados e que ele não queria ter essa conversa comigo ali, então deixei estar. Não gostava de como o homem ao lado de Phuwin me olhava e sabia que o silêncio de Archen tinha algo a ver com isso.
Chegamos a frente do The Ferrys e antes de descer do carro, o inesperado aconteceu. Boto me puxou para perto dele e deixou um beijo na minha boca. Não consegui entender o que tava acontecendo e por isso só assimilei o "Comporte-se." que ele deixou antes de bater a porta.
Phuwin parecia estar brigando com ele mesmo, pois o rosto dele se contorcia em uma mistura de sentimentos. Quando deixamos o The Ferrys, eu pretendia usar Phuwin para conseguir algumas respostas, mas o que recebi foi uma crise de risadas seguida de uma voz séria e muito bem entonada: "Você causou um grande problema hoje senhor Leon. Então, seja lá o que esteja passando na sua cabeça, saiba que eu não sou o Boto. Eu não tenho paciência. Eu não entendo o motivo pelo qual ele está tão empenhado em te manter vivo ou por perto, mas ele acabou de assumir para todo o grupo que você é tão importante quanto ele. Que você é a pessoa dele. Então faça como ele mandou e se comporte."
O que tinha acabado de acontecer? O que ele tinha feito? O que isso tudo significava? O que eu tinha feito com a minha vida?
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Midgnight City
RomanceDois mundos, dois homens, uma sexta-feira, um golpe. Archen, aka Boto, é um subchefe do tráfico, responsável por uma das áreas mais ricas e violentas. Ele vê na descoberta que o braço direito do seu líder está trabalhando para a polícia a oportunida...