Capítulo 16

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Ao entrar no quarto a primeira coisa que fiz foi verificar como Pond estava, e ele continuava apagado

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Ao entrar no quarto a primeira coisa que fiz foi verificar como Pond estava, e ele continuava apagado. Com o pouco de treinamento médico que eu tinha, cheguei a conclusão de que talvez Boto tivesse razão e que meu amigo estava exausto. Coloquei uma das mudas de roupa que o homem tinha me dado ao pé da cama e fui em direção a única outra porta do ambiente. Ao entrar no banheiro, logo me deparei com um espelho e a visão que eu tive me assustou: eu estava completamente banhado de sangue. Onde eu tinha me metido? Eu só queria uma noite divertida. 

Me despi, entrei embaixo chuveiro e, de repente, tudo o que tinha acabado de acontecer voltou como um filme na minha cabeça. Respirei fundo e deixei a água gelada escorrer pelo meu corpo. Claramente, esse não era o tipo de noite que eu tinha buscado quando saí de casa mais cedo. O que mais me assustava, porém, ao pensar em tudo, era que eu não estava tão surpreso com a possibilidade de minha família estar envolvida com tudo isso. Quando você cresce em meio ao poder e a política, mesmo que em um ambiente familiar "estável", você logo aprende que tudo ao seu redor, tudo mesmo, é formado por alianças e sociedades. E que todo o tipo de aliança é válida enquanto necessária. E necessário é a definição do que deve ser feito para se manter e sobreviver. Então, seria impossível minha família estar 100% limpa, já que historicamente, erámos um dos mais ricos desse lugar há gerações. 

Eu sabia que tínhamos algum envolvimento com coisas ilícitas voltadas ao agronegócio, afinal, era disso que vivíamos. Minha família era dona de tantos hectares que eu nem sei o número exato. Por esse motivo, e pelo crescimento de movimentos contra o nosso negócio, foi preciso que nos envolvêssemos na política. O que eu quero dizer é que minha família é a típica família oligárquica: política e agronegócio correndo no sangue há gerações. Meu pai é senador, meu irmão é deputado, e daí por diante. E, mesmo com todo o nosso histórico, tínhamos limite. A regra da família Leon era clara: Um Leon deve se comportar sempre como um Leon, ou seja, faça o necessário, mas não faça nada que vá estragar a imagem da família. Pode parecer confuso, mas nada mais é do que: Se precisar ser errado, seja dentro daquilo que a sociedade considera mais aceitável.  Alguém estava quebrando as regras da família, afinal, o que tinha acabado de acontecer, onde eu tinha me envolvido e envolvido o Pond, era, claramente, tráfico de drogas. E o pior de tudo era que, aparentemente, eu tinha entrado no meio de uma coup d'etat , de uma rebelião, de um golpe, e eu tinha salvado a vida do golpista. Salvado a vida do Boto.

De repente, o meu estômago começou a embrulhar e veio uma vontade insana de vomitar. Corri para o vaso e coloquei para fora tudo aquilo que me corroía. Eu estava fodido. Pra caralho.

Procurei algo para limpar minha boca e voltei para terminar o banho, enquanto tentava pensava em uma maneira, pensar em algo. A verdade era que: a partir do momento em que colocamos os 3 homens dentro do carro de Pond, nos envolvemos até a nossa alma. E o pior de tudo era que a minha curiosidade, ou talvez o misto de raiva e de rancor que eu estava da minha família, tinha sido fator decisivo na hora em que eu decidi acompanhar o homem até aqui. Eu nem o conhecia e tinha colocado as nossas vidas nas mãos dele. Pond ia me matar.

Boto, com toda a certeza, não nos deixaria sair daqui agora e, para a nossa segurança, pelo menos no momento, eu teria que fazer o jogo dele. Mas eu não podia e nem deveria deixar ele ter o controle total, por isso, precisava buscar respostas. Eu precisava de algo que pudesse me ajudar a sair disso tudo e, ainda por cima, descobrir quem da minha família está metido nisso e até onde essa pessoa foi. Por que eu precisava disso? Eu era um Leon também. 

Olhei mais uma vez o estado de meu amigo e fui em direção a sala onde eu havia deixado os dois homens com uma decisão: eu não faltaria o evento de Mild amanhã e faria eles liberarem o Pond assim que ele acordasse. Eu teria que conseguir isso. Não seria justo com o meu amigo eu o envolver ainda mais nessa trama e eu precisava retomar, pelo menos um pouco, o controle da minha situação. Encontrei somente Boto sentado no sofá, com o pensamento em algo, me sentei ao seu lado e perguntei sobre a ausência de Phuwin.

"O Phuwin foi embora?!", perguntei enquanto olhava para a mesa de centro e decidia se tomava uma outra dose de bebida ou não. Estranhei o fato do homem não me responder e estranhei mais ainda quando ele tocou em meus cabelos. Assim que meus olhos encontraram os deles, eu senti o meu estômago revirar novamente, mas dessa vez de uma maneira que, para minha surpresa, me agradou. Os olhos dele eram tão intensos que pareciam poder me derreter, e quando senti a mão dele se acomodar em meu rosto, tudo o que eu desejei foi ir de encontro a esse calor. Coloquei a mão em seu pescoço e quando percebi seu rosto se aproximando do meu, levei meu rosto de encontro ao dele. Os lábios dele tinham gosto de whisky e fato dele me deixar dominar, completamente, o beijo estava me deixando maluco. Quando senti sua outra mão em minhas costas, quase que instintivamente, eu levanto e passo uma de minhas pernas por cima de seu colo, mas o barulho da porta nos interrompeu e, infelizmente ou felizmente, fui puxado daquele estupor de volta para a realidade. Ainda buscando fôlego, sorri para ele e encostei minha cabeça em um de seus ombros e disse: "Parece que a resposta da minha pergunta acabou de voltar."  

Pensei, por um momento, que ele fosse me empurrar ou tentar explicar a posição em nos encontrávamos, mas a única coisa que ele fez foi mover a mão que estava em minhas costas para a parte de trás do meu cabelo e deixou ali uns dois ou três cafunés, enquanto direcionou a voz aos dois homens que tinham acabado de entrar no apartamento.

"Carlinhos, qual é o estado do Neo?!", Boto perguntou e um silêncio ensurdecedor preencheu a sala. Phuwin, mais uma vez, foi a pessoa a quebrar isso ao soltar uma risada e comentar:

"Ora, ora, fast and furious..", ele falou ao se jogar no outro sofá. Finalmente consegui voltar mais a mim e me recompus de volta ao meu lugar. Percebi que o homem que havia se juntado a nós 3, o tal do Carlinhos, ainda estava na entrada da casa e que toda a atenção dele estava em mim, ou melhor, no braço de Boto que havia se movido e agora se encontrava no encosto do sofá por trás de mim. O olhar dele não era nada convidativo.

"Carlinhos?!", o homem ao meu lado chamou novamente e, aí sim, a atenção do novo integrante mudou para ele, assim como o olhar, que agora era preocupado. 

"O que?! AH, o Neo tá bem... Ele precisou de uns pontos aqui e ali, mas os médicos falaram que nada muito grave. A maioria era mais superficial, ele vai viver..", ele disparou, "E você?! O Mauricinho aqui disse que você se machucou..", ele disse olhando rapidamente para Phuwin, que estava completamente distraído trocando mensagens no celular, e, finalmente, se aproximando dos sofás. 

"Eu tô bem", Boto respondeu movendo o braço para frente de seu corpo e servindo uma dose para o recém-chegado, "Como estão as coisas no bar?! Deu tudo certo?!"

Carlinhos me encarou novamente e não respondeu. Boto pareceu entender o que estava acontecendo e falou, dessa vez, se direcionando a mim: "Você deveria ir descansar...".

Percebi que ele não queria que eu participasse daquela conversa e, sinceramente, eu também não queria saber mais do que deveria e nem queria me envolver ainda mais. Uma coisa era conhecer o envolvimento da minha família, outra coisa era me envolver nessa briga de poder. Mas, eu não poderia ir, simplesmente 'descansar', sem conseguir o que eu queria. Então levantei, olhei para ele e respondi: "Você me deve uma conversa e ela tem que ser hoje ainda."

Peguei o copo que estava na mão dele, virei o resto da bebida e caminhei em direção ao quarto dele. Era lá que eu o esperaria.



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