LXIV

18 2 4
                                    


Megan

Quando não medimos as ações de nossos atos, as consequências podem nos engolir por inteiro no futuro. Eu não tinha ideia que estava caminhando na areia movediça e poderia não conseguir emergir de sua profundeza assustadora e escura. Tinha ciência que as coisas não seriam fáceis quando todos descobrissem o segredo que guardei, mas não tinha ideia de que perderia tudo.

Anthony ficar com raiva de mim não seria novidade, esperava por isso, mas o jeito como ele se afastou de todo mundo foi inesperado.

Crystal evita falar comigo sempre que cruzo com ela dentro de casa. Sei que ela só nos visita ainda por causa do Henry. Caso contrário, eu não saberia sequer como ela está.

A Lucy está magoada com a situação toda, e eu a compreendo. Somos amigas desde a faculdade, e temia tanto seu julgamento que acabei não levando em conta que por mais que ela me ditasse o que seria o certo a fazer, eu poderia contar com sua discrição e apoio sempre. Sei que ela acha que eu não confiei nela esse tempo todo, mas não é como se eu tivesse convidado a Deborah para um café e lhe contado tudo o que estava acontecendo. Ela só foi mais esperta do que deveria e acabou descobrindo.

No entanto, devo um pedido de desculpas a Lucy, ela ainda é uma das pessoas mais importantes na minha vida e eu farei o que for possível para não perder sua amizade.

Com a minha vida pessoal virando de cabeça para baixo, isso refletiu no meu trabalho. Acabei deixando muita coisa acumular por não saber como lidar com meus problemas, então passei os últimos quatro meses correndo feito louca de um lado para o outro com muitas reuniões, viagens e contratos atrasados. Estava mentalmente exausta, precisava de um tempo depois que essa turbulência passasse.

Henry já tinha dois anos e evoluiu com muita independência nos últimos meses, então deixei ele em casa com a Amélia e a babá. Achei necessário tirar um fim de semana para processar e refletir sobre minha situação atual.

Sem amigos, família ou trabalho, parti para a casa da praia, onde tudo começou e onde tudo desmoronou como uma tsunami invadindo uma cidade litorânea.

Estar aqui não me deixa triste ou receosa, até porque toda aquela confusão poderia ter acontecido em qualquer lugar. Era questão de tempo até que esse segredo viesse à tona.

Ao chegar aqui no fim da tarde de ontem, eu me sentia um tanto perdida. Sabia que tinha que começar a colocar as ideias em ordem e definir como e por onde começar, mas tudo o que consegui foi me lamentar por não ter feito tudo certo desde o início.

No entanto, não posso reclamar de tudo, já que pelo menos tive uma boa noite de sono. Coisa que não acontecia desde o aniversário da Crystal.

Pela manhã preparei um café e tomei ele enquanto observava o mar. Não posso negar que ter toda essa tranquilidade é bom demais. Havia tempo que eu não passava uma manhã sem abrir meu notebook e checar meus emails. Mas hoje foi necessário.

Caminhando pela praia, com o sol aquecendo minha pele e o vento soprando em meu rosto e despenteando meu cabelo, eu sentia toda a calmaria do mundo à minha volta. Mesmo que meu coração esteja sobrecarregado com as sombras de cada sentimento ruim que provoquei às pessoas na minha vida.

Agachei na areia, ainda observando as ondas que iam e vinham. Abracei minha pernas e pousei meu queixo sobre os joelhos. Suspirei ao sentir o peito apertado.

— Por onde eu começo a arrumar toda essa bagunça? — falei tão baixo que era como se precisasse expelir aquelas palavras. Não havia quem pudesse realmente me dar aquela resposta.

— Megan? — virei o rosto na direção da voz e meu coração pulou no peito.

Levantei rápido e engoli em seco. Não estava acreditando que ele estava mesmo ali. Não era possível que depois do que houve, ele ainda conseguia olhar na minha cara. Dentre todas as pessoas que achei que me procurariam para resolver alguma coisa, ele era a única que não passou pela minha cabeça.

Match! Amor e RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora