Capítulo 3 - Sempre adorei um desafio

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POV S/N

Quando chego a Pittsburgh, estou tonta. Meu cochilo de dez minutos no ônibus da Greyhound não chegou nem perto de me renovar, mas, é isso, quem precisa dormir quando se pode passar sete horas olhando pela janela, se arrependendo de todas as decisões que já tomou na vida?

Por mais que tentasse pensar em uma solução, só… não consegui.

Ela me conhece mesmo. Todas as partes que achei que estava escondendo. Todas as partes que escondi de mim. E ela me ama.

Nunca vivi isso antes. Acho que é por isso que quero mesmo me envolver com ela.

Plenamente.

Em vez de fugir e largá-la, que nem meu pai fez. Em vez de mantê-la distante e deixar acabar aos poucos, que nem o resto dos meus relacionamentos.

Pauso “Pretty Games”, a música do Cereal Killers que fez a banda ser contratada por uma gravadora independente uns meses atrás, e olho meu celular pela milésima vez, mas ainda não há resposta à mensagem de podemos conversar? que mandei para ela assim que entrei no ônibus.

Nenhum telefonema. Ela nem viu meus stories no Instagram.

Fiz merda de verdade dessa vez. Ela nunca passou tanto tempo me dando um gelo.

É muito pior do que qualquer uma das nossas briguinhas sobre flertes, minha “indisponibilidade emocional”, ou qualquer mensagem que aparecesse no meu celular durante o café.

Quer dizer, o que ela disse ontem. O que eu disse. É equivalente a dez garotas me dando seus números de telefone em uma só noite no Tilted Rabbit.

Com um suspiro, dou mais uma olhada no Google Maps e vejo que tem mais duas paradas até eu sair desse ônibus sacolejante, cujo forro estampado esquisito do assento faz minhas coxas pinicarem. Eu me sento mais para a frente e olho pela janela, vendo um prédio de pedra gigantesco se assomando à distância, o sol claro da tarde deixando quase brancos os tijolos cinzentos.

É a Catedral do Aprendizado, um prédio de quarenta e dois andares que serve como centro do campus da Pitt.

Estou mesmo aqui. Sou oficialmente universitária. Por um segundo, finalmente paro de pensar em Camila.

Quase me sinto capaz de respirar de um jeito que nunca pude.

Não acredito que consegui. Não acredito que consegui mesmo. Fui embora.

É isso que eu queria. Aprender a fazer mais do que simplesmente dar um jeito. Focar em mim mesma, uma vez na vida.

Quer dizer, quase.

Por reflexo, olho para o celular e vejo que minha mãe não respondeu às mensagens que mandei no caminho. Não que seja novidade, mas ainda me sinto meio enjoada, já que não posso mais correr para casa e conferir se ela está respirando.

Guardo o celular no bolso quando o ônibus para com um solavanco, e pego minhas coisas para descer o corredor aos tropeços.

Agradeço à motorista e saio na rua Atwood, supostamente a quatro quadras do apartamento que encontrei em um anúncio no Craigslist, apertando os olhos contra o sol e virando a cabeça de um lado para o outro.

Imediatamente, fico chocada com a diferença daqui e da Filadélfia.

É tão pequeno. Quer dizer, sei que não é o centro de Pittsburgh, mas…definitivamente será difícil me acostumar. Dos prédios à quantidade de gente nas calçadas, às lojas ladeando a rua, parece que alguém pegou minha cidade e cortou pela metade. E aí cortou mais umas dez vezes.

Ela fica com a garota (Jenna/you)Onde histórias criam vida. Descubra agora