Capítulo 21 - Nunca contei aquilo pra ninguém

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A praça de alimentação está lotada. O barulho de bebês gritando e adolescentes fofoqueiros deve estar prestes a romper a barreira do som.

Pego todas as amostras grátis de comida pelo caminho, analisando cada opção diferente, e arregalo os olhos quando vejo exatamente o que estava procurando.

Taco loco.

Esmagado entre um Subway e uma hamburgueria. Tem um grupo de caras de vinte e poucos anos simplesmente arrasando na preparação. Lembra o food truck, só que muito mais organizado, e com espaço de sobra.

- Ah, agora sim. É aqui - digo, sentindo o cheiro de tacos pelo ar.

Pego o braço da Jenna, abrindo caminho pela multidão até o restaurante mexicano, a mãe dela vindo logo atrás.

- A Camila me apresentou ao Taco loco nas férias. Tinha uma franquia na quadra do Tilted Rabbit, onde eu trabalhava. Ela pedia comida lá direto, e ando louca de vontade de comer aqui desde que me mudei.

Jenna hesita quando entramos na fila, mordendo o lábio e olhando de relance para a mãe. As palavras que ela não concluiu no provador me voltam quando enfio mais uma amostra grátis na boca e sigo o olhar dela, vendo que a sra. Ortega está de braços cruzados, fazendo uma careta, olhando para alguém que carrega uma cumbuca de chili. Não entendo exatamente o que está acontecendo, mas sei que tem alguma coisa esquisita.

- A gente pode comer outra coisa - digo, dando um tapinha no braço da Jenna.

Jenna volta a olhar para mim, e sacode a cabeça.

- Não, não. Tá tranquilo - diz, dando de ombros, quase… desafiadora, cruzando os braços no peito - Quero experimentar.

Quando chegamos à frente da fila, o homem mais velho do balcão abre um sorriso enorme, pega nosso pedido e grita para os caras mais jovens da chapa.

Em seguida, ele olha para a mãe da Jenna, que está atrás da gente.

- O que a senhora quer? - pergunta.

Ela não diz nada, provavelmente porque a voz dele se perdeu em meio ao barulho da praça de alimentação lotada. E aí…Ele repete a pergunta em espanhol, achando que talvez seja esse o problema.

Vejo Jenna fazer uma careta quando sua mãe olha para o homem com desprezo.

- Eu não falo… - diz, com um gesto vago - …sua língua.

Puta merda.

Umas das pessoas na fila se viram para olhar para a gente. A mãe de Jenna ajeita as sacolas e aponta para a hamburgueria do lado.

- Estou com vontade de hambúrguer. Vocês pegam uma mesa?

Jenna confirma com a cabeça e se volta para o homem do balcão, que parece mais confuso do que qualquer coisa.

Quando a mãe dela se afasta, ela solta um pedido de desculpas sussurrado.

- Desculpa por isso. Ela só… Eu…

O rosto dela está vermelho-vivo, e eu a vejo mexer na carteira, desajeitada, tentando tirar o dinheiro do bolsinho interno. Cai tudo no chão, que tenho bastante certeza que ela deseja que ele se abra e a engula.

- Deixa comigo - digo, entregando uma nota de vinte para o homem antes de me abaixar para pegar a carteira e devolver apara ela.

Deixo os três dólares de troco no pote de gorjeta e seguro a mão de Jenna, a puxando para esperarmos chamarem nosso número.

- Tudo bem? - pergunto, analisando o rosto corado, os olhos castanhos um pouco marejados.

Ela assente, mas, quando pegamos a comida e encontramos uma mesa, fica claro que não está. Ela continua em silêncio quando a mãe chega com uma bandeja vermelha, trazendo um hambúrguer e uma pilha alta de batata frita.

Ela fica com a garota (Jenna/you)Onde histórias criam vida. Descubra agora