POV JENNA
A casa de shows é pequena. Tem espaço para umas cem pessoas, no máximo, entre o tablado e um bar grande e retangular no fundo do prédio. Luzes antigas pendem de correntes compridas do teto abobadado, e janelas opacas em arco cobrem as duas paredes.
Parece uma igreja transformada.
- A banda é muito boa! - grita Emma no meu ouvido, em meio ao estrépito dos alto-falantes, o pé esbarrando de leve no meu no chão preto e lustroso.
Sorrio e faço que sim com a cabeça, entusiasmada, mas estou tão distraída que não prestei atenção a uma música sequer.
Distraída por s/n, do meu outro lado.
Distraída por ela ter me ignorado a noite toda, exceto quando confirmou que vou contar para a Camila tudo que ela fez por mim.
Distraída pelo fato de que a atenção dela está grudada em Camila, no palco, há meia hora, e pelo jeito que Camila a olha.
Como se cada verso que cantasse fosse só para os ouvidos de s/n.
Como se só existissem elas naquela sala.
Tomo um gole de Sprite e olho de relance para Emma. Ela está usando um lindo vestido azul com flores amarelas, que sobe até as coxas quando ela pula, dançando no ritmo da música.
A boca foi perfeitamente delineada com batom vermelho, e o minúsculo brilhante no nariz cintila sob os holofotes. Ela vê que estou encarando, mas não para de dançar.
Só sorri, aquele sorriso enorme e luminoso, pelo qual estou apaixonada desde o nono ano. É um sorriso que me sacode, me acorda e me lembra que estou aqui com Emma Myers, a garota dos meus sonhos.
- Estou muito feliz por você ter vindo, Emma - digo, o coração martelando.
- Bom, você demorou bastante para me chamar - provoca ela - Apesar de, tecnicamente, eu ter convidado você, né.
- Bom, tecnicamente, a gente estaria estudando para a prova de biologia agora, se eu não tivesse falado do show, então…
Dou de ombros, de brincadeira. Sinto o nervosismo subir, mas é diferente daquela noite na festa, quando eu mal conseguia olhar para ela.
Não estou nervosa porque acho que vou fazer besteira. Acho que estou nervosa porque talvez isso funcione.
Talvez eu possa mesmo ficar com a garota dos meus sonhos.
- Verdade - concede.
- Então, acho que estou feliz por você ter me chamado. Muito feliz.
Ela bate com o copo de refrigerante no meu, e nós duas tomamos um gole enquanto uma salva de palmas percorre a plateia.
s/n olha para mim por um segundo, antes de voltar a concentrar sua atenção no palco.
Camila sopra beijos para o público, e s/n assobia alto, com dois dedos na boca, enquanto a banda sai.
Uns dois minutos depois, s/n acena para alguém, mas não enxergo quem, por causa da multidão.
Até que Camila aparece, vindo na nossa direção e passando por algumas pessoas que apontam para ela, cochichando entre si.
Quando a vejo se aproximar de s/n, me pergunto se elas vão se beijar. Faz quase um mês que não se veem, afinal. Mas elas não se beijam, e suspiro, aliviada.
Em vez disso, s/n puxa Camila para um abraço apertado, cochichando algo no ouvido dela.
Desvio o rosto, me virando para o bar, que está lotado de gente tentando comprar bebida antes da banda principal subir ao palco.
- O que vocês acharam? - pergunta s/n, abrindo espaço para incluir Emma e eu.
- Você foi incrível! - diz Emma para Camila - Eu não fazia ideia que a s/n namorava uma estrela do rock.
Vejo s/n ficar fisicamente tensa ao ouvir aquilo.
Eu me pergunto se é por ter medo de que Camila ache que s/n não falou o suficiente dela, sua namorada.
- É, bom… - diz Camila, jogando o cabelo preto comprido por cima do ombro, piscando os cílios cobertos de rímel - …ela é uma moça de sorte.
s/n relaxa um pouco, e é muito estranho vê-la nervosa.
É só que… não é a cara dela. Mas imagino que elas tenham resolvido as complicações, ou não estariam ali.
- Ei, amor, pega uma água para mim —diz Camila para s/n, como se nem fosse uma pergunta.
- Claro - diz s/n - Já volto.
- Vou junto - diz Emma, levantando o copo vazio.
- Jenna, quer um refil?
- Não, estou bem. Obrigada.
Sacudo a cabeça, e s/n me olha atentamente antes das duas sumirem na multidão, me deixando com Camila.
Sozinha com ela, sinto a ansiedade voltar, deixando meu peito apertado.
Mas penso em s/n e, apesar de ela estar esquisita essa noite, devo isso a ela.
- Oi, me chamo Jenna, prazer - digo, esticando a mão.
Camila aperta minha mão depois de hesitar por dois segundos, em que me analisa.
Sinto aquele suor conhecido me cobrir.
É só insistir, Jenna.
- A s/n é mesmo incrível. Ela tem me ajudado muito - digo, me preparando para contar como ela me ajudou a sair com a Emma hoje, que ela é uma pessoa diferente da garota que Camila deixou na Filadélfia.
- Esse último mês todo, a gente…
Camila me interrompe, bufando com desdém, e revira os olhos. Paro de falar e olho para ela, confusa.
- Não comece a achar que é especial - diz - É óbvio que você é um cachorrinho perdido, querendo atenção. E s/n dá atenção para qualquer um, por um tempo. É assim que ela é.
Dou um passo para trás quando ela me encara, fazendo eu me sentir pequena, como eu era antes de vir para cá, antes de conhecer s/n.
Por mais que eu queira defender minha amiga, dizer para Camila que ela nem merece estar na vida de s/n…
Eu só…não consigo.
s/n e Emma chegam com as bebidas.
- Falaram muito de mim? - pergunta s/n, me olhando diretamente.
Dou um passo para trás, relaxando os dedos.
- Só coisas boas - diz Camila, abraçando bem a cintura de s/n com a mão, e dá um beijo no pescoço dela.
- Não foi, Jenna? - pergunta, me fuzilando com o olhar através do pequeno círculo.
Encaro ela de volta por um momento, tentando pensar em uma resposta, mas, em vez disso, só assinto.
- Já volto - digo, evitando o olhar de Emma e correndo na direção do banheiro, pegando o celular enquanto me esgueiro pelas aberturas na multidão, meu sangue praticamente fervendo.
Me encontra no banheiro, mando para s/n, e espero.
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Ela fica com a garota (Jenna/you)
Teen Fictions/n e Jenna não parecem fazer parte do mesmo planeta, que dirá do mesmo campus da faculdade. Mas quando s/n, depois de um término péssimo (mas com sorte não permanente), descobre a paixão escondida de Jenna, elas percebem que têm um interesse em com...