Capítulo 13 - Talvez chegando lá

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POV S/N

No segundo em que Jenna falou de "Introdução à Ficção", eu sabia que ela estava na minha eletiva. Sorrio e estico as pernas, batucando com o lápis no caderno enquanto o professor - ou, como ele pede para ser chamado, Jon - começa a fazer a chamada na frente da sala.

Ela ainda me deu esporro por causa de atraso.

Levanto um pouco a mão quando ele chama meu nome, e uma garota de mechas vermelhas desbotadas que se senta duas cadeiras à frente da minha se vira um pouco para trás e me olha de cima a baixo, como faz toda aula. Desvio o rosto para nem sentir a tentação de piscar para ela, e foco o olhar na porta de madeira quando Jon chama:

- Jenna Ortega?

Mas Jenna Ortega não está em lugar nenhum.

- Tem uma Jenna aí? - tenta de novo, e a maçaneta gira como se aguardasse a deixa, revelando uma pessoa desgrenhada e conhecida.

- Presente! Desculpa - guincha Jenna da porta, alisando o cabelo castanho e ajeitando a camisa, arregalando os olhos ao me notar.

Sorrio para ela, dando um tapinha na cadeira vazia ao meu lado.

Naturalmente, ela me lança um olhar de ódio que compensa eu ter precisado correr três lances de escada do lado oposto do prédio para chegar antes.

- Sente-se, srta. Ortega - diz Jon, olhando para ela por cima dos óculos - A aula começa às onze.

Jenna murmura um pedido de desculpas, procurando outra opção de lugar na sala antes de se largar, furiosa, na cadeira ao meu lado.

- Por que você não me mostrou o caminho, se sabia que eu estava na mesma aula? - sibila ela, quando o professor nos dá as costas.

- Jenna - digo, cruzando as pernas - Não posso consertar sua vida amorosa e seu GPS interno. Sou uma só.

Ela revira os olhos e pega um fichário e uma edição surrada de Noite de reis, uma das minhas peças preferidas de Shakespeare e leitura obrigatória para as duas primeiras semanas de aula.

Jon começa a falar dos temas nas páginas que já lemos e as palavras que Jenna disse na biblioteca me voltam à mente.

Bom, obviamente você não sente a mesma intensidade pela sua namorada, senão não ficaria flertando com a Emma na festa. Não consigo nem aproveitar a aula sobre a porcaria da minha peça preferida porque não supero o quanto aquilo me incomodou.

Assim, ela provavelmente nem nunca beijou ninguém! Como pode saber do que está falando?

Sacudo a cabeça e olho de relance pela janela, vendo os universitários passeando à toa do outro lado, e sinto a pele formigar quando vejo o reflexo de Jenna.

- E você?

Pisco, retomando o foco quando noto o professor olhando diretamente para mim e algumas cabeças viradas em minha direção. Ele empurrou os óculos até quase caírem do nariz, e me olha por cima deles com aquela arrogância professoral que é a pior coisa do mundo.

Jenna levanta as sobrancelhas, amando a situação. Pigarreio e forço um sorriso confiante.

- Quem? - pergunto, olhando para um lado e para o outro - Eu?

- Sim - diz ele, mais esnobe impossível - Você.

O olhar de condescendência dele é quase de pena. Como se eu não tivesse lido essa peça cem vezes. Como se essa lésbica aqui não tivesse visto religiosamente a adaptação cinematográfica com Helena Bonham Carter mil vezes mais.

- Perguntei que argumentos você acha que Shakespeare faz sobre romance.

- Bom - digo, pegando o livro da mesa de Jenna e folheando até o ato 1, cena 5 - "Como é possível se contaminar por essa praga tão depressa?" - leio, repetindo a comparação que a personagem Olívia faz entre o amor e uma doença.

Ela fica com a garota (Jenna/you)Onde histórias criam vida. Descubra agora