Capítulo 37 - Conte pra ela o que sente

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POV S/N

Viro a página do livro nas minhas mãos, mas as palavras se embaralham. Toda frase que tento ler há uma hora é impossível de absorver.

Solto um suspiro e fecho o livro, surpresa ao ver um relampejo de vermelho quando viro a cabeça, lantejoulas brilhantes cintilando de leve sob a luz fraca da biblioteca. Levo um minuto para registrar o que vi.

Jenna.

Aqui.

Em um vestido vermelho brilhante, o cabelo preso, o batom também rubi. Ela está… linda. E feliz. O sorriso praticamente brilha mais do que o vestido.

Ela provavelmente oficializou o relacionamento com a Emma na festinha do museu. Talvez até tenham se beijado, em um canto de uma exposição de obras em pastel ou aquarela.

Pigarreio e me levanto, guardando o livro de volta na estante.

- Não imaginei que vestido vermelho cintilante fosse seu estilo - digo, concentrando o olhar nas letras douradas da lombada do livro, no adesivo descascado da etiqueta desbotada.

Ela não diz nada, e sei que é minha hora de falar. De me desculpar.

Respiro fundo, afastando lentamente meus dedos do livro.

- Eu, hm. Levei minha mãe para a reabilitação ontem - digo - E, em todo o caminho de volta para Pittsburgh, só consegui pensar em como você era a única pessoa para quem eu queria contar isso, e em como eu tinha estragado tudo. Como estou arrependida pelo que disse naquela noite do show. Porque você estava certa. A respeito da Camila. A respeito de tudo. Mas eu não queria ouvir, então, em vez disso, estraguei tudo e te magoei - falo, com um suspiro demorado, e me viro para ela.

- Jenna, eu não fui sincera quando falei….

- Ela está bem? Você está bem? - pergunta, e não consigo conter as lágrimas que tomam meus olhos.

- Está. Ela bateu com o carro em um poste, mas vai ficar bem. Vamos ficar bem - esclareço - Mas também quero que a gente fique bem.

Faz-se um momento de silêncio, e ela dá um passinho para a frente.

- Você já imaginou que a gente poderia ficar juntas? - pergunta, ofegante.

Congelo, as palavras me pegando desprevenida.

- Como assim?

Ela ergue as sobrancelhas, e noto que está com o peito arfante, um par de sapatos de salto na mão direita. Ela estava correndo?

- Eu e você - diz, apontando entre a gente - Você já imaginou que a gente poderia ficar juntas?

Abro a boca, tentando encontrar o que dizer. Tudo que sai, contudo, é uma palavra. A verdade.

- Já.

- Você ainda imagina? - pergunta, esfregando sal na ferida.

Sacudo a cabeça, desviando o olhar dela.

- Você gosta da Emma.

Ela fica em silêncio por um momento longo, de fazer meu coração pular. Só consigo olhar para a barra do vestido, os minúsculos raios de luz refletidos das lantejoulas ao chão.

- Todo segundo que passei com Emma nessa última semana, pensei em você. Em como queria estar com você - diz, e a ouço soltar um suspiro demorado - Foi que nem aquilo que você falou. Realidade versus fantasia. Levei um tempão para notar, tempo até demais, mas estar com você fez eu me sentir melhor do que qualquer fantasia que já tinha imaginado. Como a pessoa que nunca soube que poderia ser. A pessoa que sou.

Ergo o rosto e a vejo se aproximar mais um passo.

- Foi assim que eu soube que você tinha mentido naquela noite. Eu sei quem você é de verdade. Assim como você sabe quem eu sou - acrescenta.

O rosto dela está a meros centímetros do meu, os olhos calorosos e sinceros, o ar entre nós vibrando de eletricidade. Ela entreabre a boca, hesitando antes de falar, sorrindo.

- Sempre foi você, s/n.

Com aquelas palavras, as barreiras que ergui para me proteger do mundo são, finalmente, derrubadas. As caixas onde tranquei meus sentimentos se desintegram completamente.

Até só restar Jenna, eu e a força que me impulsiona na direção dela desde o começo. Mas, agora, nenhuma de nós resiste.

Fecho os olhos, congelada no lugar, enquanto Jenna sobe na ponta dos pés, e quase me esqueço de respirar.

A boca dela mal roça a minha, mas, mesmo assim, consegue fazer meu corpo todo arder em chamas.

Eu encosto nela e, antes que possa puxá-la, ela avança, me jogando contra a estante. Alguns livros caem ao chão, com baques espalhados, mas ela não para de me beijar.

Eu a abraço, a segurando pela cintura e puxando o corpo contra o meu. Ouço os saltos dela baterem no chão, e as mãos sobem ao meu pescoço, ao meu cabelo.

Não há um milímetro de espaço entre nós, mas, ainda assim, não me parece próximo o suficiente.

Eu já beijei muita gente, mas nunca foi assim.

O chão, o teto e as estantes de livros todos desaparecem, tudo se esvanecendo exceto por nós duas, a textura do vestido de lantejoulas sob minhas mãos, o coração martelando tão forte que tenho certeza de que ela pode sentir.

Quando finalmente nos afastamos, ela encosta a testa na minha, e um sorrisinho dança no rosto dela, enquanto ela balança de leve em meus braços.

- Sabe, você nunca me contou qual era a quinta etapa - diz ela.

Eu rio e dou de ombros.

- É porque nunca cheguei nela.

Ela se afasta mais um pouco, levantando as sobrancelhas.

- Qual é?

- É bem simples - digo, ajeitando uma mecha solta de cabelo atrás da orelha dela - Quinta etapa: conte para ela o que sente.

Minha mão desce para repousar em seu rosto, acariciando a pele suavemente com o polegar.

- E o que você sente? - sussurra ela, como se não soubesse que roubou meu coração, pedacinho a pedacinho, naquela primeira aula de biologia, na noite em que tomamos frozen yogurt, no nosso encontro para andar de patins, até com o galo na testa.

- Que estou perdidamente apaixonada por você, Jenna Ortega. E… me parece certo.

As palavras que temi por anos de repente me vêm, mais fácil do que jamais imaginei.

- Eu também te amo, s/n s/s - diz ela, e é tudo que nunca soube que “eu te amo”poderia ser, me abarcando exatamente como sou, sem nenhuma condição.

É como voltar para casa, em vez de fugir.

Ela solta as mãos de trás do meu pescoço, as abaixando entre nós.

- Bom, acho que fiquei com a garota, afinal - diz.

- Viu? Falei que o plano funcionaria.

- Cala a boca.

Ela ri e agarra a gola da minha camiseta, me puxando para outro beijo.

E, pela primeira vez, eu obedeço.

Chegamos ao fim! Espero que tenham gostado.

Gostaria aproveitar esse momento pra agradecer a todos os comentários e interações com a fic, vocês são incríveis. Além disso, queria reforçar que a fic é uma adaptação do livro "Ela fica com a garota" da Alysson Derrick e da Rachel Lippincott, vulgo uma obra incrível que merece muito reconhecimento e todos os créditos. Convido todos pra conhecer a obra original e também os outros livros delas, porque são muito bons.

Lembrando que tem outras fics no meu perfil befatello, então sintam-se convidados para ir lá conferir outras histórias jenna/you ou camila/you.

Espero vê-los em outra fic, até a próxima!

Ela fica com a garota (Jenna/you)Onde histórias criam vida. Descubra agora