Capítulo 27 - Vai ser uma noite e tanto

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POV S/N

Jogo o delineador na bolsinha de maquiagem e me afasto para inspecionar o rosto no espelho do banheiro uma última vez, expirando devagar e segurando a pia fria de porcelana.

Minha perna está inquieta e encaro meu reflexo, virando a cabeça para a esquerda, para a direita, e de novo para a esquerda, passando os dedos pelo cabelo, tentando que ele caia direitinho.

Será que estou nervosa?

- Você vai andar de patins, s/n. Não pode ser tão difícil.

Bufo com desdém e pego o celular da bancada.

A tela se ilumina com uma mensagem de Jenna, avisando que está esperando na rua. Pego a carteira e as chaves no quarto e desço as escadas, enfiando os braços na jaqueta jeans desbotada no caminho.

Paro abruptamente quando abro a porta e vejo Jenna encostada no carro.

Ela está usando a calça jeans Levi’s de cintura alta e a camiseta branca justa que compramos juntas, e uma camisa de flanela quadriculada, preta e amarela, amarrada com jeito na cintura. O cabelo comprido esvoaça de leve na brisa, como se estivéssemos no meio de um filme, em vez de paradas em uma das ruas mais imundas de Pittsburgh.

Abro a boca para falar alguma coisa, mas os olhos dela me pegam desprevenida, uma camada suave de rímel e delineador destacando o tom castanho de um jeito que eu nunca tinha notado.

Acho que nunca a vi usar maquiagem.

- Merda - diz ela, se afastando do carro e olhando para a roupa, franzindo a testa - Eu fiz besteira? - pergunta, puxando a camisa amarrada na cintura - É a flanela, né? Eu sabia que devia ter só vestido uma outra camisa…

- Não. Você só está… você está… muito bonita - consigo dizer, olhando para a calça que acentua a curva de seu quadril.

Do quadril de Jenna, lembro, e afasto os olhos rapidamente.

Ela levanta a cabeça, surpresa.

Pigarreio, me corrigindo, com pressa.

- Sabe, objetivamente, claro. Enfim, é o que a Emma vai dizer.

- Ah.

A gente se entreolha.

Fala alguma coisa, s/n.

Por que estou tão calada?

Quem sou eu?

Coço o pescoço e aponto para a porta do carro.

- Vamos…

- Claro! Vamos.

Ela se atrapalha com as chaves e destranca a porta com um bipe, antes de abri-la e apontar para eu entrar.

- Quanto cavalheirismo - brinco, passando por ela.

Ela revira os olhos, mas funciona para quebrar a tensão, como eu esperava.

- Honestamente, s/n, entra antes que eu bata a porta na sua cara.

Nós duas rimos enquanto ela dá a volta pela frente e entra no banco do motorista.

O rádio liga quando ela dá a partida.

O caminho para a pista de patinação tem uma vista cinematográfica de Pittsburgh, o horizonte da cidade iluminado pela luz dourada do sol poente.

Não chega aos pés da Filadélfia, mas é mesmo bem legal. Bonita, até, essa cidade para a qual fugi.

Estico o pescoço para olhar pela janela até sumir de vista, substituída pela autoestrada.

Ela fica com a garota (Jenna/you)Onde histórias criam vida. Descubra agora