POV S/N
Saio do ônibus e constato que oficialmente descobri o lugar mais bisonho de Pittsburgh.
Um depósito gigantesco e mal conservado se estende à minha frente, com ferrugem e janelas quebradas o bastante para me convencer que ninguém deve achar mesmo que as posses ficam seguras aqui. Parece abandonado.
Garrafas de plástico velhas e embalagens de comida rolam pelo estacionamento vazio, as portas de garagem estão pichadas, e uma estrada de ferro desativada corre em paralelo ao prédio, com grama e mato crescendo por cima dos trilhos de metal.
Está abandonado?
Confiro o endereço que Jim, dono do food truck, me mandou de manhã, e comparo com o prédio à minha frente.
Surpreendentemente, está certo. Se eu morrer aqui, deixo todos os vinte e seis dólares na minha conta corrente para minha mãe. O que, na verdade, provavelmente significa que deixo para a loja de bebidas Lydia's, logo depois do posto de gasolina a duas quadras da nossa casa. Pensar nisso, por mais estranho que seja, me motiva a avançar.
Lá vamos nós.
Jogo o copo vazio do meu café caríssimo em uma lixeira que provavelmente só será esvaziada daqui a um milênio e sigo os números pelo prédio, até chegar à unidade 134.
Quem imaginaria que ser uma boa pessoa custava tão caro?
Paro devagar quando vejo uma porta escancarada e suspiro, aliviada, ao encontrar ali um food truck preto com RANGO DO JIM pintado na lateral.
Sentado ao lado da van encontra-se um cara enorme vestindo uma bandana vermelha suada e uma camiseta cinza manchada. A lenda em pessoa, imagino.
- Hm, Jim? - digo, enquanto ele joga uma caixa de papelão cheia de pão de sanduíche na van.
Ele bate a porta de trás e se endireita, secando as mãos em um pano de prato sujo e me analisando.
- s/n? - pergunta, um cigarro pendurado na boca.
Quando faço que sim, ele faz uma careta.
- Você tá atrasada.
- Eu estava ajudando uma amiga. Não vai acontecer de novo, prometo. Eu...
- Você não parece adequada pro trabalho - interrompe Jim, coçando o queixo malbarbeado e apertando os olhos - Não é nenhuma merda fofinha e alegre. Sabe, não é só ficar sentada com essa carinha bonita.
Engulo uma resposta sarcástica e a vontade de revirar os olhos; o conselho de Jenna ainda ecoa nos meus ouvidos.
- Bom, eu tenho muita experiência em não ficar sentada. Lavadora de prato, assistente de cozinha, caixa. O que imaginar, eu já fiz - digo, enquanto ele pega as chaves de uma mesa coberta por pacotinhos de ketchup Heinz.
- Tive que virar meio faz-tudo no Tilted Rabbit, pulando para as funções que precisavam de gente nos meus três anos lá.
- Sei lá. É barra pesada - diz ele - Sem ar condicionado, nem aquecedor. Sem pausa pra ir ao banheiro. Turnos longos.
Dou de ombros.
- Ótimo. Parece minha infância.
Ele ri com desprezo e puxa a porta do carona, subindo os degraus de metal.
Não vou ceder sem brigar.
Preciso disso.
Não tive resposta de nenhum dos outros currículos que enviei.
- Além do mais, já que você achou minha carinha bonita, - digo, enquanto ele se instala no banco de couro gasto, com forro amarelo escapando por baixo - pensa só as gorjetas que vou tirar.
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Ela fica com a garota (Jenna/you)
Teen Fictions/n e Jenna não parecem fazer parte do mesmo planeta, que dirá do mesmo campus da faculdade. Mas quando s/n, depois de um término péssimo (mas com sorte não permanente), descobre a paixão escondida de Jenna, elas percebem que têm um interesse em com...