Capítulo 33

29 8 55
                                    

     Escuto batidas em minha porta, mas, deitada em minha cama, não movo um músculo, continuo apenas olhando para o teto, sem vontade de encarar a realidade que me aguarda lá fora.

     — Abra a porta, Bel! — Wanda pede. — Bel, você está aí?

     Minha mente está afundada em um oceano de pensamentos. Eu não quero me levantar, não quero me mexer.

     Meus sentimentos conflitantes entre gostar de alguém que não posso ter e ter que me casar com outra pessoa, é como uma montanha-russa de emoções. Por um lado, há um sentimento ardente e proibido que me consome, fazendo meu coração ansiar por uma conexão que parece impossível de alcançar. Essa atração intensa desperta um sentimento de vivacidade dentro de mim, fazendo-me sentir viva de uma maneira que nunca experimentei antes.

     Eu tenho que admitir, Kadmus é lindo, e desperta desejos em mim, mas Akira... ele consegue despertar essa sensação em dobro. Eu estava apaixonada por Kadmus, ou pelo menos achei que estivesse. Fui programada para gostar dele, desde os meus primeiros anos de vida. Meus pais me diziam que eu era a futura esposa de um Lorde muito influente e poderoso num Reino Mágico. Que garota não iria se agarrar a isso?

     Constantemente me lembro de minhas obrigações e responsabilidades para com minha família e posição na sociedade. Mas sinto-me aprisionada em um mundo onde minhas emoções não têm voz ou liberdade para se manifestarem.

     Esse conflito entre sentimentos proibidos e deveres conjugais me deixa dividida e, muitas vezes, em um estado de confusão emocional. Me encontro oscilando entre momentos de desespero e resignação, onde eu me resigno a aceitar minha situação e cumprir minhas obrigações, apesar de meu coração estar em outro lugar.

     Isso não quer dizer que estou disposta a fugir com Akira; eu sequer o amo. E acho que eu nunca me envolveria romanticamente com alguém como ele, um assassino.

     Mas eu gostaria que as coisas não fossem assim, agora que sei que o Reino Mágico do qual sempre ouvi histórias incríveis não é tão incrível assim pessoalmente. Aqui é um lugar horrível, cheio de pessoas horríveis. E Kadmus... Ele é, de fato, a pessoa que pensei que fosse. Ele é tudo de bom. E minha vida inteira eu achei que fôssemos iguais, mas eu... eu acho que sou mais parecida com Akira.

     Kadmus é bondoso demais, algo que eu também pensei que fosse, mas estar aqui nessa ilha me fez perceber que eu sou na verdade uma pessoa que manipula, mente, trai, e comete tentativas de assassinato... Eu sou hostil e enganadora. Não mereço estar onde estou. Não mereço meu lugar ao lado de Kadmus. Ele já sofreu demais, não deveria estar com alguém como eu, alguém que, no dia do próprio casamento, se sujeita a estar nua para outra pessoa.

     As batalhas internas me geram sentimentos de culpa e frustração. Eu me sinto culpada por desejar alguém que não é meu futuro cônjuge, sinto-me desleal tanto em relação a mim mesma quanto ao homem com quem estou destinada a me casar. Esses sentimentos são angustiantes, sufocantes.

     — Isabel Misty Cavell! — Agora é a voz da minha irmã, e ela está furiosa. — Se você não tirar a magia dessa porta agora mesmo eu vou derrubar essa parede.

     — Ostium, solvatur — digo, preguiçosamente.

     As duas entram, mas permaneço imóvel.

     Desde que Akira esteve aqui, me deitei na minha cama e me permiti me afundar em pensamentos. Pensei em tudo que tinha para pensar. Não desci para o almoço. E já que minha irmã e Wanda estão aqui, deve ser porque está quase na hora do casamento.

     — Mas o que foi que aconteceu aqui? — Wanda pergunta, evidenciando a confusão em sua voz.

     — Eu sou uma inútil... — murmuro, sentindo o amargor em minhas palavras.

A Ilha InvisívelOnde histórias criam vida. Descubra agora