Os pais de Emma vivem trabalhando, mas o dinheiro nunca parece ser suficiente. Com a empresa da família em declínio, ela é forçada a trocar a escola particular pelo Colégio Estadual de Estância Brava. Lá, Emma conhece Saya, uma garota tímida que viv...
Eu estava me sentindo tão idiota. Emma provavelmente me chamou apenas para ser uma distração para o pai dela enquanto Joshua e ela namoram. Quando eu vi eles se abraçarem pelo canto do olho senti que ia vomitar, o atum voltando pela minha garganta. Os ouvi sussurrarem por uma boa parte do caminho. Tentei ouvir o que eles conversavam, mas eles estavam muito longe de mim. Provavelmente era alguma conversa melosa de namorados igual as que Pam tinha com seus paqueras.
Depois de muito tempo, chegamos ao pé do morro. Caminhamos por um gramado repleto de florezinhas até chegar a um lago banhado pelo sol da tarde. De vez em quando, alguns pássaros passavam voando acima de nossas cabeças cantando. Eu queria ir para casa, me trancar e nunca mais sair de lá, mas como eu não tenho essa opção tento aproveitar sozinha. Fecho os olhos para sentir a brisa fresca por conta do lago e do fim de tarde se aproximando, e analiso o máximo de detalhes possíveis para não prestar atenção nos pombinhos atrás de mim.
O pai de Saya chega primeiro a um local com menos flores e algumas madeiras empilhadas. Provavelmente eles sempre ficam no mesmo lugar e por isso ele já está marcado. Ele larga sua mochila no chão e estica as costas com um resmungo. Emma e Joshua chegam logo depois de mim, conversando e rindo.
-É aqui que vamos ficar Saya. Sempre ficamos aqui, pois é o melhor lugar. Tem uma vista bonita para o lago- Diz o pai de Emma confirmando minhas suspeitas- Joshua, vou precisar de ajuda para montar as barracas.
Joshua olha para Emma uma última vez com um olhar brincalhão e lhe dá uma piscadinha. Por sua vez, Emma olha para mim e me chama com um aceno de cabeça. Caminhamos em silêncio até a beirada do lago e nos sentamos em silêncio. No caminho, pego um galho de árvore e algumas pedras para ter o que fazer com as mãos. Ficamos em silêncio por uns cinco minutos, até Emma quebra-lo perguntando o que eu estou achando do acampamento.
-Estou gostando- Quero ir embora- É um lugar muito bonito mesmo.
Era metade mentira e metade verdade. O lugar era realmente bonito, mas eu não sei se eu realmente estava gostando. Estou um pouco mal por ter descoberto que sou a distração de Emma para se agarrar com o namorado dela. Tenho certeza de que ela queria estar ao lado dele agora e que eu estivesse ajudando o pai dela a armar as barracas. Provavelmente seu plano deu errado. Mas porque ela me tirou da minha casa para vir até aqui? Emma não poderia namorar em outro lugar? Tipo uma sorveteria ou na esquina de sua casa?
-Que cara é essa? Você está bem?
- Há quanto tempo você e Joshua namoram?- Pergunto jogando uma pedra no lago para fingir desinteresse e ignorando totalmente sua pergunta.
O rosto de Emma se contorce em uma careta e um sorriso enorme surge em seu rosto. Depois vem às gargalhadas, nunca a vi rir dessa forma. Seu rosto fica vermelho como um tomate e ela se curva para frente abraçado a barriga. Uma lágrima escorre por sua bochecha e me sinto confusa.
- Eu e Joshua? –Ela pergunta enxugando os olhos lacrimejantes- A gente não namora. Somos primos.
-Primos?
De repente, meu estômago para de se revirar. Primos? Por essa eu não esperava. Não faz sentido nenhum.
-Sim. O que você pensava sobre nós?- Pergunta Emma ainda sorrindo.
-Eu sei lá. Eu achei que vocês tinham algo a mais já que andam juntinhos e cochichando. Sabe, fazendo aquelas coisas de namorados.
-Ai que nojo. Sério que você estava achando que eu namorava meu primo? - Emma estremece- Estou solteira. Desde... Sempre.
Uma sensação de alívio tão grande me envolve que de repente tudo a minha volta tem mais cor e harmonia. Então Emma não estava me usando como distração para o pai dela. Eles são primos! Que alívio. Mas... Então quer dizer que ela me trouxe aqui por que gosta de mim. Porque quer ser minha amiga. Porque gosta da minha companhia. Minha nossa! Ela me acha legal?
-E você? Já deve ter tido algum namorado.
-Na verdade, não. Eu nunca namorei e nunca tive algum menino no meu pé- Digo me lembrando da sensação de ser a única desacompanhada no meio daquele monte de gente. Eu nunca tive alguém para dançar comigo.
-Está brincando. Você anda com a Pam, a garota que pega todos os garotos que passam pela frente dela- Emma diz quase em um tom sarcástico. Mesmo sendo nova no colégio, ela já havia reparado no jeito de Pam.
-Pois é. Mas eu não sou igual a eles. Não sou Pam e nem Matias.
-Sorte a sua. Desculpa falar isso dos seus amigos, mas eles não são as melhores pessoas do mundo.
-Eu sei- Digo baixinho- De qualquer forma, acho que eu sou esquisita demais para alguém.
- Se você é esquisita eu não quero saber o que eu sou. Uma esquisitona?- Emma sorri mostrando todos os seus dentes branquinhos.
-Você não é esquisita- Digo me inclinando para ver melhor o rosto de Emma.
O sol beija sua pele deixando-a brilhante. O vento havia bagunçado seus cabelos negros de uma forma que emoldurasse seu rosto definido com harmonia. Seus óculos de armação redonda deslizam pela ponte do nariz corado e ela sorri, levando o óculos para o seu lugar.
-Para falar a verdade, eu te acho bonita- Imediatamente sinto minhas bochechas queimarem e a vontade avassaladora de engolir minhas próprias palavras. Parabéns Saya! Você perdeu a oportunidade de ficar quieta.
Emma exibe um daqueles sorrisos de dentes brancos em resposta. Para acabar com aquele momento vergonhoso, abro a mão e ofereço para ela alguma das pedras que eu havia pegado no meio do caminho. Ela pega um punhado e joga uma por uma no lago, fazendo-as pular sobre a superfície. Em algum momento que não me lembro, começamos uma pequena competição de quem consegue jogar a pedra mais longe.
Levanto-me rapidamente quando jogo a última pedra que ultrapassa o local que a pedra de Emma caiu. Eu havia ganhado dela. Pulo em comemoração e ela faz o mesmo, rindo da minha empolgação. De repente, meu pé escorrega na lama que tem ao redor do lago me levando para baixo, e eu me apoio em Emma que também acaba caindo comigo. De um segundo para o outro estamos dentro da água. Tudo estava frio e dolorido, mas não conseguimos segurar o riso por muito tempo.
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