16- Saya

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É um sacrifício ir para ao colégio com todas aquelas pessoas cochichando pelas minhas costas. Mais horrível ainda é não poder ficar perto da Emma sem ouvir algum comentário ofensivo. E mais horrível do que tudo isso é ver ela desconfortável.

Eu estraguei tudo.

Largo a cabeça em cima da mesa como se fosse um objeto, fazendo-a quicar duas vezes. Meu cérebro balança e tenho esperanças de que isso faça meus sentimentos se misturarem e se perderem. Mas isso não acontece. Continuo ali. Dentro da sala de aula olhando os ponteiros do relógio e fingindo que não vi que uma bolinha de papel com algum desenho maldoso me acertou. Tenho quase certeza que foi Pam que atirou. Eu realmente achei que éramos amigas. Nossa amizade durou tantos anos e acabou em tão poucos minutos.

O sinal do intervalo finalmente toca. Eu me arrasto pelo corredor e espero todas aquelas pessoas saírem e largarem o corredor sozinho. Hoje eu havia esquecido meu almoço, não tinha nem uma barrinha de cereais no bolso e não fazia muito sentido ir para o refeitório ocupar uma mesa sozinha. A sorte é que eu não estava com muita fome. Acho que essa situação estava me deixando deprimida.

Deslizo as costas pela parede como acontecem nos filmes e afundo a cabeça entre as pernas, sentindo o aroma do amaciante usado para lavar o uniforme. Laila sempre era muito cuidadosa com nossas roupas. Lavava, estendia e passava com toda a paciência do mundo.

Era doloroso ficar longe de Emma. Odiava ter que ignorá-la, mas olhar em seus olhos significava ver a dor que ela carregava. A dor de ouvir aqueles comentários horríveis quando estávamos próximas. Eu queria ser surda. Eu queria não ter sentimentos. Eu desejava nunca ter conhecido Emma. Talvez, no fundo, eu a odiasse pro tudo isso. E mais ainda, me odiava.

Estava tão perdida em meus pensamentos que só percebi que alguém se aproximava quando ela já estava perto de mim. Até que esse barulho finalmente para e algo quente se acomoda perto de mim. Pela fresta dos meus braços vejo um pé a mais ao lado do meu. Levanto a cabeça e vejo Emma bem ali, sentada ao meu lado com um sanduíche repartido ao meio nas mãos.

-Sanduiche de atum?- Ela estende um dos pedaços para mim. Ela sorri gentilmente, com as bochechas coradas e o perfume dela me envolvendo. Não aguento e acabo sorrindo.

-Isso me traz boas memórias.

Saboreamos o sanduíche em silêncio. Apenas a companhia dela melhorava meu humor. As vozes pareciam calar a boca e a ansiedade ia para o ralo. Tudo ficava em silêncio para que a gente pudesse brilhar. Enquanto como meu lanche, encaro os nossos pés. Vestimos tênis da mesma cor, a única diferença é que na lateral do tênis dela há estrelas bordadas. As estrelas sempre estão em algum lugar de Emma.

-Por que veio até aqui?-Pergunto quebrando o silêncio entre nós. O único barulho que chegava até ali era a da conversa vinda do refeitório.

-Porque você é a minha... amiga, não é? Amigas ficam preocupadas quando elas faltam na aula de xadrez e se isolam do mundo.

-Não tem medo de que alguém veja você aqui?

-Por que eu teria? Não estamos fazendo nada demais- Emma morde mais um pedaço do sanduíche- Apenas comendo sanduiche de atum.

Emma me faz sorrir. Ela me impressionava com a habilidade de deixar tudo mais leve. Como a vida não fosse tão séria assim. Me permito acreditar nisso por alguns segundos, de esquecer que o mundo caia do lado de fora.

-Eu sinto muito por você ter que ouvir o que aquelas pessoas dizem. É culpa minha.

-Não, não é culpa sua- Sua mão pousa delicadamente no meu joelho- E eu não ligo para eles. Você também deveria não ligar.

-Estou trabalhando nisso, mas é complicado.

Emma assente terminando de mastigar. Aproveito o momento para continuar a falar.

-Eu não imaginava que minha melhor amiga iria espalhar isso sobre mim. Por quê?

-Ninguém espera isso da melhor amiga. Ex- melhor amiga. Vai por mim, você está melhor sem ela.

De qualquer forma, eu ainda sentia falta de Pamela. Não era fácil acabar com uma relação de anos de um dia para o outro. Uma parte de mim estava louca para voltar para ela, segurar em suas palavras e me livrar dessa sensação horrível que morava no meu corpo. Agora parecia que eu estava desprotegida.

-Obrigada- Digo olhando para os nossos pés e tentando não pensar na sua mão no meu joelho.

-Pelo que?

-Pelo almoço. E por estar do meu lado.

-Ah. Olha não precisa se culpar, está bem?

Assinto, mesmo que eu ainda não tenha aceitado que aquilo não era minha culpa.

-Te vejo no xadrez?- Emma estende a mão para mim e eu a seguro, sentindo faíscas percorrerem a palma da minha mão.

-Acho que sim.

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Os tons de rosa do meu arco-írisOnde histórias criam vida. Descubra agora