11- Emma

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Passamos por uma árvore caída, o ponto onde sei que faltam apenas alguns metros para alcançarmos o topo.

-Venha! Estamos chegando- Corro na frente de Saya e ouço seus passos vindos atrás de mim.

Chegamos a uma área com apenas algumas árvore e o restante limpo como uma tela. Estava encantador como sempre. O céu estava tão azul que chegava a arder os olhos e o sol refletia sem piedade no lago abaixo de nós. Pequenas flores brancas cobriam o vasto gramado até onde a floresta começava novamente. Os troncos de árvores que usamos da última vez ainda estão aqui, reunidos em um circulo.

-É lindo, não acha?- Pergunto extasiada pela paisagem.

-Com certeza. Eu nunca vi algo assim- Saya dá mais alguns passos para frente, hipnotizada com a vista em nossa frente.

-É magnifico. Nunca perde a graça- Diz meu pai pousando a mochila pesada no chão- A primeira vez que eu trouxe Emma foi quando ela tinha apenas três anos. Lembro que a mãe dela ficou muito preocupada em perder a filha no meio de tanta árvore. Mas Emma adorou tanto isso tudo. Eu não imaginava que minha filha iria preferir acampar com o pai a ficar em casa com uma televisão na frente dela.

Uma onde de saudade me invade. É tudo uma memória borrada, mas eu ainda me lembro. Ainda está dentro de mim cada momento que tivemos nesse lugar. Nessa época meus pais não eram tão ocupados, então acampávamos todo verão. Passo a ponta dos dedos pela inicial dos nossos nomes talhados em uma árvore. Talhamos com o canivete do meu pai quando minha mãe ainda vinha acampar conosco.

-Você está bem?- Pergunta Saya aparecendo ao meu lado.

-Sim. É que...

- O almoço está servido! Tem um para cada- Meu pai grita do circulo acenando com um sanduiche embalado no papel alumínio tirado diretamente da sua mochila.

Saya e eu dividimos o mesmo banco de tronco de árvore. Mastigamos em silêncio o sanduiche de atum que minha vó fez mais cedo. Aquilo me lembrava minha infância. Lambo cada um dos dedos quando acabo de comer. Saya me observa de olhos arregalados do meu lado.

-Você gosta mesmo de sanduiche de atum- Ela morde mais um pedaço do seu sanduiche - Se eu não estivesse com tanta fome, te daria o restante do meu sanduiche.

-É que isso tudo me faz lembrar a minha infância. Eu acampava todo verão com meus pais.

-Não acampam mais? Achei que você acampava todo fim de semana.

-Quem me dera- Digo rindo de seu comentário- E você? Já saiu para acampar alguma vez?

-Não. A minha vida tem sido apenas ir a festas com a Pam e o Matias e voltar tarde da noite com dor de cabeça.

Pam e Matias. Esses eram os nomes dos amiguinhos da Saya que eu não gosto. Uma sensação estranha percorre meu corpo. Por que ela aceitou vir? Espero que não seja para espalhar o quão esquisita sou.

-Eles me chamaram para ir a uma festa hoje a noite- Saya diz enquanto forma um desenho na terra com a ponta do sapato. Ela parece um pouco desconfortável.

-Por que você não foi?- Pergunto começando a me sentir mal. Será que ela veio porque eu a chamei antes dos amigos dela? Ela veio só para não se sentir culpada?

- Acho que eu só não estava com vontade de ir à festa. Ver aquele bando de gente se pegando e ligando apenas para a aparência- Ela solta uma risada sem animação- Prefiro passar o dia aqui com você. De alguma forma eu me sinto mais confortável com você.

-Meninas, vamos!- Meu pai grita não deixando tempo para eu responder Saya. Uma parte de mim agradece em silêncio porque eu não faço ideia do que fazer além de gaguejar.

A descida é um pouco mais complicada que a subida. No caminho, temos que desviar de galhos de árvores, plantas espinhosas e raízes. Acho que eu passo metade do tempo pensando no que Saya disse. Ela preferiu vir comigo a ir a uma festa com os amigos dela. Uma coisa que eu não entendo é que ela vive com eles e me prefere? Não faz sentido.

-Emma- Joshua segura meu braço deixando meu pai e Saya avançarem e nos deixarem para trás- Eu não queria me intrometer, mas eu acabei ouvindo a sua conversa com a Saya.

-Ah. Você também achou sem sentido?

-Não. Na verdade eu acho que ela não é uma idiota como os outros. Ela trocou os amigos dela pra ficar com você. Quer dizer que ela se importa com a amizade de vocês.

-Eu não sei. E se for tudo uma encenação para descobrir podres sobre mim e espalhar para o mundo?- Joshua segura meus ombros e me faz parar.

- Que podres que tem para falar de você? Emma você é maravilhosa. E se, de repente, ela não for mesmo flor que se cheire, se afasta.

-Parece tão fácil quando você diz- Chuto uma pedrinha longe na esperança dela carregar o que eu sinto junto com ela.

-Por que está se importando tanto com o que ela pensa? Está acontecendo alguma coisa? Você nunca foi assim- Joshua diz e isso me irrita um pouco, mesmo que ele esteja perguntando só por estar preocupado.

-Não. Eu... Eu não sei. Acho que é porque nunca alguém quis se aproximar de verdade de mim. Quero dizer, ter uma amizade comigo. É tudo muito estranho.

-Tenta relaxar um pouco Emma- Joshua passa o braço por cima dos meus ombros - Eu vou ficar de olho nela mais um pouquinho para ter certeza que ela não vai magoar o coraçãozinho da minha prima.

-Você é demais- Rio e encosto a cabeça no ombro dele, sentindo seu cheiro familiar. 

Os tons de rosa do meu arco-íris Onde histórias criam vida. Descubra agora