17- Emma

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No meio de mil guarda-sóis, o mar vem até mim. Eu não tinha certeza se ela viria pelo seu tom de voz inseguro da nossa última conversa, mas aqui estava ela sentada a minha frente. Já estava me preparando para jogar mais uma vez com a professora e torcer para que ela não me faça nenhuma pergunta sobre a ausência de minha parceria quando ela passou pela porta aos pulinhos. Acho que eu nunca fiquei tão feliz por estar tão perto do mar.

-Xeque-mate!- Pego o rei branco de Saya e balanço no ar comemorando minha vitória. Ela apenas assiste com a boca entreaberta e cruzando os braços. Era nosso terceiro jogo e a terceira vez que ela perdia.

-De novo? Você roubou- Ela me acusa apontando um dedo com a unha pintada de azul claro combinando com o cabelo em minha direção. Uma ruga profunda se formava entre suas sobrancelhas e fazia biquinho com os lábios rosados. Algo me dizia que a maré estava começando a subir.

-Não, não roubei. Você que não sabe jogar- Provoco. Seu olhar feroz e os lábios curvados não me assustavam. Tinha algo neles que tornava a situação engraçada. Sentia vontade de ir até ela e enchê-la de cócegas, substituindo a carranca por um sorriso.

-O que? Desisto!- Saya se rende erguendo as mãos e empurrando o tabuleiro de leve para longe de si. Enquanto ela se mostrava emburrada, eu não conseguia para de sorrir.

-Mas você jogou bem- O furacão em seus olhos encontram os meus, dessa vez mais suaves.

-Está mentindo só para eu não ficar mal.

-Claro que não.

-Óbvio que sim – Seus olhos se estreitam em minha direção e um pequeno sorriso lhe escapa. Não encontro palavras para descrever o quanto eu senti falta de jogar com ela e também não digo isso a ela.

Abro a boca para responder suas provocações e dar continuidade a brincadeira, mas a professora com os cabelos presos em um rabo de cavalo bate palmas no meio da sala chamando a atenção de todos. Ela endireita a coluna e alinha os pés com ar de quem tinha um anúncio muito importante para fazer, tipo anunciar o fim da segunda guerra mundial. Um sorriso também surge em seus lábios finos.

-Meninas e meninos eu tenho uma notícia que vocês vão gostar- Seus olhos marrons percorrem a sala- Vamos ter um campeonato de xadrez que acontecerá daqui duas semanas. Nosso colégio estará competindo com outro de ensino público. E usaremos essas duas semanas para treinar e melhorar suas técnicas de jogo.

Com isso, um burburinho surge com os diversos jovens trocando opiniões sobre a nova novidade. Uns se mostravam bem animados enquanto outros entortavam o rosto em uma careta. Uma dessas pessoas, uma garota de cabelos loiros, levanta a mão para fazer uma pergunta.

-É obrigatória participar?

A pergunta afeta um pouco o sorriso animado da professora, mas ela não perde a postura.

-Não é obrigatório, mas seria ótimo que vocês participassem dessa experiência. Estarei passando nas mesas anotando os nomes de quem for participar. Mais alguma pergunta?

A sala fica em silêncio total por alguns segundos. A professora apenas assente em resposta e procura por algo em sua mochila. Com o fim do anúncio, me volto para Saya que não parecia ser uma pessoa feliz nesse momento. Ainda se opondo ao meu sorriso, agora ela tinha uma careta no rosto. O nariz franzido com a ideia de competir.

-Você vai participar, não vai?- Pergunto mesmo prevendo a resposta. A sua cara já dizia tudo.

-Nunca.

-Por quê?

-Eu sou ruim demais para competir.

-Deixa disso, Saya- Reviro os olhos e deixo a cabeça cair para trás. Eu tinha que convencê-la a participar. Não queria ir para lá sozinha no meio de um monte de gente desconhecida. Desde que a gente saiu para acampar eu percebi que tudo fica melhor com amigos- Vai ser divertido! E você tem a melhor professora.

-Melhor não Emma. Você que devia competir.

Seu tom de voz firme não parecia que ia mudar tão cedo. Quando se trata de se esconder, Saya era uma especialista. Então preciso apelar para algo maior. Me inclino para frente e enfio a maior expressão de coitadinha que consigo fazer na cara. As sobrancelhas levemente curvadas, os olhos caídos e o beicinho de quem vai chorar.

-Vai me deixar sozinha nessa Saya?

Os olhos de Saya escurecem de dúvida. No meio daquela névoa vejo culpa. Acho que ela tem medo de me decepcionar, por mais que nunca tenha feito isso até agora.

-Eu não sei Emma...

-Eu prometo te ajudar a melhorar. E não tem problema se você perder, eu só quero que você vá junto comigo. Por favor!

-Está bem. Você me convenceu Emma- Um pouco da culpa abandona seu olhar quando começo a comemorar. Teria uma parceira para competir. Teria uma amiga ao meu lado.

Ainda comemorando ergo a mão para chamar a professora. Dou nossos nomes para ela com um grande sorriso e com a empolgação crescendo dentro do peito. Ela também para ficar feliz por contar com nossa participação.

-Obrigada- Digo a ela quando estamos sozinhas novamente.

Saya cruza os braços e deixa a cabeça cair de lado com uma expressão de dor e arrependimento.

- Eu estou começando a me arrepender.

-Por quê?

-Porque eu ia me sentir mais confortável apenas vendo você jogar. E não sendo vista por milhares de pessoas.

-Não exagera. É um campeonato bobo de colégio. E eu já disse que vou te ajudar a melhorar.

Saya bufa derrubando um pião ao se inclinar para trás. A peça rola até a janela e meus olhos encontram o céu que está cheio que nuvens e com o sol escondido atrás delas. Isso me lembra do dia do acampamento.

-Está livre no sábado?

-Vamos acampar de novo?

-Não, mas você podia ir lá na minha casa para a gente jogar. E você aproveita para conhecer minha galinha já que não deu tempo aquele dia.

-Você tem uma galinha?- Pergunta Saya surpresa.

-Tenho! A Bonita. Eu nunca te contei dela?

-Você tem uma galinha de estimação?- Seu queixo cai como se uma galinha fosse algum tipo de alienígena.

-Tenho sim- Digo começando a rir do seu espanto.

-Mentira!

-Verdade.

-Que horas no sábado?

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Os tons de rosa do meu arco-írisOnde histórias criam vida. Descubra agora