4-Saya

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-Qual é mãe? Tinha que gritar daquele jeito?

-Estou atrasada. Toda quarta vai ser essa palhaçada de xadrez? Vou ter que te buscar toda vez?

-Eu posso pegar carona com a Pam quando você estiver muito ocupada.

-Só que precisa me avisar antes- Minha mãe pisa no freio e paramos no semáforo a uma quadra de casa- Falando na Pam, achei que ela iria fazer xadrez com você.

-Não. Ela preferiu vôlei de novo.

Apoio a cabeça no vidro. Eu já joguei vôlei, mas como a maioria das atividades, eu não me encaixei. Minha mãe disse que é falta de vontade minha, mas não é o que meu coração sente.

-Quanto tempo vai levar até você desistir do xadrez também?- Ela dá duas batidinhas no volante e pisa novamente no acelerador- Quem era aquele garoto conversando com você no portão?

Respiro profundamente. O mau humor da minha mãe está me deixando de mau humor.

-Não era um garoto. Era a Emma, a aluna nova- Aperto a ponte do nariz torcendo para chegarmos logo- Ela é a única da minha turma que está fazendo aulas de xadrez. Ela é muito boa.

-Garota?- Percebi que ela não prestou atenção em uma palavra que eu disse- Cuidado com esse tipo de gente minha filha. Não dá para saber o que se passa na cabeça dessas pessoas hoje em dia.

Escolho ficar quieta. Argumentar contra minha mãe de mau humor iria me causar dor de cabeça. Afundo um pouquinho mais no banco para despistar o raio de sol que pega bem no meu olho.

-Desculpa filha- Ela diz enquanto estaciona o carro na garagem do prédio- Trabalhar em Home Office tem sido estressante.

Subimos para o apartamento em silêncio. Ao abrir a porta, o rosto calmo da minha mãe volta a ficar duro e estressado ao ver Susie prestes a arremessar um bloco cor de rosa em direção a televisão da sala.

-Me desculpe Srta. Miller. Eu já ia começar a arrumar essa bagunça- Diz Laila segurando o pulso de Susie e tirando o bloco de sua mão- Mas é que Susie está muito inquieta.

-Saya!- Ela joga os bracinhos ao redor do meu pescoço para que eu a pegue no colo.

-Não se preocupe Laila. Saya leve sua irmã para o quarto.

Eu a pego no colo e ela apoia a cabeça carinhosamente em mim passando os pequenos dedos por uma mecha do meu cabelo.

-Do que brincou hoje a tarde?- Pergunto a colocando de pé em sua cama e segurando suas mãos para que possa pular sem o risco de cair.

-Casinha. Laila me ajudou a fazer um carrinho para minha boneca.

-Deve ter sido divertido. Quer assistir televisão? Está quase na hora do seu desenho preferido.

-Sim.  Você pode pentear meu cabelo?- Ela pergunta se sentando na cama e dando tapinhas no lugar ao seu lado.

Ligo a televisão e pego a escova de Susie. Ela deita a cabeça em meu colo deixando um mar de fios castanhos para eu pentear. Deslizo a escova cuidadosamente pelos seus cabelos para desembaraçar os fios e depois uso os dedos para acaricia-la. Não sei o motivo, mas isso me faz pensar na Emma.

Nesse meio tempo, minha cabeça esteve tão cheia que não tive tempo para pensar na tarde de hoje. Não sei se vou me dar bem com xadrez, mas a maneira calma que Emma me explicou faria com que eu continuasse só para ouvi-la. Acho que Pam e Matias estavam errados sobre ela. Emma não é esquisita como eles disseram. Ela até que é...

-Por que parou?- Susie acorda do meu transe.

-Eu só estava me lembrando de algo.

-Está apaixonada?

-O que? Não! Lógico que não.

-Quem você conheceu na aula de xadrez?- Como essas crianças podem ser tão espertas?

-Eu não conheci ninguém. Eu só fiz uma amiga- Digo sentindo meu coração acelerar. Que droga.

-E você gosta dela?

-Sim. Como amiga, é claro. Na verdade eu acho que nem somos amigas. Talvez colegas, por enquanto- Susie solta uma risada mostrando um sorriso banguela- Olha... Susie. Você é nova demais para isso, está bem? Só tem sete anos.

-Está bem- Ela ri novamente fazendo as bochechas ficarem cada vez mais vermelhas.

-Então você quer rir?- Deixo a escova de cabelos de lado e ataco seu pescoço com cosquinhas.

Susie se contorce tentando se livrar das cócegas, mas eu sou mais forte. Sua risada preenche o ambiente me fazendo rir também. Rimos até a barriga doer, ou melhor, até nossa mãe nos interromper.

Após ela fechar a porta, brava pelo barulho, eu percebo que Susie ganhou uma carinha emburrada pela bronca. Engatinho até ela e faço um sinal de silêncio e volto a fazer cócegas nela. Logo um sorriso volta a brilhar em seu rosto.

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Os tons de rosa do meu arco-írisOnde histórias criam vida. Descubra agora