18- Saya

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Apareço sábado à tarde na casa da Emma vestida com uma calça de ioga folgada e uma blusa fresca. O dia estava quente, mas Emma vestia calça de moletom e uma camiseta branca amassada. Como em todas as suas roupas, havia estrela em algum lugar. Dessa vez, tinha apenas uma pequena estrela bordada na manga da camiseta.

-Onde está Bonita?- Entro olhando ao redor, louca para conhecer a tal da galinha.

-Oi para você também- Emma diz trancando o portão assim que entro- Bonita! Cadê você minha garota?

A galinha surge dos fundos da casa, cacarejando. Suas penas são marrons e parecem macios sob o toque de Emma.

-Não tenha medo garota. É a Saya, minha amiga. Ela não vai te cozinhar em uma panela.

Amiga. Emma me chamou de amiga. Minhas bochechas coram imediatamente.

-Aqui. Pode passar a mão- Ela havia pegado Bonita no colo para que eu a acariciasse.

Suas penas marrons eram realmente macias. Os olhos esbugalhados da galinha não deixaram de me encarar por um segundo. Não demorou muito para que ela batesse as asas escapando dos braços de Emma e fazendo diversas plumas flutuarem pelo ar.

Trocamos olhares e gargalhamos como se aquilo fosse a coisa mais engraçada do mundo. Não deixo de reparar que Emma fica incrivelmente linda quando ri. Principalmente quando ri e sobe os óculos pela ponte do nariz, colocando-o no lugar.

-Vamos entrar.

Emma me conduz para seu quarto. Ele é pequeno e confortável, com uma janela com vista para o quintal da casa. Ela se senta no chão mostrando o tabuleiro de xadrez e as peças por montar.

-Minha avó colou as peças do nosso jogo de xadrez, então tivemos que revirar cada canto da casa para encontrar este.

-Caramba- Meu dedo sai grosso de pó ao deslizar pela superfície do tabuleiro- Isso tem quantos anos?

-Alguns milênios.

Sorrio. É impossível não sorrir dos comentários de Emma.

-Eu sou o branco!- Ela diz antes de mim.

-Injusto! Assim você sempre ganha.

-Errado! Hoje você está aqui para aprender com a melhor jogadora de todos os tempos- Ela pisca para mim- Pois é. Morar com sua avó tem suas vantagens.

-E sua mãe? Não a conheci- Pergunto cuidadosamente com medo de ela responder que sua mãe havia morrido ou a abandonado.

-Ela trabalha demais.

-Entendi. A minha mãe também trabalha demais. A diferença é que ela trabalha em casa, então preciso aguentar o estresse dela o dia todo.

Emma esboça um pequeno sorriso, com os olhos concentrados nas peças.

-Por que os adultos precisam trabalhar o tempo inteiro? Eles não podem apenas curtir a vida um pouco?

-Acho que eles estão preocupados com nosso bem estar- Minha mãe vivia com a cara grudada na tela do computador e suor escorrendo pela testa. Ela sempre estava tão preocupada.

-Eu sei. Só que eu não consigo me imaginar trabalhando vinte e quatro horas por dia em um emprego estressante.

-Eu também não- Digo.

Emma anda a primeira peça dando inicio ao jogo. Encaro aquele monte de peças sem saber qual eu devo movimentar. Ela deve perceber meu olhar perdido, pois me diz que preciso mover o cavalo.

-Vou te mostrar uma técnica. É simples e pode fazer você ganhar.

Durante uma hora inteira, Emma me ensina maneiras de virar o jogo para o meu lado. Chego à conclusão de que ela tem muita paciência, pois não a perde nem quando eu erro mil vezes.

Uma leve batida na porta nos interrompe. A avó de Emma aparece pela fresta vestindo um avental xadrez e touca nos cabelos.

-Meninas, vocês não querem me ajudar a fazer cupcakes? Prometo que deixo vocês decorarem como quiserem.

Os olhos brilhantes de Emma se voltam para mim. Cupcakes pareciam uma ótima ideia depois de tanto treino, então assinto para ela. Vamos ajudar.

-Estamos indo vó.

Os tons de rosa do meu arco-írisOnde histórias criam vida. Descubra agora