14- Saya

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Esse foi o fim de semana mais incrível que eu já tive. Eu estou doida para chegar ao colégio e dizer a Pam que ela e Matias estavam errados sobre a Emma. Quem sabe ela possa até passar o intervalo conosco. Eu havia ficado com um peso na consciência ao saber que Emma ouviu as coisas que eles disserem sobre ela.

-Oi Saya- Diz Matias passando os braços sobre meus ombros e caminhando ao meu lado até minha carteira- Me diga uma coisa. Os peitos da Emma são tão pequenos quanto aparentam ser?

-Do que você está falando?- Pergunto confusa.

-Ela beija bem?- Um bando de pessoas ri ao ouvir a pergunta de Matias.

-Você está louco? Por que está falando essas merdas?- A raiva começa a borbulhar dentro de mim. Não sabia que Matias podia ser tão idiota

-Saya, Saya. Você é tão inocente. Não precisa mais esconder. Todos nós já sabemos que você gosta do "homenzinho" da sala.

Matias da um passo para o lado revelando Pam sentada em cima da carteira com o celular na mão. Ela ria dos comentários, mas não parecia muito a fim de conversam comigo.

-Do que eles estão falando Pam?- Pergunto ficando cada vez com mais raiva.

-Estão dizendo que a gente já sabe que você é sapatona.

-Eu? Que mentira.

-Saya ninguém troca a melhor amiga para sair com o "homenzinho" da sala.

Sinto o ódio revirar no meu estomago feio um animal ansioso para sair da gaiola. Emma tem razão de não gostar dessas pessoas. Não sei porque sou amigos deles a tanto tempo.

-Vocês são tão idiotas- Falo entre dentes- Pam eu esperava mais de você.

Jogo minha mochila por cima do ombro e marcho para fora. Eu estava com tanta raiva que o canto dos meus olhos estava ardendo prontos para se encher de lágrimas. No meio do corredor, encontro Emma caminhando em direção a sala de aula, usando sua jaqueta como sempre. Sua expressão fica confusa ao ver que eu caminho em sua direção. Agarro seu braço e começo leva-la na direção oposta.

-O que aconteceu? Você está bem?- Ela pergunta tropeçando em seus próprios pés enquanto a arrasto comigo.

Só a largo quando estamos em uma distância segura e afastadas de pessoas iguais a Pam. Emma ajeita os óculos no rosto e me encara confusa. Hoje ela usa apenas um hidratante labial e as mesmas roupas que é acostumada a usar na escola.

-Desculpa Emma- Digo deslizando de costas pela parede. Acho que se eu continuasse de pé, eu cairia.

-Saya você está me preocupando. O que aconteceu?- Ela pousa a mão no meu ombro.

Apenas balanço a cabeça. Eu não consigo dizer. E se Matias estiver certo? E se todo esse tempo eu não peguei ninguém por gostar de garotas? A mão dela no meu ombro me deixa com o coração acelerado. Isso não é um bom sinal, é? Por que comigo?

Acho que a pior parte nem é essa. É saber que não estão fazendo isso apenas comigo, estão fazendo com Emma. Eu não queria que ela se chateasse mais. Já basta o que Matias disse pelas costas dela.

-A Pam e o Matias espalharam uma mentira sobre nós. Todos estão dizendo que a gente se pegou nesse fim de semana. Estão todos convencidos e eu... Desculpa Emma. Eu não queria que você ficasse chateada e não queria que ficasse mal com as coisas que eles dizem. Desculpa mesmo. Eu sinto tanto- Eu só percebo que estou tremendo quando Emma me abraça. Apoio a cabeça em seu ombro enquanto sua mão passeia pelas minhas costas.

-Não precisa se desculpar. Nada do que eles dizem é sua culpa- Emma se senta ao meu lado desfazendo o abraço.

-Desculpa. Você não está brava?

-Não com você.

-Obrigada.

Ficamos um silêncio por um tempo até meu corpo parar de tremer. O sinal toca e alguns alunos que andavam pelos corredores vão em direção a suas respectivas salas. Emma se levanta, mas eu seguro seu braço.

-Quer matar aula?

- Não vamos dar mais um motivo para falarem da gente Saya. Vamos para a aula- Emma joga a mochila no ombro e sai andando.

Ela não demostra. Até está sendo legal comigo. Mas, eu sei que isso machucou ela também. Encaro o corredor a minha frente. Eu só queria gritar e fazer essas paredes tremerem.

*

-Por que está cabisbaixa?- Pergunta Laila quando entro em casa junto com minha mãe.

-Ah. Acho que é só cansaço- Digo caminhando em direção ao meu quarto.

-Filha, o que está acontecendo? Eu te conheço- Minha mãe larga os saltos pretos na porta e caminha até a mesa da cozinha onde seu notebook está aberto- Saya?

Imediatamente sinto meu peito doer e minha garganta queimar. As duas me observam, minha mãe com seu olhar critico e Laila com um olhar preocupado.

-A Pam... Ela espalhou para todos que eu e a Emma estamos nos pegando- O animal dentro do meu estomago volta a se mexer.

-E você fez isso Saya?- Ela ergue as sobrancelhas com raiva aparecendo em seu rosto e voz.

-Não.

-Saya! Quero a verdade- Ela diz alto demais e Susie aparece confusa.

-Essa é a verdade! Eu não beijei a minha amiga. Eu só fui acampar com ela.

-É bom a senhorita estar falando a verdade. Se eu descobrir que está mentindo para mim...

No canto do corredor, Susie nos observa com medo do tom de voz bravo de mamãe. Ela agarra firmemente sua boneca de pano.

-Senhorita Miller pegue mais leve com sua filha. Ela não parece estar mentindo- Laila vai até Susie e pega sua mão- Vamos para o quarto princesa.

-Acredita em mim. É só porque ela é diferente que eles já fazem essas maldades. Inventam tanta coisa sobre ela. - Olho para meus pés descalços no chão frio- Acredita em mim mãe.

-Não quero que converse mais com essa tal de Emma. Ela não parece ser boa companhia.

-Mas, mãe!

-Pro seu quarto Saya. Preciso trabalhar.

Vou me arrastando até meu quarto. Afundo a cabeça no meu travesseiro e em segundos as lágrimas rolam pelo meu rosto ensopando a fronha do travesseiro. Eu odeio que estejam fazendo isso. E odeio mais ainda me sentir atraída por Emma. 

Os tons de rosa do meu arco-íris Onde histórias criam vida. Descubra agora