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Eu me sinto estranha. Nunca fui muito de amigos, mas acho que estou feliz por ter conversado com Saya. Ela é insegura, percebi isso assim que ela hesitou em andar sua primeira peça. Aposto que estava pensando no que eu acharia se ela errasse.
Confesso que eu também pensei no que ela achava de mim, mas não pensei nisso por mais de cinco segundos. Está bem, acho que estou pensando nisso de novo. De duas coisas eu sei, ela gostou dos meus bordados e me acha boa no xadrez. Espero não ter ficado vermelha.
Hoje, entro mais confiante na sala de aula. Mas a minha confiança desaparece logo que vejo Saya sentada ao lado de Matias e Pam. Uma parte de mim esperava que ela sentasse ou falasse comigo.
Sento-me no mesmo lugar de sempre. Ao retirar o fone da bolsa, arrisco olhar em direção a Saya. Para minha surpresa ela também está me olhando. Ela sorri para mim e a respondo com outro sorriso, mas logo o brilho desaparece de seu rosto quando Pam tenta procurar a pessoa que causou o sorriso. Viro-me rapidamente. Eu não sei o porquê não vou com a cara dos amigos dela. Para falar a verdade eu achava que ela era igual a eles, mas ontem ela me mostrou o contrário.
As pessoas acham que eu não percebo, mas no primeiro dia de aula, quando passei por aquela porta, ouvi os cochichos malvados destinados a mim. Eu sabia que cortar o cabelo e ser diferente que o resto do mundo ia ser difícil. Mas o que vale opiniões vindas de um bando de babaca? Pois é, nada.
Dessa vez, depois da aula, vou até uma praça que fica a algumas quadras do colégio. Sento-me em um galho de árvore baixo ao lado de uma mesa de piquenique. A essa hora tem apenas uma mulher brincando com uma criança. Respiro o ar fresco da tarde. O sol passa pelos buracos entre as folhas e beija meu rosto. Esse lugar me traz boas lembranças. Eu costumava vir com meu pai quando criança para jogar bola e andar de patinete. Agora ele está ocupado demais e só sobraram as lembranças.
Tiro um pequeno pedaço de tecido que carrego comigo para todo lugar, e junto algumas linhas coloridas. Estou bordando ramos verdes e algumas flores. A agulha passa de um lado para o outro formando os pontos, fazendo a mágica acontecer. Em alguns minutos tenho uma pequena e delicada flor laranja no centro. A primeira de muitas ao redor dos ramos verdes.
Faço diversas flores laranja espalhadas uma das outras para, depois, preencher com flores rosas, amarelas e vermelhas. Quando eu estava fazendo umas das últimas florezinhas, ouço alguém se aproximar.
Saya se aproxima segurando a mão de uma criança que olha fixamente para o balanço alguns metros daqui.
- Oi - Ela diz quando trocamos olhares.
Saya está com o cabelo azul preso em uma trança e veste uma calça legging com uma camiseta larga por cima.
Sorrio de volta sem vontade de conversar com a pessoa que me ignorou totalmente no colégio mais cedo. Eu nem sei por que eu estava tão esperançosa.
- Saya, quero ir no balanço- A criança puxa o braço dela e aponta para o brinquedo com os olhos brilhando.
- Tenha cuidado. Estarei olhando você daqui.
Ela observa a garotinha correr até o balanço e acenar alegremente.
- É sua irmã?- Pergunto para quebrar o gelo.
- Sim- Ela diz e aponta para o banco ao lado do galho onde estou sentada- Posso me sentar?
- Ah, claro.
Ficamos alguns minutos em silêncio. Ela observando a irmã e eu bordando as últimas flores vermelhas.
- Você sempre vem aqui?
- É... Eu vinha mais quando criança para brincar com meu pai. Tenho saudades.
-Imagino.
- E você?
- Eu moro aqui perto. A babá da Susie está limpando o apartamento, então eu a trouxe para brincar.
Assinto mordendo o lábio inferior. Eu realmente não sei o que conversar.
Ficamos em silêncio. Acho que nós duas não sabemos o que falar, pois a conversa não flui naturalmente. Talvez ela também esteja incomodada com o fato de não ter conversado comigo no colégio.
- Desculpa por hoje no colégio- Ergo a cabeça surpresa com as palavras que ela acabou de dizer- Queria ter sentado perto de você em alguma aula.
-Ah, tudo bem. - Digo e volto a bordar.
Ficamos em silêncio mais uma vez. A sorte é que eu curto silêncio, então não está sendo tão constrangedor.
- O que está bordando?
- É um pedaço de tecido qualquer- Viro para que ela possa ver a mistura de flores e ramos.
- Caramba Emma. Isso está lindo- Saya cruza as mãos em cima da mesa- Eu queria gostar de fazer essas coisas. Onde aprendeu?
- Minha vó. Eu moro na casa dela, então não aprender essas coisas é meio impossível.
Ela ri. Reparo que seu sorriso é gentil e caloroso.
- Eu adorei.
- Obrigada.
Olhamos ao mesmo tempo para a rua onde um carro diminui a velocidade e abaixa os vidros.
-Papai- grito ao vê-lo.
Sem pensar duas vezes, começo a guardar meus pertences desajeitadamente dentro da bolsa. Quando pego o pedaço de tecido que estava bordando, me lembro de Saya. De repente as flores me fazem lembrar ela. Do sorriso caloroso dela.
- Aqui, pode ficar- Entrego e vejo suas bochechas corarem e um sorriso brotar em seu rosto.
- Sério? Eu posso ficar?
- Pode sim- sorrio de volta.
- Obrigada Emma.
- De nada. Até mais, meu pai está me esperando.
Ela acena atrás de mim e eu corro com o coração explodindo de felicidade para o carro do meu pai.
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Os tons de rosa do meu arco-íris
RomanceOs pais de Emma estão sempre trabalhando e mesmo assim a grana vive curta. Por isso, a garota é obrigada a se mudar para um colégio público onde conhece Saya, uma garota que vive na sombra dos amigos e que sente a necessidade de falar com Emma assim...