Capítulo 44 - Serve um lápis?

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Eu o conheci quando estávamos conferindo o resultado do vestibular na faculdade de administração, precisava de uma caneta para anotar meu número de matrícula e minha classificação, quando vi que do meu lado tinha um rapaz alto e magro. Eu lhe pedi uma caneta emprestada

"Serve um lápis?"

Claro, servia, desde o primeiro contato gostei de seu jeito. Era meio caipira, mas simpático. Acabamos iniciando uma conversa e trocamos os números de telefones. Tinha algo nele que me atraiu muito, talvez tenha sido sua altura, eu tenho um metro e oitenta e três. Sou bem alta para a média brasileira o que sempre me atrapalhou na hora da paquera, não era fácil encontrar rapazes pelo menos alguns centímetros mais altos que eu. Lembro que no ensino fundamental uma professora de edição física me incentivou para jogar basquete ou vôlei, mas naquela época eu não tinha vontade de praticar esportes, por mais que ela tenha insistido eu não quis, se tivesse aceito seus conselhos eu não teria me tornado uma adolescente acima do peso. Eu era cheinha como os rapazes mais educados diziam para não me chamarem por outros nomes menos agradáveis.

Nos encontramos durante o trote da faculdade. Reconhecemos um ao outro quase de imediato mesmo estando com os rostos todos pintados, e ele sem o os cabelos. Conversamos e marcamos nosso primeiro encontro antes mesmo do início das aulas. Nossa primeira vez foi dentro de um Ford KA vermelho. O veículo era apertado para um casal de pessoas altas, porém os bancos reclináveis eram uma beleza. Ele era muito gentil comigo no início, porém com o tempo acabou se mostrando uma pessoa possessiva, queria escolher minhas roupas e com quem eu deveria sair. Isso aos poucos foi minando o sentimento que eu tinha por ele. Até que resolvi dar um basta, porém ele não aceitou o fim da relação. Começou a forçar a barra e intimidar os rapazes que tentavam se aproximar de mim e os caras tinham medo pois no decorrer dos nossos anos de namoro ele começou a malhar, ganhou corpo e massa muscular, não lembrava quase nada o rapaz franzino no início da relação. Ainda por cima ele era bom briga, lutava um tipo de luta francesa que diz ter aprendido com um padre. Eu me vi presa a relação com ele e tive medo de romper pois, ele me fazia ameaças de que se me encontrasse com outro acabaria com a minha raça.

—Não pode ser.

—Não pode ser o que?

—Não pode estar falando de meu noivo, esse não é o homem que eu conheço. Ele é uma pessoa doce e gentil, não posso acreditar que tenha tido esse comportamento com você.

—Quanto tempo tempo tem a relação de vocês?  

—A cerca de um ano.

—Eu vivi três anos com ele e o conheci muito bem, já disse que no começo tudo eram flores, beijos e amassos, porém com o tempo ele começou a mostrar sua verdadeira personalidade. Uma vez ele até me machucou e eu fui parar num hospital.

—Você a que ponto quer chegar, mas só pode estar mentindo.

—Olha, se não quiser ouvir mais, pode ir embora, eu só queria abrir os teus olhos porque você me parece iludida como eu estive por muito tempo.

—Nahuane, meu Rick não é esse tipo de homem.

—Talvez ele não tenha sido ainda contigo, quem sabe por você estar fazendo tudo o que ele quer.

—Ele não me obriga a fazer nada que eu não goste.

—Aí, por Oxalá! Estou vendo que você está muito apaixonada, talvez eu não devesse estar te contando essas coisas, mas não acredito que pessoas como ele consigam mudar.

—Ele não mudou. Rick não é a pessoa que você está descrevendo.

—Ele fez mesmo a sua cabeça, ah, com aquela outra também foi assim, e eu bem que tentei avisá-la, mas ela não quis me ouvir.

O Amor em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora