Tá no inferno, abraça o capeta

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Observo cada canto com cautela, estudando qualquer forma de escapar quando os quatro estiverem chapados demais para notar. O lugar é aberto, os portões sequer parecem poder serem movidos, isso pode ser bom para eu me esgueirar entre tanta gente sem que percebam

William pega em meu quadril, enfia meu celular no meu bolso e volta a mexer na sacola dentro do carro, não me importo em ver o que é. Tampouco demoro a perceber o porquê de ter me devolvido o aparelho, essa porra de lugar não tem sinal de celular.

Dou um passo para ir para dentro da construção, mas sou impedida pelos quatro ao mesmo tempo, quatro mãos me puxando de volta até que Michael feche a última porta atrás de mim. Só então sou liberada para seguir, mas claro, com eles em meu encalço. Kai do meu lado direito, Michael do esquerdo e os outros dois atrás.

— Eu não vou correr. — Reclamo em voz baixa, o suficiente para que ainda me ouçam.

— Eu sei, você não é boa nisso. Além do mais, seria bem estranho correr no meio de todo mundo do nada. — William comenta.

— Isso não preocupada a gente. — O Teletubbies vermelho ri por baixo da máscara, em seguida escorrega seus dedos gigantes pelo meu pulso e os entrelaça nos meus.

Kai faz o mesmo do meu outro lado. Isso é o suficiente para chamar a atenção que eu não queria, que vai me impedir de passar despercebida.

Garotas já começaram a me encarar dos pés a cabeça, caras de nojo e curiosidade por todo o canto. Outros caras com os olhos varrendo todas as minhas curvas para tentar adivinhar o que tenho de especial que talvez também os interesse.

Deus, o que eu te fiz?

— Já está indo embora, Misha? — Olho para trás e vejo Will falando com um garoto um pouco mais novo, com uma guitarra na mão e um piercing na boca — Me encheu o saco para saber onde era e já está indo? Achei que iria tocar hoje.

— Não mais. Você demorou e o povo arrumou um DJ para tocar essas músicas que vocês gostam. De qualquer forma, tive aula hoje e a líder de torcida já encheu a porra do meu saco o suficiente. 

Abro minha boca para tentar dizer alguma coisa, talvez pedir para ir embora com ele, no entanto me dou conta que não adiantaria. Ele deve ser íntimo de William, ficaria do lado deles ou riria da minha cara.

— Demoramos porque a gente precisou vir por uma rota diferente, tinha uma coisa que a gente precisou pegar no caminho e que daria dor de cabeça se achassem com a gente.

Filhos da puta!

O outro garoto olha para mim e revira os olhos.

— Que seja, não parece que vou encontrar o público que eu quero aqui de qualquer jeito.

— Tudo bem, você decide que decide, garoto culto demais. Está cuidando da minha garota certinho?

— Você sabe que eu não deixaria nada acontecer com a sua caminhonete. — Ele responde já indo embora, sem nem mesmo olhar para trás.

— Qual é a do seu primo? — Michael questiona — Parece estar sempre odiando todo mundo à sua volta.

— Ele é meio revoltado com as coisas da família, ainda mais depois que a minha prima morreu e então descobriu que a garota que ele gosta não é exatamente do jeito que ele projetou na cabeça dele.

— Primo, morte...? O quê? — Penso em voz alta e no mesmo instante arregalo meus olhos pela falta de sensibilidade.

Às vezes me pergunto como me formei em comunicação.

— Longa história, mas outra pessoa já escreveu sobre isso, pode ficar tranquila. — Ele me responde com seus olhos verdes vazios, meu estômago revira imediatamente — Obrigado por não falar com ele, o garoto já está com merda demais na cabeça para mais uma preocupação.

Lilith's nightOnde histórias criam vida. Descubra agora