Saco vazio não para em pé

1.4K 122 32
                                    

Tive a sorte de não encontrarem meu pen-drive, tenho todos os meus arquivos nele, e apesar de muito do meu trabalho estar salvo na nuvem privada da agência, coisas sigilosas que consegui em primeira mão, não pode correr o risco de serem roubadas junto do meu laptop que desapareceu.

Esse pen drive eu sempre escondi dentro de um vibrador que eu nunca usei. Podem dizer o que quiserem, mas não é um lugar que as pessoas procurariam.

O desafio foi tirá-lo de dentro do compartimento onde vai as pilhas longe do olhar de Kai, ele não desviou os olhos de mim desde que aceitei fácil demais vir para sua casa.

Ele tem razão, eu quero fugir dele, porém não tão rápido e com um maldito alvo na minha testa.

Gostaria de dizer que estou apavorada, seria normal, mas não sinto nada. Acredito que seja a dificuldade do meu cérebro de processar a enxurrada de problemas me carregando para o bueiro rápido demais. Estou em choque e sem tempo para sentir qualquer emoção que ameace me tirar dos trilhos.

Isso eventualmente me trará problemas, não sentir agora vai me fazer sentir demais depois.

Tenho o escapulário que minha avó me deu enrolado em meu punho, dou um beijinho na cruz dourada cravada dentro do círculo e peço a ajuda daquele que já criei uma dívida enorme pedindo favores.

Faz meses que não paro para rezar ao mesmo um pai nosso, tudo o que faço é chorar por ajuda sem cumprir a promessa depois. Devo estar pagando minha dívida.

— Você é católica? — Dou um pulo quando a voz dele me pega desprevenida logo atrás de mim.

— Deveria ser. — Respondo com a culpa acumulando em meu coração.

— Damon também é. — Ele dá de ombros e me faz recordar do escapulário que senti sobre o peito de Torrance  — Me parece que do catolicismo vocês gostam mais do vinho e do pecado.

— Que porra você quer dizer com isso? — Fico ligeiramente ofendida ao ser comparada com... ele.

— Não se preocupe, estou brincando. — Kai diz sem esboçar o mínimo sorriso — Eu gosto da igreja, realmente é um lugar de paz quando não há tantos fiéis presentes.  — Ele termina a sentença tomando a mochila de minhas mãos.

— E desde quando a paz está no mesmo ambiente que você? Me impressiona nenhum de vocês dois pegarem fogo quando pisam em solo sagrado. — Tento pegar minhas coisas de volta, mas ele não precisa de muito esforço para lutar contra meus apelos.

— Bem, me diga você. Parece não ter queimaduras, ou as esconde tão bem quanto seus desejos sombrios. — Kai puxa de um dos bolsos da minha mochila as algemas pretas de pelúcia que ganhei de brinde junto com o vibrador.

— C-como você pegou isso? — Balbucio como uma idiota, me amaldiçoando por não ter jogado essa merda fora de uma vez.

— Estava procurando por pontos de voz escondidos, ademais, a gaveta do banheiro não é lá um bom esconderijo.

— Por que você trouxe isso?

— Não sei, talvez eu precise te prender em algum momento.

Engulo em seco assim que me pego imaginando o que ele diz, meu corpo estúpido imediatamente reagindo e enviando aquele arrepio gelado que para em meu ventre.

Fecho a cara e cruzo os braços olhando para o gramado verde, certamente minha cara está vermelha de novo, então que ele pense que é de raiva.

Quando ouço ele balançar as chaves entre os dedos, tomo a deixa para analisar a casa. Demoro a reconhecer que é a mesma pela qual passamos  quando ele me levava embora.

Lilith's nightOnde histórias criam vida. Descubra agora